17 de fevereiro de 2014

Anjo Caído...

Em noite fria e sombria
Na solidão da hora da alma inebriada
Quando anjos muitos
Nos abismos que as suas fortes
E orgulhosas
Asas criaram...
No reflexo do espelho dos seus desejos inconfessos
Mergulharam na perda da identidade da santidade
Eu... No avesso de mim
Irreconhecível a quem outrora me conhecia
Envolto no silêncio da solidão de uma vida
Que desabava...
Desenganado de mim mesmo
Num golpe incerto
Numa afronta premeditada contra o destino
Que o nada me destinava
Sem arrependimentos
Rompi com todos os umbilicais da existência
Morto o natimorto
Pois agora é que eu vivia
No lago das águas escuras e profundas
No turvado cristalino da m’alma
Incapaz de ver o reflexo do meu destino
Brilhando no brilho das estrelas
Que em multidão angelical
Caiam
Eu...
Das alturas do céu...
Acima das margens do oceano profundo
Caminhei até a borda mais íngreme do abismo...
Quando a noite caiu
Caí em mim mesmo
Num instante...
Dentro e fora da alma
A fonte dos desejos se quebrou...
No instante mesmo em que a chama do amor
No meu peito
Apagou
Enquanto eu...
Outrora cidadão celestial
Bestial
Entre anjos caídos que rastejavam pelo limbo da terra
A noite de aparência fria estremeceu
Peregrino nos descaminhos da desdita vida
Sob a tormenta
Que ardia nos ossos
O vermelho insone dos olhos desenganados
A carne trêmula
Ferida
A face pálida
Descarnada
Ao som de passos trôpegos e ocultos
Na densa escuridão da existência
De um corpo hesitante
Hesitando ao sabor insosso desse desatino chamado destino
A luz dos meus olhos escureceu no escuro da noite
E eu caí...
Oh, eu caí...
E quando o dia
Ardia
Depois de muitos dias...
O passado esquecido sob as brumas de tantas ausências
A vida marcada por infinitas reticências...
O caos já instalado nos abismos do coração
Morta a poesia que ainda havia...
Alma vazia de anjo caído...
Que mais me restou?
Oh, horror!
Que mais me restou?
No instante em que a escuridão levantou-se da sua solidão
Nas asas partidas pelo orgulho
Faltaram-me as forças do ar
Para me deixar levantar
E deixar-me
A alma
Calma
Pelos caminhos do vento incerto
Levar-me para longe do tormento que ora sou
Quando, então...
Tarde demais
Dei-me conta da tragédia...
Um anjo havia caído como se nada tivesse acontecido
Tarde demais! - Eu gritei
Tarde demais!
O dia já clareou
E eu já me acostumei com a escuridão da noite
E fiz dela
E ela de mim
Dentro e fora da m’alma
O meu dia
E eu o dela
A minha prisão
Sob a luz das estrelas
A minha solidão
Ausente eterno da eternidade
Ainda em pouca idade
De toda forma de redenção...
Ausente
E paixão
E amor
Eternamente
Por amor de mim mesmo
Sobrecarregado de dor
E pavor

VBMello

Nenhum comentário :