15 de maio de 2018

Quem perdeu a fé, pobre diabo, perdeu tudo

Oh, Deus! Meu Deus! Onde estás?
Pedi fé, deste-me o vazio
Um imenso e profundo vazio
Onde eu ando de um lado para outro
Sem nunca sair do lugar.


Os dias passam - sem parecer que passam
Os amigos e até os inimigos
Foram-se todos... Sobrou o vazio
Solidão absoluta... Absoluta solidão
Quem tem força para suportar isso?
Todavia, algo em mim continua lutando
Vivendo, suportando, vencendo
Rosnando, morrendo e renascendo.


Oh, horror! Onde está a piedade?
Onde está a misericórdia?
Não há mais nada pelo que lutar
Acabaram-se todos os propósitos
Quem perdeu a fé
Perdeu tudo
Perdeu a esperança
E perdeu também o amor.



Nada sobrevive nos vazios da fé
Acordar, viver, dormir, lutar
Nada mais tem valor

Todavia, que horror
Dia após dia
Vai-se existindo
Insistindo contra o vazio

O rosto marcado de insônia
Uma máscara imperfeita
Um sorriso amarelo
Fingindo vida
Mendigando alma
Assim, caminha um terço da humanidade
Que se deixa vencer pela hipocrisia
Fingindo felicidade
Quando o coração é só tristeza


O diabo, sempre ele... Não sei de onde ele veio... Não sei como surgiu... Não sei como chegou tão perto, cochicha em meus ouvidos: "Pobre miserável, você se abandonou... Agora, cheio  e vazio de tudo, a sua vida, você mesmo não valoriza; a sua morte, antes de acontecer, mil vezes, você mata e chora sozinho...Seus sonhos, seus dons, você desperdiça, querendo se economizar. então, agoniza em solidão... Sim, agoniza, pobre miserável sem fé... Talvez amanhã - ou depois de amanhã - Deus atenda aquela sua velha oração desesperada".


O diabo mente... o diabo nunca tem razão
Todavia, dentro e fora da alma cansada
Sem ter um lugar de fé
Para dormir ou descansar
O dia se transforma em dor
E a noite se transforma em pavor
E o pobre homem sem fé
Na desesperança do amanhã
Acredita nas mentiras do diabo
Desmorona, torna-se vítima
E num instante, rápido
Sem ele perceber
O seu hoje, o seu agora
A sua vida toda
É vencida pela dor de uma imensa confusão
E ele é derrotado, sem mesmo lutar
Vencido pelo o desespero
Derrotado pela solidão
Torturado pelo abandono
Encarcerado pela depressão


Aqui, nesse campo de batalha da alma
Chão duro de sangue e pecado
O mais próximo que eu já cheguei do inferno
Onde cada canto iluminado
E uma encruzilhada
Onde a vida estrece e chora
É cada um por si e o diabo contra todos
Não há heróis da fé
Só covardes perambulando
Pela beira de uma estrada larga
Mendigando uma migalha de compaixão


Oh, meu Deus!... Até as maiores distâncias
Que os olhos alcançam na névoa fria do mundo
O que se vê é gente chorando e se lamentando
Não estou sozinho no abismo
Ao meu redor, posso senti-los 
Gemendo na escuridão
Multidões que perderam a fé
Desumanizadas pela frieza
De tantos seres humanos desumanos
Andam em imensos círculos
Sem ir, nem voltar de lugar nenhum
O problema do mundo não é a humanidade
É a desumanidade que ronda bem perto de nós
Transformando homens em cães


Sim, humilhado, pelado
Como um cão sem dono
Danado, amaldiçoado
Correndo atrás do próprio rabo
No coração, resignado
Sem saber o que fazer
Com o sofrimento
Sem encontrar a saída
Do beco sem saída
Cansei de lutar
Parei de de crer
No fundo do coração
Cessou a visão
Enterrou-se o talento
Emudeceram-se as palavras
Cessou a caminhada
E na alma cansada e desesperada, cessou a oração
No peito aflito, cessou a respiração
Cessou tudo, começou a fim


Ouve os sorrisos? Sim, esses sorrisos em volta de mesas fartas?
É o diabo, sim, o diabo... É o abismo festejando a nossa derrota


Eia! Precisamos recomeçar
Precisamos acordar
A depressão mente
Ela sempre mente
Precisamos dizer não
Precisamos voltar ao começo
Precisamos amar
Precisamos recuperar a força de viver
Precisamos retomar a batalha pela nossa alma
Precisamos proteger o nosso coração
Precisamos rir do abismo que ri de nós


Sozinho no meio do nada
Orando mil orações desesperadas
Olho para o alto do céu
O mais alto que posso
Na imensidão
Sem perceber a ilusão
Me sinto imenso
Todavia, como sou pequeno e fraco
Um nada diante do caos


A minha alma, esse campo de batalha
Onde os meus amaldiçoados ancestrais
Ainda amaldiçoam e lutam entre si
Ao som do rilhar de dentes
Ao queimar do fogo
Sob o fio da espada
Quando a carne geme
E estremece... Perde a força
E anseia dormir e nunca mais acordar


Derrota! Derrota! Derrota!
Sob a pesada escuridão do céu silencioso
Que paira acima de nós
O meu coração sabe e não se ilude mais
Já não crê no amanhã
Cansou do agora
Nem perde tempo com esperanças tristes e vazias
É tarde demais...Grita o coração dentro do peito
O tempo da felicidade, que foi ontem, já passou
_VBMello

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