4 de agosto de 2016

Natureza humana...

Vergonha! Vergonha!
Nós, que todo dia
Nos olhamos no espelho
Não nos conhecemos
O nosso olhar 
E a nossa religião
Nos confunde

Pensamos mais de nós
Do que realmente merecemos
Somos a nossa maior ilusão
Não sabemos quem somos
Nem queremos saber

Inventamos para nós 
E vendemos para os outros
Uma ideia, um pensamento
Uma máscara de nossas doidices
Uma segunda natureza
Que chamamos de natureza humana
Vã tentativa de disfarçar 
O animal selvagem e faminto
Que realmente somos


Nos abismos de cada coração
Há uma cobra que dorme
Nas profundezas de nossa alma
Há um vulcão esperando
Por uma oportunidade de erupção

Sob a máscara de bom moço
Há uma arma em punho
E uma faca escondida
Nada do que é humano
Nos é estranho


O mal se esconde
Atrás de disfarces
Promessas e sorrisos

Há tanta escória misturada
Com essa glória
Chamada homem

Sob o calor da pele
Onde o brilho dos olhos
Não alcançam
E as palavras 
Não reverberam
Onde a escuridão
É tudo que há
Na nossa insanidade
Mais absoluta e latente
No tutano dos ossos
Feridos pelas dores da vida
Somos tigres, feras selvagens
Preparadas para o salto fatal
Soldados preparados para a batalha
Aves de rapina voando sobre 
As sobras do sacrifício alheio...
_VBMello

Ilusões...

Ainda iludido com a ventura
Da sua própria bondade
Heroísmo, intenções
Valentia e força de vontade?
Tolinho, bobinho... 
Larga mão, dessas ilusões
Ninguém nunca lhe contou, meu irmão?
É fácil ser um herói de papel
Sentando na frente da TV
E comendo pipoca
Mas no calor da batalha
Quando a fé falha
Quando a depressão vence
O amor não floresce
E as nossas orações
Não são respondidas
Quando ficamos sozinhos
Apavorados e abandonados
Diante da vergonha da cruz
Quando um quarto escuro
E mais nada, é a nossa casa
E a noite é ameaçadora e sem estrelas
E o grito de socorro se perde no nada
Sem ter quem o responda
Ah, meu irmão, meu igual
Entre a luta e a fuga
Na hora mais escura
No tempo de dor e sofrimento
Preferimos a fuga
Preferimos as janelas fechadas
A cabeça coberta
Preferimos dormir
E nunca mais acordar...
_VBMello

Apocalipse...

Oh, horror! Olhem! Vejam!
Morreu a misericórdia
Assassinaram a compaixão
E os cadáveres da verdade e do amor
Jazem apodrecidos, em praça pública
Dinte do macabro espetáculo
Todos viram a cara
Todos lavam as mãos
Todos vão embora
Ninguém diz nada
Ninguém faz uma oração
Ninguém sente falta da verdade
Ninguém sente falta da compaixão
Rompendo o silêncio da indiferença humana
Nas profundezas do céu
Um anjo canta e grita:
O fim vem, o fim vem...
Na terra, ansiosos e preocupados
Ocupado com os seus afazeres
Os homens todos, se fazem de surdos...

Mais eis que um anjo 
Como quem assopra o fogo
Soprou uma trombeta
Num instante, a alma dos homens 
Cheia de ansiedade e medo
Se encheu de trovadas
Raios, vendavais e relâmpagos
Diante dos seus olhos
Revoltaram-se os mares
Sob os seus pés
Tremeu a terra
Um velho anjo triste
Sussurrou ao vento:
O caos, reina... O caos, reina

Diante da hora da verdade
Desesperam-se, sem exceção
Todos os corações
E toda as almas
E as pernas tremem
A boca fica muda
E os ouvidos 
Ensurdecem...

Oh, horror...
No meio da noite
Na hora mais escura 
Soprou o vento norte
Anunciado pelos profetas
E desabou a tempestade
Chegou, finalmente
A terrível e derradeira
Hora da verdade
Esse é o tempo em que
Todas as coisas ocultas
Serão reveladas
O tempo eterno
Onde os arrogantes
Serão abatidos
E os humildes
Elevados

Vejam! Escutem! 
O céu se rasgou em dois
As paredes racharam 
E os corações medrosos
Cessaram de bater

Até as maiores distâncias 
Que as vistas alcançam
Tudo geme, tudo chora
Tudo clama pela morte
Tudo que era sólido
Desmoronou no ar

Dentro e fora da alma... 
Tudo é caos...

Hoje me chamam de pateta
Amanhã, talvez, me chamem de profeta
_VBMello

Felicidade rala e promessas vãs

A vida, meu irmão, é cada um por si
Grita o coro dos egoístas
E a traição, meu irmão
É a arma mais próxima - e afiada
E que corta fundo, o nosso coração
*
Por medo de reconhecer a insanidade
Seguimos a manada desesperada
É tão fácil confundir egoísmos com liberdade
É tão difícil encarar – sem medo
A fatalidade da nossa condição
É tão fácil se render – sem arrependimentos
À crueldade contra os mais fracos
Escondidos nas sombras da nossa maldade
Ditamos regras, estabelecemos padrões
De vida e de comportamentos
Pregamos o egoísmo e esperamos conversões
Formamos um exército de corpos sem alma
Anunciamos salvação ao mundo
Anunciamos uma felicidade rala e barata
Com intenções de fazer a guerra
Pregamos a dissimulação da paz
E nos colocamos de prontidão
O oportunismo a mil
Aproveitando todas as oportunidades
E criando outras tantas
Manipulamos inocentes
Roubando sonhos
Matando esperanças
Falando palavras estranhas
Fazendo promessas vãs
Sempre prontos  
Para travestir de bondade
A feiura do nosso oportunismo
Sim, meu irmão, nesse mundo cão
É cada um por si e Deus contra todos...
_VBMello

Liberdade - a última fronteira da nossa ilusão...

Pesa sobre nós o mal-estar de um imenso fardo
A fardo do medo inconfessado da liberdade
Na religião, na política, e em todas as coisas
Somos escravos de alguma ideologia
A liberdade nos assusta
Estamos sempre correndo atrás de conselhos
Sempre carentes de alguém que nos mostre o caminho
Estamos rodeados de gurus, profetas e salvadores
Estranhamente, tudo que precisamos saber
Está dentro de nós
A verdade nos habita
O reino de Deus está em nós
Sabemos o caminho
Conhecemos o nosso destino
E não desconhecemos a nossa missão
Mas temos medo...
Mas esse medo que temos
Não vem de Deus... Vem de fora
Como uma força maligna, um engodo e uma ilusão
Uma determinação religiosa, política e social
Que se impõe a nós e aos nossos
Como se tivéssemos a obrigação de ouvir
Os gurus, mestres e senhores deste mundo
Com suas rezas, despachos, horóscopos
Boletins econômicos e comícios
Sim, a tudo vivemos de ouvidos atentos
Como se tivéssemos necessidade de guias
Somos iludimos e nos iludimos
Como cegos e surdos
Guiados por outros cegos
E no fim, diante da nossa TV
Comendo pedras transformada em pão
Bebendo nosso refrigerante preferido
Mais mortos do que vivos
E nos perguntando se a vida
É somente isso mesmo
Ligados na nossa rede social
Curtindo e sendo curtido
Jogando nossos joguinhos de merda
Passando o tempo que nos devora
Pensando os mesmos pensamentos
Sonhando em ter algo a mais
Para matar a nossa fome de ser
Batemos no peito, e dizemos
Como que querendo enganar a nós mesmos
Somos livres! Demasiadamente livres...
E no meio disso tudo, não notamos
Nem percebemos, nem queremos saber
A nossa alma, vazia, miserável e desgraçadamente
Se perde num mundo de vícios e determinismos
E o nosso caráter, rápido, vira para nós
Um motivo de horror e de vergonha
Felizmente, somos cegos e burros
Vemos tudo, menos a nós mesmos...
Sim, somos livres...
Demasiadamente
Satisfeitos, felizes e livres

_VBMello

Acenda a sua luz, lute a sua luta...

Veja... Escute... Observe os sinais...
Ouça os rumores, sinta as dores
Um mundo inteiro está morrendo
Não é esse o tempo do fim?
A escuridão anunciada pelos profetas?
A fé agoniza, o amor estertora
A esperança foge desesperada...
Onde está a misericórdia?
Onde se escondeu a compaixão?
*
Em todo lugar
Uma crise se anuncia
Em todos os jornais
Vemos e ouvimos dizer
Alguma coisa sólida
Desmorona, some 
E se perde no ar
Em todo lugar – toda hora
A beleza sofre, agoniza e morre
Mas o mundo, esse rio de fogo
Que consome e seca a si mesmo
Inconsciente da própria miséria
Não quer nem saber
Chavões, rimas de um crime em andamento
Pós-modernidade, morte das coisas velhas
Revolução eletrônica, supremacia da ciência
Geração de maquinas espirituais
Morte da alma, sufocamento do espírito
Construção de um admirável mundo novo
Mil vezes, já escutamos essa história
O velho precisa morrer
Para o novo nascer...
Sim, escute os rumores do fim
Sinta a terra tremer sob os nossos pés
Grita o profeta do novo mundo
Que anuncia saúde, felicidade
Prosperidade, longevidade e paz eterna:
Ei, vejam! Irmãos, este é o melhor dos mundos!
Obra nossa, imagem e semelhança
Dos nossos vazios, cobiças, fobias
Taras, neuroses, medos e caos interior
Sim, este é o tempo da morte da fé
E do esfriamento do amor
O tempo vazio e sem sentido
Que há muito tempo
Fui anunciado pelos profetas
Este é o tempo em que urge
Ressuscitar o amor, a fé e a esperança
Este é o tempo de escuridão e dor
Que convoca, implora e convida
Todos os homens e todas as mulheres de boa vontade
A acenderam alguma luz no meio da escuridão
Sim, este é o tempo em que cada um é chamado
A ser um candeeiro em cima de uma montanha...
Ouça os rumores, ouça os gritos, sinta a dor...
Acenda a sua luz, lute a sua luta...
_VBMello

Dentro e fora da nossa alma...

Numa época de desafios sem fim
Dentro e fora da nossa alma
Num mundo de coisas
Que assombram e estarrecem
Aborrecem e estremecem 
Há tantos caminhos para a fuga
Tantos esconderijos para o medo
Há tantas coisas sem explicação
Tanta dor e lágrima reprimida
Tanta ameaça, tanta trapaça
Que – para sobreviver
Para não enlouquecer
Fingimos não ver
O nosso coração
Conhece e sabe
A nossa alma
Sofre e sente
Sabe, mas finge não saber
Sentimos, mas fingimos não sentir
*
Esgotados pela ansiedade
Esmagados pela angústia
Açoitados pelo desespero
É tão conveniente
Não saber
É tão fácil
Lavar as mãos
É tão fácil
Virar as costas
É tão fácil correr
Fingir de fraco
Abdicar da luta e morrer
É tão fácil 
Fingir que não quer viver
Na tentação do desejo de não saber
É tão fácil 
Se perder e morrer
É tão fácil 
Correr e gritar: Não quero nem saber!
É tão fácil dormir e nunca mais acordar
É tão fácil, sem pensar 
Seguir a sina, o caminho
O desgosto e o destino
De um homem medroso e covarde...
_VBMello

6 de abril de 2016

A nossa sina...


Nosso mundo, nossa vaidade, nossa ilusão, nossa fantasia, nossa escuridão, nossa sina... Assim é, assim sempre foi, assim sempre será... Amarrados pelas mentiras que os nossos pais nos contaram, e acorrentados pelas mentiras que nós mesmos, que coisa estranha, como se fosse fácil enganar o próprio coração, contamos para nós mesmos... Entre a glória e a escória, seguimos os passos dessa estranha humanidade desumana, tropeçando aqui e ali nos abismos desse mundo que jaz na maldade e se afoga na lama das suas próprias mentiras.


Ah, Deus... Num mundo de faces desgastadas e cansadas, que insiste em usar máscaras de triunfalismo e felicidade, cheio de almas em declínio, indiferentes habitantes ocos de uma ilusão em constante erosão, algumas coisas, por estranho que pareça, nunca ganham nitidez, por mais que a luz brilhe...


Temos olhos, mas não enxergamos. Temos ouvidos, mas não escutamos... É a nossa sina. É a nossa sorte... Vivemos um tempo difícil para quem tem coragem de olhar a realidade cara a cara... Melhor virar a cara, melhor fingir de surdo.


Então, inconscientes dessa nossa louca e fingida cegueira, perdidos nas nossas ilusões, reclusos, talvez escravos, de uma verdade que inventamos para tentar justificar a nossa degradante situação, ou convencidos por algum ser maligno, que sutilmente toma posse e preenche os abismos do nosso coração, e que dia a dia, nos estimula mais e mais a fome de vaidade e disfarça a nossa surdez e o nosso pecado, inventamos uma luz artificial para tudo, e mascaramos de luz a nossa imensa e fria escuridão...


Com as cores da nossa ilusão
Pintamos a nossa escuridão
Contornamos o incontornável
Assinamos a ilusão com o nosso nome
Fingindo que somos seres de luz
Maquiamos o caos
Fingimos uma felicidade
Que não conhecemos
Sob uma montanha de comprimidos
Escondemos a ansiedade e sufocamos a depressão
Viramos a cara, andamos noutra direção, e lavamos as mãos
Oh, horror... Todo dia, ratificamos perante o céu, a nossa perdição... Ainda temos uma alma?


Mas a nossa imitação de luz 
Não chega para iluminar
As profundezas da nossa alma
Nem sequer serve para
Aquecer a nossa alma
Menos ainda, para incendiar
O nosso pobre coração...


Na face, coisa estranha, fingimos verão, mas na alma - Quem pode dizer que não? - Sofremos as dores dos dias de inverno e o medo das noites de escuridão...


Longe de Deus / longe do céu
Longe da razão / longe de tudo
Criando paraísos artificiais
Destilando veneno contra tudo
Demonizando tudo que é diferente
Fingindo um amanhã que nunca virá
Escondendo uma carta na manga
Mas a nossa carta na manga
O nosso ferrão
O nosso mundo 
O nosso veneno
Sempre, de um modo ou de outro
Alcança sempre o nosso próprio coração
E a nossa ideia de vida nova
A oportunidade que esperamos
Para virar a mesa e recomeçar
Deus sabe... Deus sempre soube
É só mais uma ilusão entre tantas ilusões...


E apesar de tudo, e de todas as máscaras inúteis que forjamos para esconder a nossa triste condição, apesar de todos e paraísos artificiais que inventamos para alimentar as fomes da nossa alma, permanece ainda, e não poderia ser diferente, por tempo indeterminado, a nossa prisão, as nossas algemas e nossa tosca ilusão de fé, amor e liberdade...
_VBMello


Sem rumo...











Há tanta tristeza no ar
Tanto mal-estar
Escapa-nos, todavia
A causa de tanta dor
Sofremos, e isso é tudo
Sofremos por hábito
Sofremos sem fazer perguntas
Nossos pais nos iniciaram nessa via dolorosa
*
Sob a sombra de uma árvore
Em profunda luta interior
Alguém gritou um dogma: Viver é sofrer!
Aconteceu um parto
Mais uma gravidez chegou ao fim
Nasceu mais uma religião
Começou mais uma escravidão
Declinou ainda um pouco mais, a razão
Sob o sol e sob a chuva, estômagos roncando
A terra chorando, multidões de proscritos 
Famintos de pão espiritual, vagam em procissões
Rumam incertos para o deserto
Convertidos ao dogma da dor
Devotos de mais um ídolo, infiéis da razão
Trocando os pés pelas mãos
Sofrendo e fazendo sofrer...
Param diante de um monte
E no monte há uma cruz
E na cruz alguém grita: Eli, eli, lamá sabactani
E a terra estremeceu, e até a luz escurece
Cristo morreu... Era para ser um dia de salvação

*
Mas a esperteza viu na salvação
Uma oportunidade de negociar a eternidade
Uma nova religião para um velho império
E a nova religião e o mundo
Somando a dor com a ilusão
Roubando o tempo, criando templos
Comendo a carne e chupando os ossos
Prometendo a eternidade a velhos na idade
E meninos e crianças no coração
Multiplicando crenças e cobiças
Assinaram embaixo e disseram: 
Assim é, assim sempre foi - Viver é sofrer!
*
Mas há um verme dentro de nós
Uma coisa terrível... 
Uma incredulidade
Um mal-estar
Um arrependimento vago
Um monstro faminto de vida
Que rói, corrói e tempera com fel
Os nossos sonhos e as nossas ideias
Uma rebeldia domada 
Um grito de guerra, um dedo em riste
Contra toda forma de dominação
*
Diante desses deuses inventados
Esses ídolos esculpidos no coração e nos rins
Renascem sempre as mesmas perguntas mortas
E revive o velho grito entalado na garganta
Nós sabemos, nós pressentimos... Sim! Nós sabemos
Nesses bancos vazios e louvores decorados
Há um tédio que nos contempla e zomba
*
Fugimos, diante desses deuses inventados
A fé, a nossa fé, agoniza e morre
Como uma semente que não germina
Em cada palavra dita, repreendida
Pelas maldições de mais um culto sagrado
Ameaça uma blasfêmia escapar
Mas há um medo que desconfia 
E nos faz calar e pensar
Que a vida que agora vivemos
Poderia ser outra vida melhor
Se alguém nos levasse de volta
Até o antigo Gólgota...
*
Fartos de Sinai, amante de Agar
Pisoteados e sedentos de alguma verdade
Onde ninguém vê, sabe ou sente
No meio da noite insone
Um incêndio e um verme corrói a nossa fé
Uma voz grita, mas ninguém acredita
Voltem ao Gólgota! Há uma só porta
Há um só caminho, uma só verdade
Mas depois de meio século 
Esperando uma voz do céu
Ninguém quer mais saber
Ninguém quer ouvir
E todos nós, sem exceção, morremos
Antes de encontrar a saída...
*
Porque– oh, horror! – a nossa alma
Sim, a nossa alma – nós – sim, nós...
Cegos e surdos dos caminhos da vida
Nós, pobres miseráveis... querendo, ou não
Sem pensar, só porque leu num livro
Só porque escutou alguém falar
Cega e surda, acredita em tudo que ouve 
E também – ao invés de tomar o caminho da Verdade
Por pura incapacidade de calar
Se põe a falar, novo convertido
Ministro de coisa alguma, religioso, místico
Missionário de mais uma estupidez
Propagador dos mesmos enganos, engôdos e venenos
*
E nós, os fornicadores das dores da vida
Nós que nunca viramos a cara
Diante da nudez do corpo e da alma
Nós, insistentes errantes da existência 
Nós, que esquecemos tudo
E não aprendemos mais nada
Paramos diante da porta desse abismo
E a nossa alma, acostumada a sofrer
Não estremece mais... perdeu o medo do fogo
Tornou-se também, incendiaria dessa ilusão
Perdeu-se dos caminhos da vida
Renegada pelo pai e pela mãe
Zombada e odiada pelos irmãos
Encolheu-se num canto, em oração
*
Ah, a nossa alma, nossa alma... 
A nossa pobre e miserável alma...
De tanto sofrer, de tanto morrer e renascer
De tanto ouvir não, do céu da terra e do coração
Foi condicionada a pensar – cheia de revolta
Diante de tantos descaminhos e caminhos sem volta
Que a conversão a essa morte, é a única saída... 
Desse beco sem saída, a vida
_VBMello