4 de agosto de 2016

Felicidade rala e promessas vãs

A vida, meu irmão, é cada um por si
Grita o coro dos egoístas
E a traição, meu irmão
É a arma mais próxima - e afiada
E que corta fundo, o nosso coração
*
Por medo de reconhecer a insanidade
Seguimos a manada desesperada
É tão fácil confundir egoísmos com liberdade
É tão difícil encarar – sem medo
A fatalidade da nossa condição
É tão fácil se render – sem arrependimentos
À crueldade contra os mais fracos
Escondidos nas sombras da nossa maldade
Ditamos regras, estabelecemos padrões
De vida e de comportamentos
Pregamos o egoísmo e esperamos conversões
Formamos um exército de corpos sem alma
Anunciamos salvação ao mundo
Anunciamos uma felicidade rala e barata
Com intenções de fazer a guerra
Pregamos a dissimulação da paz
E nos colocamos de prontidão
O oportunismo a mil
Aproveitando todas as oportunidades
E criando outras tantas
Manipulamos inocentes
Roubando sonhos
Matando esperanças
Falando palavras estranhas
Fazendo promessas vãs
Sempre prontos  
Para travestir de bondade
A feiura do nosso oportunismo
Sim, meu irmão, nesse mundo cão
É cada um por si e Deus contra todos...
_VBMello

Liberdade - a última fronteira da nossa ilusão...

Pesa sobre nós o mal-estar de um imenso fardo
A fardo do medo inconfessado da liberdade
Na religião, na política, e em todas as coisas
Somos escravos de alguma ideologia
A liberdade nos assusta
Estamos sempre correndo atrás de conselhos
Sempre carentes de alguém que nos mostre o caminho
Estamos rodeados de gurus, profetas e salvadores
Estranhamente, tudo que precisamos saber
Está dentro de nós
A verdade nos habita
O reino de Deus está em nós
Sabemos o caminho
Conhecemos o nosso destino
E não desconhecemos a nossa missão
Mas temos medo...
Mas esse medo que temos
Não vem de Deus... Vem de fora
Como uma força maligna, um engodo e uma ilusão
Uma determinação religiosa, política e social
Que se impõe a nós e aos nossos
Como se tivéssemos a obrigação de ouvir
Os gurus, mestres e senhores deste mundo
Com suas rezas, despachos, horóscopos
Boletins econômicos e comícios
Sim, a tudo vivemos de ouvidos atentos
Como se tivéssemos necessidade de guias
Somos iludimos e nos iludimos
Como cegos e surdos
Guiados por outros cegos
E no fim, diante da nossa TV
Comendo pedras transformada em pão
Bebendo nosso refrigerante preferido
Mais mortos do que vivos
E nos perguntando se a vida
É somente isso mesmo
Ligados na nossa rede social
Curtindo e sendo curtido
Jogando nossos joguinhos de merda
Passando o tempo que nos devora
Pensando os mesmos pensamentos
Sonhando em ter algo a mais
Para matar a nossa fome de ser
Batemos no peito, e dizemos
Como que querendo enganar a nós mesmos
Somos livres! Demasiadamente livres...
E no meio disso tudo, não notamos
Nem percebemos, nem queremos saber
A nossa alma, vazia, miserável e desgraçadamente
Se perde num mundo de vícios e determinismos
E o nosso caráter, rápido, vira para nós
Um motivo de horror e de vergonha
Felizmente, somos cegos e burros
Vemos tudo, menos a nós mesmos...
Sim, somos livres...
Demasiadamente
Satisfeitos, felizes e livres

_VBMello