16 de maio de 2013

Não Chore...

Se te iludiram dizendo que os sonhos não morrem...
Não chore...
Hoje morreu mais um sonho meu...
Mas não chore.
Há alguma felicidade nisso...
A felicidade de saber que os sonhos também morrem...
a felicidade de perder a ilusão...
Não! Não acredite em quem te disse que os sonhos não morrem.
Eles são tão frágeis como as flores.
São frágeis bolhas de sabão que emanam do nosso coração incerto...
Tão incertos como a paixão...
Envelhecem,
Adoecem,
Esquecem,
Enfraquecem,
Empobrecem,
Viram delírio...
E finalmente seguem pelo caminho natural das coisas humanas, morrem...
E não apenas morrem, mas morrem esquecidos, como se nunca tivessem existido.
Jamais acreditem em quem diz que os sonhos não morrem...
Pois eles morrem...
Quando um homem morre, morre nele um mundo de sonhos jamais realizados...
Quando os sonhos morrem, alguma coisa no coração do homem é abortada e vira fantasma que aparece nos seus sonhos, e o persegue...
O sol se punha devagar, uma brisa morna soprava as folhas das árvores, quando eu senti a alma esvaziar-se...
Não, não foi nada demais.
Não chore.
Não foi nada.
Era somente mais um sonho morrendo no fundo do meu peito.
Mas não chore.
Não há motivos para chorar...
Era só um sonho...
Pois há sonhos que já nascem mortos.
Violentada pelo aborto onírico...
Minha alma agitou-se e entrou noite adentro ferida pela perda de um pedaço seu.
Mas não chorou.
É que não lhe restavam mais lágrimas para chorar...
Porque quando os sonhos morrem...
O coração seca...
Mas engana-se quem pensa que é necessário ter lágrimas para chorar...
São tantos os modos de chorar, e a maioria não necessita de lágrimas.
Quem foi que te disse que os sonhos não morrem?
Tudo que é humano morre...
Quem foi que disse que homem não chora?
Tudo que é vivo chora...
Ah! Os sonhos quando morrem deixam feridas abertas no espírito que doem mais que as feridas abertas na carne.
Às vezes, quando estou sozinho no meio da noite, como mãe que chora seus bebês recém-falecidos, eu choro escondido meus sonhos mortos...
Porque a minha alma - quem me vê sorrindo assim não sabe -, não é feita de jardins ensolarados e floridos...
A minha alma é feita da aridez dos desertos...
A minha alma é um sombrio cemitério de sonhos mortos...
Sou habitado por fantasmas que me buscam em sonhos...
Mas não chore...
Porque eu sei que um dia, talvez amanhã de manhã...
Quem pode dizer que não?
Todas as coisas velhas passarão num instante...
Talvez não dure mais que um piscar de olhos...
Não sabes? Não lhe contaram?
A ressurreição é mais rápida para acontecer que a morte é rápida para morrer...
E então, é por isso que eu não choro, até mesmo os meus sonhos mortos se levantarão dos seus túmulos e voltarão a povoar o meu coração...
Quem pode dizer que não?
Talvez amanhã pela manhã...
Quem pode dizer que não?

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