4 de agosto de 2016

Liberdade - a última fronteira da nossa ilusão...

Pesa sobre nós o mal-estar de um imenso fardo
A fardo do medo inconfessado da liberdade
Na religião, na política, e em todas as coisas
Somos escravos de alguma ideologia
A liberdade nos assusta
Estamos sempre correndo atrás de conselhos
Sempre carentes de alguém que nos mostre o caminho
Estamos rodeados de gurus, profetas e salvadores
Estranhamente, tudo que precisamos saber
Está dentro de nós
A verdade nos habita
O reino de Deus está em nós
Sabemos o caminho
Conhecemos o nosso destino
E não desconhecemos a nossa missão
Mas temos medo...
Mas esse medo que temos
Não vem de Deus... Vem de fora
Como uma força maligna, um engodo e uma ilusão
Uma determinação religiosa, política e social
Que se impõe a nós e aos nossos
Como se tivéssemos a obrigação de ouvir
Os gurus, mestres e senhores deste mundo
Com suas rezas, despachos, horóscopos
Boletins econômicos e comícios
Sim, a tudo vivemos de ouvidos atentos
Como se tivéssemos necessidade de guias
Somos iludimos e nos iludimos
Como cegos e surdos
Guiados por outros cegos
E no fim, diante da nossa TV
Comendo pedras transformada em pão
Bebendo nosso refrigerante preferido
Mais mortos do que vivos
E nos perguntando se a vida
É somente isso mesmo
Ligados na nossa rede social
Curtindo e sendo curtido
Jogando nossos joguinhos de merda
Passando o tempo que nos devora
Pensando os mesmos pensamentos
Sonhando em ter algo a mais
Para matar a nossa fome de ser
Batemos no peito, e dizemos
Como que querendo enganar a nós mesmos
Somos livres! Demasiadamente livres...
E no meio disso tudo, não notamos
Nem percebemos, nem queremos saber
A nossa alma, vazia, miserável e desgraçadamente
Se perde num mundo de vícios e determinismos
E o nosso caráter, rápido, vira para nós
Um motivo de horror e de vergonha
Felizmente, somos cegos e burros
Vemos tudo, menos a nós mesmos...
Sim, somos livres...
Demasiadamente
Satisfeitos, felizes e livres

_VBMello

Acenda a sua luz, lute a sua luta...

Veja... Escute... Observe os sinais...
Ouça os rumores, sinta as dores
Um mundo inteiro está morrendo
Não é esse o tempo do fim?
A escuridão anunciada pelos profetas?
A fé agoniza, o amor estertora
A esperança foge desesperada...
Onde está a misericórdia?
Onde se escondeu a compaixão?
*
Em todo lugar
Uma crise se anuncia
Em todos os jornais
Vemos e ouvimos dizer
Alguma coisa sólida
Desmorona, some 
E se perde no ar
Em todo lugar – toda hora
A beleza sofre, agoniza e morre
Mas o mundo, esse rio de fogo
Que consome e seca a si mesmo
Inconsciente da própria miséria
Não quer nem saber
Chavões, rimas de um crime em andamento
Pós-modernidade, morte das coisas velhas
Revolução eletrônica, supremacia da ciência
Geração de maquinas espirituais
Morte da alma, sufocamento do espírito
Construção de um admirável mundo novo
Mil vezes, já escutamos essa história
O velho precisa morrer
Para o novo nascer...
Sim, escute os rumores do fim
Sinta a terra tremer sob os nossos pés
Grita o profeta do novo mundo
Que anuncia saúde, felicidade
Prosperidade, longevidade e paz eterna:
Ei, vejam! Irmãos, este é o melhor dos mundos!
Obra nossa, imagem e semelhança
Dos nossos vazios, cobiças, fobias
Taras, neuroses, medos e caos interior
Sim, este é o tempo da morte da fé
E do esfriamento do amor
O tempo vazio e sem sentido
Que há muito tempo
Fui anunciado pelos profetas
Este é o tempo em que urge
Ressuscitar o amor, a fé e a esperança
Este é o tempo de escuridão e dor
Que convoca, implora e convida
Todos os homens e todas as mulheres de boa vontade
A acenderam alguma luz no meio da escuridão
Sim, este é o tempo em que cada um é chamado
A ser um candeeiro em cima de uma montanha...
Ouça os rumores, ouça os gritos, sinta a dor...
Acenda a sua luz, lute a sua luta...
_VBMello