26 de abril de 2015

O amor...

Faz muito tempo, durante um sonho, uma pergunta
Como um espinho na carne, me surgiu durante um sonho:
O que é isso, o amor? Perguntou-me, um demônio
Ao amanhecer, o meu coração acordou calado
E assim ficou até a noite seguinte... 
Como quem anda por caminhos sombrios, tive medo
Mas pode um homem, sem cauterizar a própria consciência
Fugir das vozes do seu coração e escapar da sina da sua alma?
*
Desconfiei. Não era sobre o amor, a velha pergunta... Era sobre outra coisa
Algo estava sendo gerado nas profundezas da minha alma
*
Noite após noite... A mesma voz gritava e perguntava: O que é o amor?
Manhã após manhã, o coração continuava mudo
Zombava de mim, aquela voz medonha? Anjo ou demônio
De quem era aquela voz obscura, que me falava na escuridão da noite?
*
Confesso... Eu não sei o que é o amor... Como poderia saber?
Houve um tempo, faz muito tempo, eu pensava que sabia
*
Eu olhava direto nos olhos dela, ela sorria
Então eu sabia, nos olhos dela, o que era o amor
Quando ela me olhava
Eu via, eu sabia, o tinha todas as respostas
O amor não era um mistério
Ela existia, e isso era tudo
Mas ela já não existe mais
Partiu para nunca mais voltar
*
Agora é inútil pensar sobre o amor... O que é o amor? 
Que me interessa saber isso, agora? Que diferença faz?
Há alguma coisa de zombaria, nessa pergunta?
É tu, Senhor, que mais uma vez me prova?
Não é. Claro que não... Deus não tem nada a ver com isso
Certamente que estou só - outra vez - nessa questão
*
Todo dia eu o invoco, mas ele nunca aparece
Nem mesmo nos meus sonhos
Por que, eu ainda o busco?
Por que, eu ainda chamo por ele?
Não me responde 
Não faz caso das minhas orações
Zomba e ri de mim... Ah, Senhor...
*
O que é o amor? 
Certamente 
Que não é uma palavra
Ou um conjunto 
Organizado de sinais e letras 
Com um som específico
Que desperta em nós
Um conjunto específico
De sentimentos agradáveis
*
Não é uma palavra decorada
Que nos diz o que a gente
Pensa que sabe o que é
*
De fato, o que o amor é
As palavras não conseguem dizer
Eu - pelo menos, não consigo dizer
Quando eu sou amado e amo
Sei o que é... (pois, amo e sou amado)
Mas quando o amor acaba
Acabam também 
As minhas certezas
E verdades sobre o amor
Então, se me perguntam o que é
Não sei dizer o que é
Não é algo que eu possa dizer
A menos que esteja amando e sendo amado...
*
Quando o amor me visita e me surpreende
Acho que ele é algo vivo e brilhante
Que pode ser visto nos meus olhos... 
O estranho é que quando eu sei a resposta
Ninguém me pergunta coisa alguma
Claro, é algo que pode ser visto e comprovado
*
Eu mesmo não tenho qualquer dúvida
Sei dizer o que é... O meu corpo sabe
Não é apenas a minha pele, que muda
As minhas palavras 
Também mudam, ficam leves
Para a minha surpresa, eu viro poeta
*
Mas não poeta das palavras... 
Nunca fui bom com as palavras
Viro poeta dos gestos
O meu olhar ganha um novo alento de vida
E aquela velha sensação de angústia
Que sufoca a alma e mata o coração
Já não existe mais. Sinto-me livre
*
O amor não é uma resposta que se dá com palavras
É uma transformação do corpo e da alma
É como morrer e renascer
É como ser homem e criança, ao mesmo tempo
*
Todavia, miserável de mim! Não fui feito para o amor
Amor, eu acho, é uma questão de fé
Não sei se sou um homem de fé... como poderia? 
Fé é como o amor, a gente só sabe que tem
Quando alguém tem fé na gente... Não sei
*
Enquanto alguém não se dispõe a me amar
Enquanto eu realmente
Não me sinto acolhido e amado
Por mais que diga que me amo
Continuo sem saber o que é o amor
Sim, é preciso ser amado
Para saber o que é o amor
A mesma coisa, com certeza, vale para a fé
Se ninguém crê na gente
É difícil crer e amar
Precisamos crer mais nas pessoas...
Mesmo que elas não acreditem na nossa fé
*
Talvez isso seja parte do mistério
Não é quando a gente se ama
Mas quando a gente é amado 
Que a gente sabe dizer 
O que é o amor
E o que é fé
*
Sim, eu não sei dizer
Nem descrever 
O que é o amor
*
É quem me olha
Quem me ama
Quem crê em mim
Quem me quer perto
Quem me trata com respeito
Carinho e com atenção
Que diz ao meu coração
E me descreve, sem palavras
Mas com o brilho dos olhos 
O o amor é esse fogo 
Que arde e queima 
Dentro de mim...
*
Oh, querida minha, vem... 
Chegue mais perto
Vem... Desfrute comigo 
Esse instante de eternidade
Deus está entre nós...
Vê... Olhe... Lá longe...
Até as maiores distâncias 
Que os nossos olhos conseguem ver
Tudo queima e arde O mundo é uma sarça ardente...
Tudo está incendiado pela glória do Senhor
*
Tire as sandálias dos pés...Desnude a alma, e vem...
Olhe nos meus olhos – toque a minha face... E me diga:
O que isso, esse rio que corre, que você vê em mim?
Esse fogo, essa chama, essa luz que me queima
E me incendeia e me ilumina...E me faz perder o sono...
O que é isso que você vê em mim, querida minha?
Vem, mostre-me o que é o amor
Agracie-me com essa dor... Vem!
*
Acaso é isso... Essa inquietação... Essa satisfação...
Essa alegria... Esse gosto de eternidade... Esse medo...
Essa coragem, que é o amor?
*
Ah, então – Deus meu! – dentro e fora da alma... 
Já tenho a resposta... Em cada célula, em cada nervo e tendão
Nas carnes e nos ossos...eu sou, quando sou amado, puro amor...
Quando o amor está em mim... Tudo em mim é puro amor
Sim, tudo em mim está impregnado dessa chama que arde
Que nunca se apaga... Que nunca se aquieta...
Que sempre se propaga... Vem! Amada da minha alma... 
Não espere mais... Sente-se aqui comigo...E desfrute junto a mim
Este instante de paz e calmaria, que Deus nos dá...
*
Porque eu sei que logo mais, a tempestade vai recomeçar
Dá-me, pois, amada minha, este momento de alegria
Para que depois, quando a tormenta rebentar
A minha alma cheia de recordações tuas, sem naufragar...
Possa suportar ainda mais um dia...
*
Diga-me, querida minha – amada da minha alma...
O que isso que você vê em mim? Acaso isso é o amor?
Ou apenas uma angústia, uma dor disfarçada de amor
Deus meu... Quando eu acordarei desse sonho ruim, a vida?
VBMello

20 de março de 2015

A minha alma...

A minha alma é um lugar distante
Um lugar verdejante
Um deserto e um mar revolto
Uma noite escura e um céu claro
A minha alma é um ferida aberta
Um leão que ruge
E um rato que foge...
É um grito de vingança
A minha alma é um vulcão em erupção
Um incêndio que ninguém consegue apagar
*
Sim, a minha alma
É o lugar mais perto do céu
O lugar mais longe de mim
Que eu, nas noite insones
Sonhando acordado, vou e visito
*
Nela, segundo o meu estado de espírito
Há céus profundos e abismos insondáveis
Há recantos de luz, encruzilhadas de trevas 
Vazios e bifurcações de escuridão
*
Nela, dependendo do dia
Há paraísos, campos verdejantes
E casas abandonadas
Onde ecoa - ainda
O choro triste e fraco
Da criança morta de fome
Que um dia, sob o olhar de Deus
Eu fui e sofri e quase morri
*
Nela há montanhas 
De orações sem resposta
E promessa nunca cumpridas
Esperanças naufragadas
Sepulturas de palavras mortas
E arrependimentos sem fim
A minha alma é uma arma engatilhada
A minha alma geme de fome e sede de justiça
*
Nas noites de pesadelo
Eu vejo o fantasma do velho
Que, talvez, eu serei
Chorando e envergonhado
Da vida triste que eu vivi
*
Desde a eternidade
Tarde demais
Eu entendi isso
Antes mesmo 
Dessa dor me encontrar
A minha sina já estava escrita
*
O amor é uma ilusão
Que eu busco em vão
Uma vaidade
Que não combina mais
Com a minha idade
*
Amanhã ou depois de amanhã
Se o amor me encontrar
Chão para as suas raízes
Não encontrará
*
A minha alma é um torrão velho
De terra ruim para o amor
Aqui nessa escuridão
A graça não brota
E a esperança
Não frutifica
*
A minha alma é um túnel sem luz no fim
Onde sozinho, nas noites escuras e tristes
Como uma criança em busca do pai
Que a abandonou numa lata de lixo, eu entro 
E me perco gritando e buscando - em vão
Pela presença de Deus...
VBMello.