Aprendendo com os
lírios do campo
Sozinho, trilhando o
meu caminho
Estive pensando no
amanhã
Sonhando com a outra
vida
Abrindo a minha alma
Contemplando a
imensidão do céu
Examinando o meu
coração
A minha vida é
profunda e terrível
São tantas feridas...,
tantas cicatrizes
Tantos desencontros
para superar
Tanta escuridão para
iluminar
No corpo, na alma e no
espirito
Há tantas questões
inacabadas
E tantas coisas que eu
sonho fazer
Há muitas lutas que eu
preciso lutar
E apenas uma certeza
garantida
É tão fácil cair... É
tão difícil levantar
Renascer, sim, dói
mais do que morrer
Um fracasso aqui,
outro ali
E o mundo deixa de ser
Um lugar tranquilo e
agradável
A vida vai passando em
branco
E os sorrisos vão
diminuído
Até que olhos perdem o
brilho
E a vida inteira –
como se fosse um destino
Vira uma manhã fria e
cinzenta de inverno
O tempo voa enquanto a
gente pensa e sonha
Agora eu já não tenho
mais todo o tempo do mundo
Seja como for,
caminhando para a luz
Abrindo caminhos
através da escuridão
Quero seguir sempre em
frente
Tentando me manter de
pé
Nesse chão
escorregadio
Que chamamos de nossa
vida
Até descobrir a parada
final desse caminho
Onde então, talvez, eu
poderei descansar
Sarar e curar todas as
minhas feridas
E perdoado, olhar no
espelho sem chorar
Quero logo, sem
demora, ir embora daqui
Descer logo dessa cruz
Sair desse inferno
Esquecer que um dia
Eu pisei nesse chão
E que esse chão me
pisou
Sem levar saudades
Sem deixar saudades
Sem avisar, sem
lamentar
Partir para nunca mais
voltar
Quero ao menos tentar
mais uma vez
Levantar do chão e
olhar para o alto
Saber e compreender a
razão dessa luta
Quero olhar Deus face
a face
Quero colocar as
cartas na mesa
Atravessar o abismo e
subir ao céu dos céus
Desafogar o peito e
chorar o choro preso
Quero cruzar o rio da
vida e ver como sou visto
Quero descobrir a
parada final desse caminho
Que eu já sei de ouvir
falar
Quero ver com meus
olhos
Tocar com os meus dedos
Quero ouvir com os
meus ouvidos
Se é mentira ou
verdade
Tudo que existe do
lado de lá
Quero eu mesmo, com os
meus olhos
Olhar a face arredia
da eternidade
E superar mais uma vez
a solidão
Depois da fome e das
doenças
Depois do abandono do
pai
E da feroz indiferença
da mãe
Depois de ter
fracassado em tudo
E não ter dado certo
em coisa nenhuma
Quero uma palavra
gratidão para falar
Quero um cântico para
cantar
Um amor para viver
E um poema para
escrever
Quero tentar confessar
que vivi
Mesmo que não consiga,
quero tentar
Antes de partir, quero
ver – ainda outra vez
O sol brilhando nas
manhãs de primavera
E as ondas do mar da
minha juventude
Quebrando suavemente
na areia da praia
Quero recordar – como
quem vive tudo de novo
O que foi bom, o que
valeu a pena e o que me fez sorrir
Quero sair na rua,
olhar ao redor e sentir a brisa do amanhecer
Quero sentir pulsando
no fundo do peito - a certeza absoluta
De que não é vão que
se sonha, espera, crê e vive
Quero a certeza e a
garantia
De que nesta vida
atribulada
Quem planta, colhe
E só então, me
sentirei realizado e satisfeito
Com todas as guerras e
batalhas que travei
E orgulhoso de todas
as noites escuras
Que atravessei e das
feridas que sofri
Sim, meu irmão, meu
igual
Todo dia, o tempo
todo, sem cessar
E eu já quase não
posso resisti-la
A eternidade me
estende a mão
Mas eu digo não..., e
encolho a mão
Não estou preparado
ainda
Há tantas questões
inacabadas
Tanta vida para ser
vivida
Por enquanto, eu ainda
continuo por aqui...
Sorrindo gentilmente
para quem me sorri
Para quem me olha de
longe
Parecendo feliz
Mas no meu coração,
sempre derrotado
Diante da urgência do
tempo
Não posso negar, eu
sinto o pulsar - sem cessar
De uma voz embargada
de choro
Olhos rasos d’água, e
uma terrível solidão
Que pergunta: É só
isso, a vida? Ou existe nisso tudo
Um sentido maior e
desconhecido?
Sim, eu não sou
turista de nenhuma espiritualidade
Não cai de paraquedas
em nenhuma religião
No chão que me acolhe
- eu crio raízes e frutifico
Tudo que eu sei, tem
gosto de luta, sangue e suor
... Quanto tempo
ainda, meu Deus, quanta luta, quanta ferida
Quanta decepção,
quanta solidão, até a resposta definitiva?
Quanto tempo ainda, meu Deus, até ficarmos face a face?
_VBMello