...Deitei-me para dormir e tive um sonho ruim
Lembro-me como se fosse hoje
Havia algo de inominável no ar
Entre tantas ausências, uma presença
Que eu, mesmo forçando as vistas
Não sabia quem ou o que era
Atordoado e assustando
O coração mentiu - mais um vez
Para si mesmo: É o vento
Ou um raio de luz
Que vindo não sei de onde
Penetrou a escuridão
E assustou a consciência
Sempre culpada...
Todavia, alguma coisa em mim
a verdade, talvez, pressentia
Naquela presença repentina
Talvez..., um sonho, insiste o coração
Uma força terrivelmente opressora e aniquiladora
Não, não era um sonho... Também não era um anjo
Talvez..., quem sabe... um fantasma, sussurra o coração
Homem, anjo ou fantasma, não sei dizer... creio que não
Tudo que sei é que um sentimento incerto
Desses de medo e pavor
Desses que acontece de repente
Envolveu todo o meu ser
E meu corpo estremeceu de alto a baixo.
Oh, Deus... Certamente algum ser maligno, pensei
Desses que em eras muito distantes
Nos remotos confins entre o céu e a terra
Já foram anjos, estava prestes a acordar
De seu sono de latência... Não dormi mais aquela noite
E ainda hoje, quando me lembro, não durmo
Anjo ou demônio, que criatura era aquela?
Seja o que for - ou o que não for
Anuncia algum caos nas profundezas da alma
Num momento de descuido
As trevas encontraram uma brecha na luz
E, assombração ou não, atravessaram o meu coração...
É difícil dizer com certeza se eu estava acordado ou se sonhava,
mas de repente, não mais que de repente, eu vi diante mim um abismo aberto, de
cujas profundezas incandescentes das chamas do inferno, no meio duma densa
fumaceira sulfurosa, surgir para me devorar o coração, sempre um traidor, uma
antiga serpente cuja alma era negra como o carvão. Acho que acordei... Ou fui
arrastado para outra dimensão do sonho, chamada de pesadelo.... A noite se
encheu de trovoadas e a explicação de tal enigma onírico, não se fez tardar. E
o que eu tinha medo, aconteceu... De repente, tudo ruiu. Mas não apenas
desabou. Desabou em cima de mim e me machucou (e a outros, machucou também).
Quebrou-me alguns ossos, acho que as pernas, pois não conseguia mais, por mais
que eu tentasse, me levantar sozinho...Quem podia me entender a mão,
covardemente me virou as costas, então eu fiquei sozinho no pesadelo. Soterrado
pelos medos de minha própria alma, gritei por socorro, mas ninguém me
socorreu... O mais incrível de tudo, é que aos meus olhos, tudo aconteceu sem
qualquer aviso prévio. É claro, havia sim algumas rachaduras numa ou noutra
parede, mas no meu modo de compreender, nada de muito grave. “Um
problema simples - eu pensava – que qualquer dia irei resolver.” Claro
que havia necessidade de fazer os tais reparos. “Uma boa pintura
na fachada, uma boa limpeza nos porões e fica tudo novo, tudo 100%.” Eu
pensava. Terrível engano eu cometi pensando assim! A casa toda fora construída
sobre a areia... Então, um dia, acho que foi no fim da tarde. Sim, foi no fim
de uma tarde de terça-feira. Era noite de lua cheia e o demônio estava solto,
só pode. Pois o que aconteceu não se explica de outra maneira. O céu estava
claro, não havia nem uma nuvem a encobrir o brilho cintilante das estrelas, que
já começavam aparecer aqui e ali, iluminando a imensidão do firmamento. O tempo
permanecia firme, não ventava e não havia nenhuma previsão de chuva. Quanto a
mim, tudo que posso dizer é que eu estava muito tranquilo e feliz. Uma música
doce inundava a minha alma e eu sorria feliz, quando então... Deus meu! Tudo
veio abaixo...
Olhei fixamente a luz do sol, e perdi para sempre as vistas, agora
queimadas pelo clarão da luz que tanto me fascinou.
Não houve estalos nas paredes
Não houve estrondo no céu
Tudo estava normal, tranquilo
Lá fora, como sempre
Alguns pássaros gorjeavam
O silêncio a tudo inundava
Com sua paz e serenidade
Então, de repente, enquanto eu dormia
Tudo desabou... ao longe, o diabo gargalhou
Foi como se um terremoto sacudisse a terra sob meus pés
E tudo desabou sobre mim. Fiquei perplexo e aturdido
Não tive tempo de fugir... Toneladas de escombros
E ressentimentos desabaram sobre a minha alma
Num instante, eu fui soterrado sobre os escombros
Dos meus próprios sonhos... Perdi tudo
E meu corpo agora é uma ferida só
Até agora, não sei como escapei com vida daquilo tudo
Todavia, alguma coisa em mim, morreu e nunca renasceu
Nunca imaginei que a coisa pudesse chegar a esse ponto
Atordoado pela visão desdita de tanta destruição
Não pude controlar as lagrimas, que me vieram aos olhos
Caí em desespero... Desfiz-me em prantos... Que ironia
Eu pensava que meu barco navegava tranquilo
Em direção ao norte verdadeiro, mas afundava
Sim, afundava, e eu não sabia, nem pressentia
Num instante apenas, sem aviso
A casa da minha alma, os meus sonhos E as minhas esperanças
Desmoronaram em um abismo de desesperança, sem meio-termo.
Que tragédia! Que tragédia! E, no entanto, coisa
estranha... Eu sobrevivi. Contudo, não sei se posso pagar o preço
dessa sobrevida
Eu sei que agora é tarde, mas eu queria que fosse cedo, de manhã
bem cedinho... Ah Deus! Como o dia escureceu rápido, e a noite se tornou
de repente tão fria e tão escura... O que me fazia feliz, não faz mais. A dor
da perda me aperfeiçoou na arte de morrer sem reclamar...
Uma profecia cumpriu-se pela metade... Mas nem por isso se pode
dizer que era uma profecia falsa... Mas sim, uma profecia interpretada de modo
errado. Agora eu sou aquele que ninguém sabe quem é; um mistério que ainda não
foi decifrado...
Pobre de mim... Via a aparência, mas não via a essência das
coisas. Via a ilusão, mas não enxergava a realidade, e nisso tudo quem me via e
me enxergava, não posso negar, era o caos que se aproximava...
... Agora, porém, e eu já começo a ver algo mais do que a
superfície das coisas. A dor tornou-me mais atento aos detalhes... Nada
mais me escapa. Vejo o significado e o sentido das palavras ocultas pelo som
das palavras proferidas...
No amargor da minha queda, tornei-me outro... Perdi a inocência...
Já faz muito tempo que deixei de olhar para a aparência das coisas. Não olho
mais nada a olho nu. Um ladrão olha e vê a bolsa de uma mulher, um tarado vê as
suas curvas, um aproveitador vê o seu dinheiro... Mas todos são míopes... E eu
que não sou nem ladrão nem tarado, não vejo nem bolsas nem curvas, mas busco
ver a alma, a essência, o lugar onde se desenrola silenciosamente – ou nem tão
silenciosamente assim - a tragédia secreta da natureza humana; vejo com mais
clareza do que o ladrão e o tarado...
Envolto pelas trevas, encontrei a luz... Tão fácil se tornou
agora, desde que a dor abriu os meus olhos, ver o outro com os olhos do coração
e deduzir os segredos ocultos do seu íntimo. Nada me escapa... As emoções
subliminares das suas cobiça, os desvios no som da sua voz que denuncia invejas
e segredos inconfessados... Nada me escapa... O asco da existência, os gostos e
os desgostos, a vontade de dormir e nunca mais acordar... As mentiras
escondidas atrás das verdades sacrossantas, e os fins submersos dos atos e
olhares... Nada me escapa.
Ah! Isso não é bom... Isso é terrível. Em cada pessoa que
encontro, eu vejo um livro aberto. Ah! Deus meu... Como é grande o número de
palimpsestos espalhados pelas páginas desses livros, mais ainda, como é
infinito o número de páginas em branco, sempre ansiando por alguém que escreva
qualquer coisa nelas...
Às vezes, vejo tanto ou mais do que queria ver, que sou obrigado a
desviar os olhos, pois já não sei mais ver e ouvir sem desnudar a alma de quem
ouço e vejo. Ao invés de ver um homem ou uma mulher andando de um lado para
outro, vejo a sua alma. “Vejo” seus órgãos internos, o pulsar do seu coração, a
pressão da sua bexiga, o feto se formando dentro do útero, os excrementos no
intestino, o inflar dos pulmões, os ossos, as secreções, nada me escapa... Da
mesma maneira “vejo” seus pensamentos escondidos embaixo de outros pensamentos,
vejo intenções ocultas embaixo de intenções aparentes. Vejo mentira nas
verdades reveladas... Vejo uma torrente inconsciente de vida e morte
fluindo enlouquecidamente embaixo de uma máscara chamada consciência. Vejo a
subjetividade da vida lutando para escapar ao abraço da camisa de força da
razão, da lógica e da “verdade.” Ouço o eco de vozes distantes, demônios
hereditários, que fazem com que os filhos herdem as maldições dos pais. Sinto a
latência dos adultérios, a sementeira da mentira, e a dor da prostituta...
Vejo medo, coragem, perdão, vingança, assassinado, desespero e
morte. Vejo memórias, falsas memórias e vejo amnésias... Pois a alma do nosso
tempo, é um pandemônio de demônios controladores e imitadores...
As palavras passam através de mim, mas eu retenho a intenção
delas... Eu sinto de longe a ansiedade do coração culpado. Nada escapa a quem
tem olhos para ver, de modo que mesmo a mentira, é só mais uma maneira de dizer
a verdade...
Tudo na vida está carregado de improbabilidades. A incerteza, a
dúvida e a desconfiança permeiam e fluem permanentemente através dos
nossos sonhos e projetos. Nas coisas humanas - tão desumanas - nada está
garantido. Mesmo a casa construída sobre bom fundamento pode ruir de um momento
para outro e tudo que foi planejado pode tomar um rumo oposto à nossa
vontade... Somos todos joguetes do destino.
Pobre alma minha, às vezes desconfio que ela nutre um profundo e
secreto sentimento de ódio contra mim. Certamente que somos inimigos um do
outro. Já faz tanto tempo que somos assim, que já não alimento mais a ilusão de
que um dia ela reconheça que o seu ódio por mim, nada mais é que a projeção de
seu ódio por si mesma. Alma louca! Talvez, qualquer dia desses, num surto de
loucura, ela perca de vez o juízo e avance contra mim a fim de me arrancar ao
menos um olho, ou talvez, quem sabe, até amputar-me a mão direita.
Como está envelhecida a minha face! Como está triste o meu olhar!
Como secou depressa a figueira! Ah, meu Deus!O ar está saturado de
profanações... Isso não sou eu. Pobre Adão, o rei do Éden agora vaga moribundo
pelos cantos escuros e solitários da terra. Aquele que era senhor de todos os
animais da terra, do céu e do mar, agora sequer é senhor de sua própria alma...
Profunda é a sua melancolia, insuportável é o seu desespero... Sua vida agora é
a vida de Jó. Maldita serpente!
Perdido para sempre dentro de um mundo sem cor, vazio, perturbado
e em constante erupção. Um mundo perdido dentro de muitos outros mundos, que
não germinaram para a vida... Um mundo repleto de infernos e demônios, mas sem
nenhum paraíso, sem a visitação de algum anjo. Sim, eis a resposta para a
pergunta que ninguém ousou fazer: O inferno contém em seus abismos muitos
outros infernos piores do que ele. Um Big-Bang da alma... Uma explosão de
destruição e morte para os velhos mundos e de tudo e tudo que neles há... Sim,
eu ainda tinha alguma esperança na vida, e a minha esperança era que o inferno
em que eu me encontrava fosse apenas o primeiro degrau da imensa escadaria que
leva ao céu. Ou alguém tem duvidas que aquele que governa o céu, governa também
o inferno? As chaves da morte e do inferno pertencem ao Deus que se assenta no
trono do céu. O Senhor da vida é também o Senhor da morte.
Vê tu um homem que caminha direto para o inferno? Conhece a mente
de Deus? Já lhe sondou o coração? Então porque dizer que o tal indivíduo que tu
vês tão de longe e tão rapidamente, caminha para o inferno? Bem pode ser o
contrário - isso é -, tu que pensas estar a caminhar direto para o céu, sem
saber, encontra-se caminhando direto para os abismos do inferno. Duvidas? Quem
pode saber? Quem conhece a mente de Deus? Quem conhece os destinos e os dias
futuros? Não seria a escuridão da angústia o princípio da luz de Deus? Quarenta
dias e quarenta noites... Quanto tempo ainda até o grande Big Bang da alma?
Dentro de mim, onde ninguém vê ou sente, tudo se fez escuridão. e
mesmo assim estou em grande luz... A dor era tanta... A perda me pareceu tão
grande... dois sepultamentos no mesmo dia. A ira, a fúria... Diante dos meus
mortos, meus demônios interiores andaram na superfície da minha pele...
Tornei-me outro, estranho até para mim mesmo... E um selvagem para todos os
outros... A minha consciência, como se eu fosse um bêbado da existência, se
expandiu tanto que se diluiu no nada da existência, tornando-se consciência do átomo,
e na sua dissolução, retraiu, alterou e deixou de existir, e na sua retração
dissolveu-se o mundo e o universo inteiro... Agora - miserável homem que sou -
a minha existência, a existência do mundo e a existência do universo inteiro,
se reduz ao som arritimado do pulsar do meu coração...Morri e não renasci... Já
não me importo com nada. Tudo é sem forma vazio... Não há separação entre terra
e céu, nem separação entre homens e demônios, tudo é uma coisa só... E isso não
me interessa mais... E então, finalmente, veio a vontade de morrer...
Infinitos sonhos visitaram a minha alma, quer dormindo, quer
acordado... Estou farto de tanto sonhar... Nem só de sonhos vive o homem. Sim,
meus sonhos são o alimento da minha alma, por isso ela está tão fraca, tão cabisbaixa,
tão humilhada, pois, pobre de mim, meus sonhos não são como os sonhos das
outras pessoas... Meus sonhos são violentos, sanguinários, depravados, sonhos
malditos que encharcam a alma com medos, angustias e premonições
arquetípicas... Minha vida anda por caminhos tortuosos, cheios de assombrações
e de presságios ruins... Talvez eu esteja sonhando agora, talvez tudo isso seja
apenas mais um pesadelo... Mas não, é tudo real, ele está aqui, acocorado num
canto escuro do quarto... Veio cobrar a sua dívida. (Mas o que é a realidade?),
e qual é o valor da divida?
A morte... que visão bem-aventurada
Vejo-a com sua foice pendurada nos ombros
Capuz negro cobrindo a cabeça
Escondendo os olhos sempre cheios de iniquidade
Vejo-a passeado de casa em casa
Entrando sem ser convidada
Chegando sem avisar
Às horas mais inesperadas da madrugada
Ouço choro das mães desesperadas
E os lamentos das viúvas
Ao vê-la sair de suas casas levando
Na sua bolsa sem fundo
A alma dos seus amados. Ser cruel, frio e cínico...
Que ventre nojento e maldito te pariu?
A minha morte... A minha própria morte...
Oh, horror... O meu próprio ventre foi quem pariu esse monstro...
Silenciosamente, como cobra rastejando entre os pés das suas
vítimas
Ela passeia de leito em leito, roubando as almas enquanto elas
dormem... Vagueia indiferente no meio da multidão, procurando alguém para
devorar. Nunca perde a viagem... Aproxima-se timidamente, às vezes. Outras
vezes, cruel, chega desaforadamente, como um ladrão sanguinário que arromba a
porta e leva o que quer, sem pedir. Vem e vai embora com a sua carga de almas,
num instante apenas, como bem entende, ela passa através de mim... E eu já não
sou.
Já posso vê-la sentada aos pés de minha cama... Sinto as ânsias do
seu vômito e o fedor do seu hálito... Vem ela para me ceifar a vida, mas acaso
é ainda vida, a vida de quem tem nesse ser assassino e sanguinário, sua única
esperança de felicidade? Seria o meu eu verdadeiro, esse eu que anseia pelo
toque dos seus dedos gélidos, ou seria outro, esse eu que habita o meu Eu?
Porque em mim, eu sei que dois eus se digladiam, um que quer morrer, outro que
estranhamente, deseja continuar vivendo, mas só porque viver é sofrer...
Quem é esse ser derrotado
Que eu vejo refletido no espelho?
Esse não sou eu
Deus meu!
Por onde será que eu ando agora
Sozinho e desamparado
Perdido na madrugada?
Em algum lugar distante
Acaso, alguém sonha comigo?
Acaso, eu ainda vivo?
Quando foi que meus risos
Todos eles
Metamorfosearam-se
Nestes pavorosos cantos de solidão?
Eu não sei mais quem eu sou. Infindáveis são as minhas dores e
terrores. Infindáveis agora são minhas dores e arrependimentos, pois fui
apunhalado por uma alma pérfida e cruel... Ah, eu também sou tão cruel comigo
mesmo, tão perverso... Todo dia, sem cessar, eu morro assassinado pelas minhas
próprias mãos. Tenho tantas saudades de mim mesmo, daquele tempo de inocência
quando viver era bom... Quando eu ainda era gente... Ah! Minhas mãos não são
mãos inocentes, elas estão tintas do meu próprio sangue... Hoje, por pouco, não
lacerei também os pulsos. Tu, coração pérfido, cozido na solidão e no fogo dos
abismos infernais, vestiu sobre si a natureza de um monstro infernal... Ao
invés de alma humana, alma de dragão é agora o que motiva meus desejos, olhos e
mãos... Que condenação! Que danação! Que esperança ainda pode haver para uma
alma humana metamorfoseada em alma de dragão? Será que eu ainda gosto de mim?
Tal é a decepção que tenho comigo mesmo, que muitas vezes sinto que estou
prestes a partir da minha presença para nunca mais voltar, tal a distância que
há entre eu e a minha alma.
Vago longe de mim mesmo, cada vez mais para perto do abismo de
onde não se volta jamais...
Desde a superfície da pele até as profundezas mais inexpugnáveis
dos ossos, sou dor sobre dor, decepção sobre decepção. Sigo sempre mudo, não
levo na boca nem sorrisos nem palavras de conforto. Oh! Inóspita e endurecida
está a minha alma, incapaz de sorrir, incapaz de cantar! Qualquer sorriso, qualquer
palavra de conforto, pronunciada nessa hora de horror, levaria sobre si a força
malévola da maldição de uma heresia imperdoável. Esses são tempos de dor e
reflexão, tempo de luto e de choro profundo, tempo de morte e reconstrução, de
derribar o que ainda não caiu e reconstruir o que foi derribado. Não,
definitivamente, esses não são tempos de sorrisos e festas. Sim, às vezes,
poucas vezes, eu paro no meio do nada e canto uma canção que eu invento na
hora. Canto até as lágrimas marejarem nos olhos... Não sei cantar cantos de
alegria, só sei cantar cantos de lamentos e saudades.
Aqui se finda a primeira parte dos ditos fragmentos do caos. Não
quero dar aos meus leitores motivos para pensar mal de mim... O que me sobra
desses fragmentos de insanidade, lanço às chamas... E fica o dito pelo não
dito, pois eu negarei até o fim se alguém sugerir nisso qualquer traço
autobiográfico meu.
VBMello