3 de agosto de 2013

Erupção de vida...

Rápido,frio como o vento
Sem avisar, portando dores
Passaram-se os dias
Escoram-se os meses
Passou mais um ano
No peito fraco e trêmulo
As esperanças dormem
Aguardando ressurreição

Eis, pois que nasceu mais um dia
E nele há muita luz e fogo
Como no primeiro dia da criação

Nasceu e morreu ensolarado
Dentro da minha alma, porém
Sem que ninguém visse
Sem que ninguém suspeitasse
Passou abortado
Gemendo de solidão
Frio, triste e escuro

Chegou o verão
Mas dentro da alma
Ainda é inverno

Um novo ano
Acabou de começar
Mas no espírito
Tudo ainda é velho
Tudo está inacabado

Reina ainda a tristeza 
Dos sonhos impossíveis

Nas profundezas escuras da alma
Ainda sofro da dor e a frustração
Das sementes que nunca germinaram

Ainda sofro a saudade 
Das palavras ausentes

E o medo e a dor da escuridão
Dos olhares tristes e maliciosos

Lá fora, nos galhos das árvores
Os pássaros cantam e saltitam
Louvam o sol e o amanhecer


Cá dentro do peito
Nas profundezas da alma
A vida sofre e agoniza...
Agoniza a alma vazia
Cheia de dor e horror

Refugiado sob o céu sem estrelas
Escondido na noite fria
Sem sonhos e sem palavras
Tendo apenas o silêncio
Por amigo amável e fiel
Gasto os dias esperando...

Esperando a espera do mundo
Observando a inocência, o medo
E a paciência da terra
Que não treme, nem vacila
Diante da eternidade
Pois nada sabe de si ou do céu
Esperando as sementes germinarem
E as flores ainda outra vez
Brotarem nos jardins da alma
Esperando passar o verão 
E desaparecer o inverno
Até a primavera chegar
Esperando o dia de renascer  

Mas para o coração triste
A leveza da primavera
Não virá esse ano

Para esse ano, o coração desconfia
Ao invés da colheita de flores
Colheita de dores e espinhos
Ao invés de dias ensolarados
Noites frias e profundas
Ao invés de ânimo
Agonia e tristeza

Sim, apodera-se de mim
Uma estranha agonia
Que é mais raiva do que vazio
Que é mais decepção do que raiva
Uma agonia que é arrependimento

Um vazio, uma raiva e uma tristeza
Exército de hordas demoníacas
Ecos de antigos e raivosos gritos
Gemidos de sonhos mortos
Amores e filhos paridos
Com remorso, tristeza 
E urros de arrependimentos

Um demônio que me vista 
Na tristeza da viração do dia
E traz consigo a dor e o vazio
Das palavras que não germinaram
Sim, O meu peito está cheio delas
Feras domesticadas, flores murchas
Destinos abortados
Sombras e revoltas
Lapides sombrias 
Sepulcros de vidas roubadas 
Inspiração desperdiçada

Palavras vivas
Porém, aprisionadas
Palavras acorrentadas
Um exército de milhares delas
Esperando o dia do desabafo
Esperando o momento da erupção
Esperando a hora do grito
Do choro e da ressurreição

Por laços hereditários
Como uma fera calada
Sou domado com cabrestos de agonia

Matam-me,oh, minha mãe, os sonhos
Ferem-me, oh, meu pai
Seja lá quem você for
As esperanças todas

Reduziram-me a um canto
Um quarto, um vazio
Que também é a minha cela
O meus lugar de oração e meditação

Sim, apesar da dor 
Apesar da escuridão
Há em mim um deserto
Que floresce sem ninguém ver
Uma fonte de vida e graça
Que nasce sem ninguém suspeitar

Sim, há uma angústia e uma dor
Que eu disfarço com sorrisos
E caretas de alegria

Há um cavalo selvagem
Uma besta indomável
Que anseia por campinas distantes Céu azul e horizontes verdejantes

Mas, oh, horror
Apoderou-se de mim
Fria como navalha
Pesada como a pedra
Uma corrente de morte
E um laço foi posto no meu pescoço
E as minhas mãos, pela minha mãe
Foram amarradas. Fui deserdado
Chamaram-me, agora, gadareno

Com orações e rezas 
Com pragas e maldições
Exorcizaram-me 
Do mundo dos homens
Fizeram guerra contra a minha alma
E mataram a minha poesia

Impuseram-me, uma escravidão
Condenaram-me à angústia
Das palavras mortas
Expulsaram-me para o deserto
Dos sonhos mortos

Mas, coisa estranha
Eu ainda sonho
Sim, eu ainda sonho!

Nas profundezas da minha alma
Contra tudo e contra todos
Eu ainda sou livre
Eu ainda estou vivo... 
Eu ainda tenho esperança

Longe das palavras faladas
No silêncio da agonia
A poesia ainda é poesia
Ainda germina, ainda floresce

Onde tudo morreu
Para decepção dos assassinos
Alguma coisa floresce
Alguma vida ainda resta
Onde tudo desabou
Eu não desabei junto
Eis, portanto, um milagre

Há ainda uma rebeldia em mim
Uma força que eu não sei explicar
Uma força que não quer parar
Sim, há uma angústia
Querendo entrar em erupção
_VBMello











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