Olhando saudoso o azul do céu, quase
que implorando de volta as asas que me foram tiradas...
Porque feito Ícaro, eu também voei
alto demais, longe demais, e perto demais do sol escaldante...
Mas o sol é um monstro terrível demais
de se olhar direto nos olhos quando suas asas são feitas de cera, quando não
são asas de verdade, mas só de intenção de voar.
O calor inclemente do sol não perdoa
quem tenta alcançar a liberdade voando – ou fugindo – pela imensidão infinita
do céu, com asas de mentira...
Ah! Mais eu nem pensei nisso quando me
lancei do penhasco da minha prisão.
Ai de mim!
Como Ícaro, as minhas asas também eram
frágeis e ingênuas asas de cera, asas para voar baixo, asas de mentira, asas de
papel, bolhas de sabão.
Não eram asas para subir às alturas
infinitas do céu, mas asas fracas e inábeis para enfrentar as tempestades das
noites escuras e o céu azul das manhãs ensolarada de verão.
Asas postiças, asas provisórias e sem
ousadia e força suficiente para enfrentar o chamado das alturas, ferramentas
engenhosas de um arremedo de fuga apenas, nada mais...
Asas que era melhor não ter, porque
não eram asas para voar de verdade.
Mas para que servem essas asas que
voam tão baixo, quando o céu acima de nós é tão vasto, tão imenso, hipnótico e
convidativo?
Esqueci que minhas asas eram apenas
asas de fuga, acreditei-me pássaro.
Voei alto... Acima das nuvens, perto
do sol escaldante.
Por um breve instante – quem precisa de mais que um breve instante para ser livre?
Por um breve instante, se sonhava não
sei dizer, voei de verdade...
Enquanto o sisudo sol arrancava-me as
penas das asas denunciando minha mentira de voar, entreguei-me indiferente aos
horrores da queda, às antigas fantasias do meu tempo de criança quando olhando
os pássaros voando no céu azul, quis juntar-me a eles.
Por fim, despenquei no vazio entre o
céu e a terra...
Pois não sou pássaro, embora tenha
sonhado por um breve instante ser...
V.B.Mello.
Setembro de 2011.
Nenhum comentário :
Postar um comentário