11 de outubro de 2013

Oito Poemas Pessimistas... E Um Mais ou Menos.

 Na Incerteza do Amanhã...
*
No céu da noite escura
Entre densas nuvens
Uma estrela...
*
No horizonte nevoento do amanhecer
O nada...
*
Ao meio-dia
Entre ventos e tempestades
Uma ave branca voa sem direção
*
Sem saber
Voa para o mar
*
Ao entardecer
Uma interrogação flutua nos abismos do coração...
*
Qualquer dia...
O que tiver que ser
Será
*
Ou talvez não...
*
V.B.Mello

Sombra
Contemplo demoradamente
O meu reflexo no espelho
Vejo um vulto...
Os olhos escuros
Perdidos na escuridão da noite
Estão vermelhos de insônia...
A boca escancarada de pavor
Quase não me reconheço
Talvez não seja eu
Ou talvez 
Dessa vez
Não seja nada
Estou tão diferente de mim mesmo
Esqueço que pareço ser
Aquele ser
Que serei
Talvez
Trinta-quarenta anos
Depois de amanhã
Se para essa sombra
Ainda houver amanhã...
V.B.Mello

Rivotril
Cansaço
Tristeza
Insônia
Rivotril
É a vida que avisa
Quer descansar
Dessa vida
Que é somente existência...

V.B.Mello 

O Menino
Retorno os meus olhos para um tempo distante
Vejo um menino franzino
Pés descalços
Olhos fundos
Sorriso triste
Perdido no tempo
Pudesse esse menino me ver
No tempo
Perdido
Vendo-me como eu o vejo
Se pudesse nele
Pressentir-me a existência
Que risadas ele daria...
Que risadas...
Que pesadelos...
Que angústia seria...
V.B.Mello

Desesperança...
Tímida, a minha alma
Retirou-se para abismos distantes
Em silêncio
Desapaixonada de tudo
Sepultada
Ali ficou
Desconsolada de um amor
Transcendência
Que jamais chegou...
V.B.Mello
Purgatório 
Estendo meu olhar diante de mim
Até as distâncias que os olhos alcançam
Que espetáculo medonho!
Que horror!
Que dor!
Almas e mais almas
Multidão de zumbis
Vida desperdiçadas no purgatório do existir
Sombras vagando na esperança de encontrar
Na dor e desespero de outras existências decaídas
Uma migalha de vida
Uma mão estendida...

V.B.Mello
Pecado...
Gritos assombram a madrugada
Trovoadas que rebentam
Dentro da alma culpada
Invocado pela consciência denunciada
Na sua fúria inclemente
Assombração medonha
Parada diante de ti
É o destino que já vem...
Não ouve o tropel do seu cavalo?
Não sente o frio do abandono?
A escuridão diabólica
À beira do abismo
Toma em suas mãos esse ser
Imagem e semelhança do Divino Ser
E o curva como o mais invertebrado dos seres
E o retroage aos caos primeiro do mundo
Onde ele agora é
Nada...

V.B.Mello



Ilusão
Na primeira vez que saltou
Que leveza! Que graça!
A todos encantou
Aplausos e elogios abundaram
Na segunda vez que saltou
Foi ainda mais alto
Que graça! Que leveza!
Mais aplausos
Elogios
Aplausos
Elogios
Aplausos...
Até que em uma manhã
Na alma inflada
Uma ilusão se instalou
- Posso voar. Ele pensou
Caiu e nunca mais se levantou
Na primeira vez que tentou...
V.B.Mello

Reviver
De repente, as lágrimas lhe vieram aos olhos
E os soluços encheram a suave penumbra do quarto
Ela chorava...
Uma mão tocou com gentileza a sua fronte
E uma voz doce a chamou pelo nome
Ela acordou e o viu sentado ao lado dela
E o abraçou forte
E o coração aquietou
Foi um pesadelo (ela agora sabia)
Restos doloridos do passado
Que ainda perseguiam a sua alma...
Ele a abraçou e ambos dormiram
Um mesmo sono sem interrupções
E nos braços dele
Na manhã seguinte
Ela reencontrou a vida...
V.B.Mello