Pensativo, um anjo
de pedra contempla a imensidão dos túmulos...
Diante dele, filósofos,
teólogos, sociólogos, psicólogos, poetas...
Amantes, santos, prostitutas...
Ladrões e
trabalhadores...
Crianças e velhos...
Todos mortos...
Cadáveres devorados
por vermes e insetos...
Podridão sem fim...
*
*
Multiplicam-se sem
conta os sepulcros caiados
Da humanidade metamorfoseada
em lama
Sabedoria que ao
lado da tolice, descansa no pó da terra
*
Ah, o pó da terra...
O que seria de nós
sem o pó da terra?
Guerras, medos, paz,
cobiças, fomes...
No pó da terra tudo
finda...
Até amores se dissolvem
E ódios se resolvem
No pó da terra tudo
descansa
Dorme e esquece...
No pó da terra tudo
apodrece...
No pó da terra tudo
é o que é...
Nada, nada, nada...
*
No pó da terra todas as diferenças
No pó da terra todas as diferenças
Sociais, raciais,
religiosas, econômicas, sexuais, políticas, culturais...
Roídas por vermes vorazes
Resolvem-se em
podridão
*
Pobre anjo que tanta
derrota contempla...
Um riso triste estampa
seus lábios de pedra fria
*
Ele ergue a cabeça e
escuta com atenção...
Ao longe se ouve o
som de choro e lamentação
É mais um morto que
desce ao pó da terra...
Cai uma chuva
fina...
E a noite já vem
chegando
Sepultando sonhos
Sepultando vida não
vivida...
*
No céu, aves de
rapina
Na podridão da terra
Vermes e insetos
Todos aguardam
ansiosos o chamado para o banquete
Oh, horror...
Diante dos lábios tristes
desse anjo de pedra fria
Amanhã poderá não
ser outro dia...
V.B.Mello