De tudo que é passageiro
Desperdiçamos o tempo
E deixamos os nossos dias
Se perderem numa corrida sem sentido
Deus colocou a eternidade
Dentro do nosso coração
Mas entre nós
A eternidade
E o nosso coração
Há um grande abismo
Um grande desencontro
Entre nós e o céu
Esquecido ao pé de uma cruz
Para colocar fim ao desencontro
Há apenas um caminho
Onde cantam os anjos
E nascem fontes de justiça
Sob a sombra das árvores
E o olhar bondoso de Deus
Um caminho estreito
Rejeitado, ignorado, sofrido
Do qual os homens
Não fazem caso algum
Pois ele não admite atalhos
Mas é um longa caminhada
De fé e esperança
Numa mesma direção
Todavia, nos atalhos da existência
Onde os paraísos são artificiais
E a luz é demasiadamente ofuscante
Para deixar ver a verdade da vida
Onde o homem é lobo de outro homem
Onde a guerra é a regra
E a política é o jogo que tudo justifica
No rilhar das espadas, no ranger dos dentes
Caem os valentes e a terra suspira
E no pecado dos homens
A natureza adoece, agoniza e geme
Enquanto dormimos e sonhamos
Embriagados em jogos de poder
O grande dia, como um ladrão
Que deseja nos pegar de surpresa
Sorrateiro, se aproxima
Embriagados em narcisismo
Enquanto não acordamos da ilusão
De que este mundo é só o que podemos ver
Os sinais anunciam o que não queremos ver
E a grande noite vem como um ladrão
Gritamos: Paz. Paz
Mas vivemos tateando
Perdidos nos labirintos
De um grande salão
Um baile de máscaras
Onde queremos que todos saibam
Que temos uma consciência limpa e tranquila
Mas Deus é maior do que a nossa consciência
E a paz do mundo é só aparente
Um castelo de areia na beira do mar
Sem o perdão de Deus, ainda que ocultos
Atrás do pano da nossa consciência tranquila
Os nossos pecados, não serão perdoados
Temos fome! Gritam os senhores do mundo
Queremos mais prata. Queremos mais ouro
Temos fome! Queremos mais sangue
Queremos mais carne... Queremos mais prata
Movida a pecado sobre pecado
A máquina do mundo nunca dorme
Nunca cansa, nunca se arrepende
Sempre a devorar, sempre a matar
Sempre a destruir. Nunca se satisfaz
Devorando carne e sangue de humanos
Ela se renova dia após dias
Aspira ser eternidade
Todavia, nada é eterno no reino dos homens
Principalmente os homens
Passa o tempo
Morrem os homens
E morrem também
Os reinos dos homens
E os frutos do tempo, pelos quais intermináveis guerras se criam
Como a zombar da cobiça dos homens
A traça devora e a ferrugem corrói
Enquanto os povos e as nações
Lutam entre si
No horizonte desta era
Enquanto os homens dormem
Embriagados de cobiça e vaidade
E as suas almas se perdem em sonhos de grandeza
No horizonte distante, deixando atrás de si
O tempo e as obras do tempo
Já se pode vislumbrar os sinais da eternidade
Cavalgando sobre o cadáver de homens
Pisando escombros de velhos reinos
Trazendo consigo, para os seus, no dia em que o céu se abrir
Os seus frutos e os seus tesouros: um novo céu e uma nova terra
Quando então, conheceremos a alegria
De uma vida feliz por completo…
_VBMello