14 de maio de 2013

Anjo Torto...

Anjo Torto...
*
Para Jack - On The Road - Kerouac, esteja ele onde estiver.
*
Sozinho,
Desamparado
Amigo de putas
Amante de prostitutas,
Anjo torto,
Poeta fracassado
Poeta amaldiçoado
Vagabundo
Renegado
Bode preto
Pária
Bêbado cambaleante na escuridão fria da noite profunda,
Indo sempre em frente,
Olhando, a cada passo, para trás,
Sem nada para ver
Sem nada para recordar
Sem nada para levar
Sem nada para deixar
Os dias escoando nos abismos dos meses
Os anos passando em vão
O corpo cansado e esfarrapado querendo ansiosamente voltar ao barro,
À lama da qual foi gerado
Cansado de passar a vida olhando a vida pelo buraco da fechadura,
Querendo ver o sobrenatural,
Mas o quarto da eternidade está sempre vazio...
Infinitas noites de insônia,
Cansado de viver fixo na terra,
Sonhando asas para voar,
Sonhando mares para navegar.
Tédio
Inquietação
Suspeita
O espírito sofre desiludido da vida entre os homens
Desespera-se para voltar a Deus,
Espírito e corpo, vento e poeira,
Eis sua imagem refletida no espelho enferrujado da existência...
Toda noite sonha quebrar o espelho,
Desfazer-se,
Perder-se no nada,
Partir sem avisar,
Sem olhar para trás,
Sem saudades,
Sem mágoas
Com mágoas
De qualquer jeito
Partir para nunca mais voltar
O espírito embriagado nas imensidões do Espírito de Deus,
Sumir numa carruagem de fogo,
Sumir num mergulho final
Um salto no vazio
Sem deixar sinais do seu sumiço...
Sem deixar sinais da sua sepultura
Bons sonhos,
Sonhados acordado
Com os olhos vidrados
Escrevendo poemas ruins
Passando as noites ao relento,
Um cão embaixo da mesa
Esperando migalhas do céu
Companheiro de ratos,
Que passa as noites acordado
Deitado num pedaço de papelão,
Chorando a perda de duas mil poesias perdidas sem querer.
Foi como perder um pedaço da alma...
Pobre alma mutilada
Vazia pela perda de tantas poesias feitas de sangue
E de nervos trêmulos
 Incineradas na casa da ignorância
Agora cheia de inquietações suicidas
Olha o as dores do mundo
Paraplégico numa cadeira de rodas,
O corpo quase sem vida...
À alma falta um braço,
Falta olho
Falta ouvido
Falta coração
Falta perna,
Falta a vida,
Falta o sopro de Deus
Falta tudo
Sobram dores
Oh, meu Deus!
Faltam as poesias perdidas sem querer...
Falta a inspiração que foi e nunca mais voltou
Todo é feito de anoiteceres sem fim,
Anjo torto
Bêbado
Vagabundo
Amigo de putas
Amante de prostitutas
Que passa as noites chorando
Tentando entender porque o destino nunca lhe sorri.
V.B.Mello

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