23 de fevereiro de 2019

Depressão e salvação – um poema triste - ou nem tanto - com final feliz

No fundo infinito de minha alma 
Há uma tempestade
Há um terremoto
Há um jardim que foi destruído
Há uma catedral
Há um Deus que bate
Há uma porta que se abre
Há uma visão do céu
Há um depósito de lágrimas
Há uma solidão e um esgoto
Por onde se esgota
Restos de sonhos mortos
Antigos desejos e mágoas recentes 

No fundo de minha alma
Onde ninguém chega ou vê
Bem perto da superfície
Sob a máscara dos sorrisos
Há uma dor calada
Uma dor com cauda de escorpião

Sob a minha pele
Bem fundo
No tutano dos meus ossos
Como se fosse uma mancha de nascença
Como uma fratura nos ossos do corpo
Há uma grande decepção
E uma velha e conhecida escuridão
Que me olha implorando, como um velho vulcão
A espera de uma oportunidade de erupção

A voz embarga em minha garganta
Os meus olhos me traem
Marejam e perdem o brilho
Mas eu engulo o choro
E retenho a vida que quer partir
Ninguém nota
Ninguém tem olhos para ver
Ninguém se importa
Sem querer, tornei-me mestre em disfarçar
Dores que ninguém mais vê ou sente

O que é isso que eu me tornei?
É genético ou circunstancial?
É destino, carma ou pecado?

Verdade seja dita
Dos meus antepassados
Não recebi o dom de viver

O meu corpo é de aço enferrujado
Mas o meu coração é de carne viva
E as minhas palavras carregam o dom
De adoração e a graça de fazer alguma poesia
Isso me basta
Isso eu não recebi do sangue
Ou da carne de meus pais
Isso eu recebi de Deus
E isso surpreende e revolta a todos
Que eu seja um homem calado
Com um coração de carne batendo dentro do peito
Superando a dor - coisa estranha
Recitando velhas palavras de consolação

Instintivamente, como um cão que uiva para a lua
Olho para o céu e meus lábios ensaiam um cântico de gratidão
Do chão deste mundo cão, não recebi coisa alguma
Todavia, do céu - sem merecer
E isso revolta multidões de legalistas
Eu recebi toda a riqueza e a beleza
Que preenche os vazios dessa minha velha e surrada alma

De repente, e este já é o fim desse meu estranho poema
Como quem acorda de um sono profundo, abro os olhos
O mar se acalma… Um vento forte passa por mim e me atravessa
No espaço de um segundo, morro e nasço de novo
Sou nova criatura. As coisas velhas

Para que eu sobrevivesse, morreram todas…
_VBMello

Nenhum comentário :