Explodir num grito de revolta contra tudo e contra todos
Cansado de cabrestos, exorcizo tudo que me exorciza...
Entre orações e
invocações... A m'alma entra em erupção
Os meu nervos e os meus ossos, estão
à flor da pele
Solto o laço que segura
o ser bestial, que habita em mim
Abro as portas do
inferno...
Há um incêndio incontrolável
em andamento
Mil demônios acordaram,
e estão famintos
A luz e as trevas travam
uma luta
De vida, cansaço, doença e morte
De vida, cansaço, doença e morte
Você consegue ouvir
o tropel dos cavalos
Correndo para a frente de batalha?
Correndo para a frente de batalha?
Ouve o som de aço
das espadas?
Escuta os gemidos das
putas
E os gritos das prostitutas?
E os gritos das prostitutas?
São os gritos e os gemidos dos meus ancestrais
Que lutam e vivem, fantasmas, dentro de mim
Que lutam e vivem, fantasmas, dentro de mim
Sozinho no meio das
chamas das florestas incendiadas da alma
O meu coração se
desintegra em mil pedaços
E o atavismo inevitável
começa no fundo da alma
Num instante de descuido...
A fera que vive oculta dentro de mim
Sob à superfície da minha pele
E sobrepuja o homem que eu sou
A fera que vive oculta dentro de mim
Sob à superfície da minha pele
E sobrepuja o homem que eu sou
Quem me vê agora
Não me reconhece mais
Não me reconhece mais
Rosno... Faminto... Grito...
Imploro
Tarde demais! Grita o
destino... Tarde demais!
Acuado... Forço os
olhos contra a escuridão... Nada!
Até as maiores distâncias
que os olhos enxergam
Tudo é nada... Tudo
é indiferença... Tudo é ingratidão
O ar se enche de ameaças. Um pastorzinho de nada, vem
Mas engole as palavras... Pobre homem fraco
Ele não suporta o meu olhar... Não sabe mergulhar
Tem medo de abismos profundos...
É uma criança com medo do silêncio
O ar se enche de ameaças. Um pastorzinho de nada, vem
Mas engole as palavras... Pobre homem fraco
Ele não suporta o meu olhar... Não sabe mergulhar
Tem medo de abismos profundos...
É uma criança com medo do silêncio
Mas o silêncio é tudo que tenho para ele
E o silêncio é uma navalha que corta a alma
Ele parte, caminha rápido como quem foge do diabo
E o silêncio é uma navalha que corta a alma
Ele parte, caminha rápido como quem foge do diabo
Ferida, a alma se
acalma... Mas nos interstícios
da dor...
Sombras penetram e
se movem na escuridão do coração
Grito... Corro... Mas
não há onde se esconder
Guardo a vingança para um momento apropriado
Guardo a vingança para um momento apropriado
Num ritual de
desespero... Invoco a luz
Mas ainda falta
muito até o dia amanhecer
Paro... Encolho-me
num canto da floresta
Perco-me entre as sombras da noite
Perco-me entre as sombras da noite
Canto para espantar
a dor
Olho pelo buraco da
fechadura
Cães rondam a casa
Está frio... Sinto
fome...
A solidão devora e
apavora
Talvez, agora, prese nesse quarto escuro
Eu seja o homem mais solitário do mundo
Eu seja o homem mais solitário do mundo
E estou tão rodeado
de gente...
Falo sozinho
Faço o sinal da
cruz
Deus meu! Deus meu!
Oh! Miserável de
mim...
Que pobre diabo! Que
pobre diabo!
Faltam-me as forças necessárias
Para enfrentar tão grande danação
Para enfrentar tão grande danação
O meu destino me
desatina...
Essa depressão desgraçada
Sob os meus pés a
areia é movediça
Em sonho... Ouço a
voz da minha mãe
Escuto o riso dos
meus irmãos
Um velho profeta
grita ameaças:
Todos mortos! Todos mortos!
Acordo de repente... Estou sozinho na
voragem do mar
Afundo no nada... As ondas da
tempestade
Me roubam o ar... A minha alma afoga
Me roubam o ar... A minha alma afoga
Mais uma vez estou a
afundar
Você consegue ouvir
o riso dos tubarões?
Ainda sonho?
Talvez eu nunca tenha dormido...
Talvez eu nunca tenha dormido...
Deus, onde estás?
Não quer ser a minha
Mãe?
Não quer ser o meu
Pai?
O céu me parece ser
um lugar tão silencioso... Frio, às vezes
O silêncio e a
escuridão, persistem...
Deus é um ser tão calado...
Eu já esperava
Hoje eu não estou para
conversas telepáticas
Calo-me, também... Mais uma vez
Que o silêncio seja a minha oração
Que o silêncio seja a minha oração
No fundo da minha
alma, num esforço derradeiro
Ergo-me contra o
peso do meu destino
Que venha o céu... Que
venha o inferno
Não me vergo mais
sob o penso
De uma carga que posso evitar
De uma carga que posso evitar
Tenho ainda alguns
versos na alma
Quando a depressão
passar...
Quando a solidão amainar
Quando a solidão amainar
Posso iniciar um
jardim
Nas profundezas do meu coração
Nas profundezas do meu coração
Posso acender uma
fogueira
Do tamanho da minha poesia
Do tamanho da minha poesia
Uma sentença paira
sobre mim...
O deserto não me vencerá
O deserto não me vencerá
Eu levo comigo as
sementes de um jardim florido
Não importa o
desatino... Para o inferno com o destino!
Tudo depende de um
bom destino
Preciso, então, construir
um bom destino
Uma sina ruim, herança dos meus antepassados
Subscreve a morte dos meus sonhos
Subscreve a morte dos meus sonhos
Sonho, então, sonhos
eternos
Mas eles some, quando o dia amanhece
Mas eles some, quando o dia amanhece
Um dia desses
esbarrarei
Numa árvore de luz
então, construirei uma casa
Numa árvore de luz
então, construirei uma casa
Onde colherei frutos
e sementes
E plantarei na minha
alma um jardim
Para iluminar a escuridão
do meu mundo
De repente, uma mão
pousa no meu ombro
Talvez um anjo...Talvez um demônio, que
finge ser anjo
Oh, meu Deus! Como é fácil se
enganar sobre si mesmo
Como é fácil ser traído
pelo próprio coração
Tolo! Guarda as suas
esperanças
O amanhã será só o
hoje que se repete...
Aceita o seu
destino... Sê homem!
VBMello