18 de agosto de 2014

Para ser poeta...

Alguém que conhece o céu, mas não conhece a terra, jamais será poeta... Para quem ele falará? Da mesma maneira, uma pessoa que diz conhecer a terra, mas não conhece o céu, jamais será poeta... Do quê ela falará? Sim, eu penso que para ser um bom poeta, é necessário conhecer a Deus e aos homens. É preciso não ter medo de altura, nem medo do vale sombrio da morte. Não deve ser impressionável, nem querer impressionar. Deve apenas ser. É preciso amar viver, mas não tanto a ponto de, por amor aos aplausos do mundo, perder a própria alma num mar de vaidades. É preciso não se tornar poeta aos próprios olhos. É preciso não ter medo da solidão. Sim, acima de tudo, não se deve ter medo, pois medo é um privilégio que o poeta não pode ter... Não deve ter medo nem do vazio, nem da falta de inspiração... Se o anseio de escrever não for inspiração suficiente, jamais haverá inspiração para ele... Deve ansiar ser um nada, isto é, livre de conceitos e convencionalismos, pois foi do nada que Deus fez tudo que há. Tudo que é original nasce do nada. Desejar ser original é desejar ter um espírito cheio apenas do inefável, pois somente assim, tudo, desde o cheiro do café feito na hora, até o movimento dançante de uma folha que cai numa tarde chuvosa de inverno, lhe servirá de inspiração... Tudo é inspiração para quem tem a alma livre. É preciso não ter medo da inspiração... Quando escrever, deve fazer jejum severo de leituras e músicas, pois o poeta deve escrever apenas tendo o silêncio do seu próprio coração como companhia, e mais nada. Não deve ser promíscuo, toda inspiração alheia deve ser vista como veneno para seu espírito poético, coisa que corrompe e prostitui a sua originalidade, que no fundo é toda a poesia que um poeta tem. E somente assim o vazio de uma folha de papel em branco terá para ele o mesmo valor do nada de onde Deus criou tudo que há. Diante do nada, ele deverá apenas fechar os olhos e abrir o coração para que a poesia aconteça... Deve conservar um espírito livre e sensível, e uma pele grossa, pois ser poeta é sofrer. E por que sofrer? Porque em um só tempo, ser poeta é descobrir e construir a própria alma. Para ser bom poeta, é preciso ter os pés bem firmes no chão... E a cabeça voando no mais alto dos céus... E o coração preso na eternidade... Sobretudo, o poeta deve amar – e amar sem medida -, porque o amor transcende a língua dos homens e dos anjos... E o que transcende a língua dos homens e dos anjos, é poesia.

VBMello

2 comentários :

vendedor de ilusão disse...

Realmente, ser poeta não é para qualquer...
Abraço e apareça.

IsaBelMontes disse...

Ser poeta é entender a «linguagem» do silêncio que sussurra entre o céu e a terra.
Bravo!

http://isabelmontes-poemas.blogspot.pt/