16 de fevereiro de 2020

DECLARAÇÃO TEOLÓGICA DE BARMEN – [31/05/1934]

Jesus Cristo, e não homem algum ou o Estado, é o nosso único Salvador. 

Jesus Cristo, como nos é atestado na Sagrada Escritura, é a única Palavra de Deus que devemos ouvir, e em quem devemos confiar e a quem devemos obedecer na vida e na morte.

Rejeitamos a falsa doutrina de que a Igreja teria o dever de reconhecer - além e aparte da Palavra de Deus - ainda outros acontecimentos e poderes, personagens e verdades como fontes da sua pregação e como revelação divina

Rejeitamos a falsa doutrina de que, em nossa existência haveria áreas em que não pertencemos a Jesus Cristo, mas a outros senhores, áreas em que não necessitaríamos da justificação e santificação por meio dele

Rejeitamos a falsa doutrina de que à Igreja seria permitido substituir a forma da sua mensagem e organização, a seu bel prazer ou de acordo com as respectivas convicções ideológicas e políticas reinantes.

Rejeitamos a falsa doutrina de que a Igreja poderia e deveria, ultrapassando a sua missão específica, apropriar-se das características, dos deveres e das dignidades estatais, tornando-se assim, ela mesma, um órgão do Estado.
********
*
*
IMAGEM - Selo postal alemão: "Jesus Cristo é a única Palavra de Deus. 50 anos da Declaração Teológica de Barmen."

17 de janeiro de 2020

Vivendo na fornalha do sofrimento – ilusões e verdades.


Continue o injusto a fazer injustiça, e continue o imundo a ser imundo. O justo continue na prática da justiça, e o santo continue a santificar-se. [Apocalipse 22:11]

1 - Durante muito tempo, movido por certo otimismo ingênuo para como o caminhar da humanidade, otimismo que não tenho mais, é bom que se diga, alimentei a doce ilusão de que o sofrimento – principalmente os grandes sofrimentos pessoais – carregava em si, a capacidade de transformar as pessoas, talvez – doce ingenuidade - até para melhor. Não acredito mais nisso. 

2 - É fato que, sob severa provação, parece haver uma mudança no modo de ser da pessoa, mas essa “leve mudança”, ao que parece, logo se desfaz sob a tirania dos velhos hábitos da vida pessoa. Em suma, o que a pessoa sempre foi, e isso pode ser observado em toda parte, assim que ela se adapta ao sofrimento, prevalece sobre o que ela poderia vir a ser.

3 - Deste modo, o que tenho visto - com meus próprios olhos -, e isso parece-me um fato universal, é que a experiência do sofrimento, quando muito, carrega em si (não mais que isso) o poder de revelar a verdadeira natureza da pessoa, ou seja, aquilo que a pessoa realmente é, sob as máscaras sociais que ordinariamente usa para se dar bem no dia a dia. Ou seja, o sofrimento não muda a natureza da pessoa, mas arranca da cara dela as suas máscaras todas, impedindo-a (como ela sempre fez) de continuar vivendo o mesmo teatro, fingindo descaradamente, ser o que não é. 

4 - Numa palavra: sob o fogo do sofrimento, o homem não se transforma, mas revela plenamente aos olhos do mundo, o seu verdadeiro modo de ser. Por exemplo, tenho visto (repito, com meus próprios olhos), que na fornalha do sofrimento, o homem bom continua sendo bom e o homem mau continua sendo mau. Por exemplo, no meio da tempestade, o covarde não consegue mais esconder sua covardia, mas a revela plenamente, pulando do barco. O mesmo vale para todos os tipos de comportamentos, altruístas ou egoístas. O sofrimento, por si só, não transforma um idiota num gênio, nem transforma uma pessoa ingrata numa pessoa agradecida. Revela, é verdade, a bondade e (ou) a maldade da pessoa, mas nem de longe tem poder para mudar uma pessoa má numa pessoa boa. O sofrimento não é Deus.

5 - A regra geral, parecer ser: quando a terra treme, o valente continua valente, o fraco continua fraco, o covarde continua na sua covardia, o narcisista continua no seu narcisismo, o idiota na sua idiotice, o sábio na sua sabedoria, o tolo na sua tolice, o mentiroso na sua mentira, o ingrato na sua ingratidão, e o oportunista continua exercendo sua porca natureza oportunista. Fora isso, ao menos no ordinário das pessoas, não há qualquer transformação significativa, que seja verdadeiramente digna de louvor. 

6 - Enfim, fora de uma leve e momentânea potencialização do vício ou da virtude, que já existe (latente ou não) na alma da pessoa, não parece haver nenhuma mudança significativa de caráter, de modo que, não é precipitado dizer que, mesmo na fornalha do sofrimento mais atroz, a pessoa, salvo um simulacro breve de mudança, continua sendo o que sempre foi, isto é: homem ou verme, sábio ou idiota. É isso. Para valer mesmo, no sofrimento ou fora dele, somente o Espírito Santo de Deus, tem poder para realmente mudar uma pessoa para melhor. O resto é supertição de gente (afastada de Deus) que vaidosamente gosta de alimentar a alma com ilusões e mentiras a respeito da prória vida e capacidade humana de autosuperação. 
_VBMello