15 de maio de 2013

Imagem e Semelhança de Ícaro...

Ainda outro dia, cansado e prostrado num canto qualquer da vida...

Olhando saudoso o azul do céu, quase que implorando de volta as asas que me foram tiradas...

Porque feito Ícaro, eu também voei alto demais, longe demais, e perto demais do sol escaldante...

Mas o sol é um monstro terrível demais de se olhar direto nos olhos quando suas asas são feitas de cera, quando não são asas de verdade, mas só de intenção de voar.

O calor inclemente do sol não perdoa quem tenta alcançar a liberdade voando – ou fugindo – pela imensidão infinita do céu, com asas de mentira...

Ah! Mais eu nem pensei nisso quando me lancei do penhasco da minha prisão.

Ai de mim!

Como Ícaro, as minhas asas também eram frágeis e ingênuas asas de cera, asas para voar baixo, asas de mentira, asas de papel, bolhas de sabão.

Não eram asas para subir às alturas infinitas do céu, mas asas fracas e inábeis para enfrentar as tempestades das noites escuras e o céu azul das manhãs ensolarada de verão.

Asas postiças, asas provisórias e sem ousadia e força suficiente para enfrentar o chamado das alturas, ferramentas engenhosas de um arremedo de fuga apenas, nada mais...

Asas que era melhor não ter, porque não eram asas para voar de verdade.

Mas para que servem essas asas que voam tão baixo, quando o céu acima de nós é tão vasto, tão imenso, hipnótico e convidativo?

Esqueci que minhas asas eram apenas asas de fuga, acreditei-me pássaro.
Voei alto... Acima das nuvens, perto do sol escaldante.

Por um breve instante – quem precisa de mais que um breve instante para ser livre?

Por um breve instante, se sonhava não sei dizer, voei de verdade...

Enquanto o sisudo sol arrancava-me as penas das asas denunciando minha mentira de voar, entreguei-me indiferente aos horrores da queda, às antigas fantasias do meu tempo de criança quando olhando os pássaros voando no céu azul, quis juntar-me a eles.

Por fim, despenquei no vazio entre o céu e a terra...

Pois não sou pássaro, embora tenha sonhado por um breve instante ser...
V.B.Mello.
Setembro de 2011.

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