Engraçada e triste
Desgraçada arte
Todo escritor sabe
Ou deveria saber
O tempo todo
O tempo todo
O coração do poeta... é pateta
Perdido... incerto... confuso
Rendido ao desejo de inspiração
A sua derradeira salvação
Fica exposto diante do tudo
Perdido... incerto... confuso
Rendido ao desejo de inspiração
A sua derradeira salvação
Fica exposto diante do tudo
E perdido diante do nada
Às vezes... Poucas vezes
Muitas vezes... tantas vezes
Do nada... o tudo... ou quase nada
As palavras chegam sem avisar
Surgem certinhas
Naturalmente na mente
Surgem certinhas
Naturalmente na mente
Uma se encaixando na outra
E o poeta - pobre miserável
Fantoche da inspiração
Como uma criança ingênua
E o poeta - pobre miserável
Fantoche da inspiração
Como uma criança ingênua
Brinca com a serpente
Montando e remontando
As peças de um quebra-cabeça simples e fácil...
Montando e remontando
As peças de um quebra-cabeça simples e fácil...
Faz versos... Faz prosa... Faz rir e faz chorar
Faz lembrar... Faz sonhar... Faz pensar
E essa magia da alma... contagia
Transpira... pira... inspira
E a loucura santa das palavras
Que fluem em torrentes de coisa nenhuma
Pode durar muitas horas... e não fim, não dura nada
Transpira... pira... inspira
E a loucura santa das palavras
Que fluem em torrentes de coisa nenhuma
Pode durar muitas horas... e não fim, não dura nada
Às vezes, poucas vezes... talvez
Pode durar até um fim de semana inteiro...
Pode durar até um fim de semana inteiro...
E a gente acha engraçado, e fica feliz
E sonha acordado
E se ilude, e se engana
Pensando que nasceu para ser poeta
Pensando que nasceu para ser poeta
E que diante das incertezas da vida
Vai ser para sempre..., poeta... Pateta! Pateta!
Vai ser para sempre..., poeta... Pateta! Pateta!
Planos incertos se fazem na alma da gente
E o coração sonha coisas impossíveis
E a gente se olha no espelho dos nosso versos
E se imagina poeta, poeta de verdade e da verdade... Pateta! Pateta!
E se imagina poeta, poeta de verdade e da verdade... Pateta! Pateta!
E diz para a gente mesmo, sussurrando vaidades
Que escrever é a nossa vida... E que foi para isso que nascemos
Que escrever é a nossa vida... E que foi para isso que nascemos
Mas nunca é para sempre... Nada é para sempre
Ah, dura verdade, essa... A maior parte de nós, não é poeta
E a gente sabe disso..., mas finge que não sabe
Porque as palavras... Malditas palavras!
Porque as palavras... Malditas palavras!
Não vêm até nós... Nunca!
Quando nós as chamamos
Quando nós as chamamos
Elas surgem e desaparecem, quando querem
Mas há uma magia e uma dor nisso
Essa coisa bendita-maldita, de ser e não ser
O que se nasceu para ser... Poeta... Pateta
Essa coisa bendita-maldita, de ser e não ser
O que se nasceu para ser... Poeta... Pateta
Mas mesmo assim, a gente se deixa iludir
E finge não desistir...
Porque sem alguma ilusão a lhe animar a alma
Poeta algum, consegue seguir em frente
Poeta algum, consegue seguir em frente
Então, a gente pensa mais uma vez
Que nasceu para ser... Oh, horror!... poeta... Tolice! Pateta!
Que nasceu para ser... Oh, horror!... poeta... Tolice! Pateta!
E essa, bem que pode ser a milésima vez
Que a gente pensou isso... Ser poeta...
Que a gente pensou isso... Ser poeta...
Pode ser que sim... Pode ser que não
Ou pode ser só um talvez... outra vez
Ou pode ser só um talvez... outra vez
O fato é que, no meio da nossa ilusão... De repente
Qualquer coisa que não prevemos acontece
E o coração se distrai..., e se trai
E a mente, tomada por outras ansiedades
É sem querer, levada em outras direções
E o poeta... outra vez
Perde a inspiração nas encruzilhadas ansiosas da vida
Tempos depois, a gente acorda
E é como se voltasse da morte
Sim, quando você se lembra de que acordou de um sonho, onde era poeta
E o poeta... outra vez
Perde a inspiração nas encruzilhadas ansiosas da vida
Tempos depois, a gente acorda
E é como se voltasse da morte
Sim, quando você se lembra de que acordou de um sonho, onde era poeta
E volta ao papel... O escritor já partiu... A inspiração já morreu
E você fica parado sem saber o que fazer
A mente, antes fértil de fantasias, mais uma vez, estagnou
E você olha para os lados... E tudo te cega... e tudo te aborrece
E você perde a fé na poesia
E sente uma terrível azia de palavras não ditas
Maldita alma vazia e oca de si mesma
E você perde a fé na poesia
E sente uma terrível azia de palavras não ditas
Maldita alma vazia e oca de si mesma
Como alguém que foi lançado de repente
Nalgum lugar estranho e desabitado
Você vasculha a mente, sonda o coração, e nada
Nalgum lugar estranho e desabitado
Você vasculha a mente, sonda o coração, e nada
As palavras não estão mais lá... Nunca estiveram... A inspiração partiu
E partiu da mesma maneira como havia chegado, sem avisar
E você respira fundo... Olha para os lados
E morre por dentro... sem dizer nada, sem ver nada
E morre por dentro... sem dizer nada, sem ver nada
E os pensamentos se confundem
Alguma coisa nas profundezas da nossa alma, morre
Mais um poema que não nasceu
Mais um poema que nos devorou
Mais um poema que não nasceu
Mais um poema que nos devorou
Uma tristeza vazia, turva o olhar
E você pensa... E tem certeza
Que não nasceu para isso
Se olha no espelho e grita: Pateta! Pateta!
Se olha no espelho e grita: Pateta! Pateta!
E por fim... Um sorriso triste brota nos lábios sem graça...
E você balança a cabeça de um lado para outro
E segue a vida..., meio morto... meio vivo, meio aleijado na alma
Porque agora, até a inspiração voltar... se voltar
Você será somente mais um corpo sem alma
Um homem oco, um corpo sem órgãos
Que vaga sozinho
Perdido no meio da multidão sem rumo...
Talvez, quem sabe, em busca de uma nova inspiração...
Um homem oco, um corpo sem órgãos
Que vaga sozinho
Perdido no meio da multidão sem rumo...
Talvez, quem sabe, em busca de uma nova inspiração...
V.B.Mello.