4 de maio de 2019

Por que leio tanto?

Por que leio tanto? 
Porque ando faminto
Por boas palavras 


Porque ando sedento
De bons sentimentos
Porque anseio
Por um pouco
De verdadeira
Luz, vida e paz 

Porque nem só de pão 
Vive o homem

Leio porque tenho outras fomes 
Que pão algum consegue saciar

Miserável do homem 
Que se sente saciado
Só com pão, sexo e dinheiro
É um mentiroso
Se existe - pobre coitado
É o mais vazio dos seres 
E não é nem um pouco precipitado 
Dizer - afirmar mesmo 
Que algo essencial 
Talvez a própria alma
Talvez a verdade
Talvez a dignidade
Morreu na alma dele
 

Leio para compreender mais 
Humanizar-me mais
Falar pouco
E julgar 
E condenar menos

Leio porque quero ser uma pessoa melhor

Leio porque a complexidade da vida 
Exige reflexão, meditação e contemplação

Leio porque quero ir além da aparência 
Das coisas, das pessoas e do mundo

Leio porque quero 
Renovar a minha mente 
Uma mente que não se renova 
Termina sepultada nos escombros 
Do desmoronamento moral e espiritual do mundo

Há tanta mentira
Tanta escuridão
Tanta dissimulação 
Tanta manipulação
Tanta traição
Ao redor  

De palavras ruins
Olhares mentirosos 
Corações empedrados
Palavras sem sentido
E sentimentos doentes
Sinto-me cercado e ameaçado 

Leio para impedir
Que a escuridão do mundo
Se apoderem do meu coração 
E corrompa a fonte primeira 
De todos os meus sentimentos
E envenene, adoeça e mate 
As minhas boas palavras

Vivo em tempos sombrios
Em que um bom livro
Nunca é só um bom livro
É uma rajada de ar puro
É o amanhecer de um dia de primavera
O entardecer de um dia de outono
Tudo isso - e muito mais
No meio de uma noite escura de inverno
Leio para fortalecer a minha fé 
Aprofundar a minha alma 
Conhecer Deus 
Compreender os homens
E saber de mim mesmo

Leio para fugir da mesmice
Para fugir do inferno

Leio para ser capaz 
De te olhar nos olhos 
E dizer - Eu, tu, nós

Leio para não te ver 
Como um isso 
Como um aquilo
Como uma coisa
Um objeto, um estranho
Um inimigo, mas um igual

Leio bons livros - é essencial dizer isso 
Para trazer Deus - e também um pouco 
De poesia - para dentro da minha solidão

Leio para educar e ocupar a minha imaginação
Uma imaginação desocupada e vazia 
É a maior de todas as fraquezas do homem 
Ela transforma um homem feito
Numa folha seca no meio de um temporal

Um homem forte interiormente 
Um homem que conhece a si mesmo
E temente a Deus
Não se deixa ferir por palavras 
Não se deixa intimidar por olhares

Mas um homem cuja imaginação é fraca
Ainda que aparentemente forte por fora
Se testado - e sempre somos testados 
Não suporta olhares, nem críticas
Nem palavras duras
Sofrimento então, nem se fala

Tem medo de escuro
Tem medo de solidão 
Tem medo de tudo
Tudo o fere
Tudo o deprime 
Tudo o faz sangrar
Tudo o faz desanimar 
Tudo o faz chorar 
Tudo o vitimiza
A imaginação fraca 
É a mãe de todos 
Os homens molengas
É a mãe de todos os suicidas 
É  mãe de todos os covardes 
Que estremecem e fogem 
Diante das aflições do mundo
Um homem cuja imaginação é pueril 
É ciumento e está sempre imaginando 
Um monte de coisas que não existem 
E Vive em estado de permanente
Vitimização e desconfiança

Sim, uma imaginação vazia, ociosa e sem Deus 
É a mãe de todas as mentiras e lamúrias
Habitando dentro do coração do homem

Sendo assim, leio para que nos dias maus 
Quando a noite é escura e o céu sem estrelas
A minha imaginação - habitada por mil fantasias sombrias
Não me apavore, e não me torture com as suas ilusões 
Para que não me enlouqueça e não me mate
Enfim, leio para que nas noites escuras e solitárias
A minha imaginação não minta para mim

Leio para nunca me sentir sozinho 
No deserto, no campo, na montanha
Na praia, na multidão ou onde quer que seja

Sim, eu não leio só para aprender
Leio também para me refazer 
Dentro e fora da alma 
Nos pensamentos, nas palavras
E no modo de ser...
_VBMello

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