Penso que esse hábito me salvou muitas vezes, quando atravessei crises infernais de depressão.
Quando a minha alma era tomada por um abissal vazio existencial e a minha mente ficava cheia de ideações suicidas, e o mundo antes tão colorido, sorridente e promissor, ficava sombrio e terrivelmente assustador, e eu via a minha vida toda como um imenso amontoado de sonhos mortos e sem valor algum, num esforço hercúleo, abria a minha Bíblia e começava ler. Lia e orava, lia e orava, lia e orava.
Muitas vezes não conseguia orar ou ler, mas ficava olhando o texto aberto nas minhas mãos, e isso, acreditem, muito me fortalecia e restaurava. Foram momentos de muito sofrimento. Não havia lágrimas, mas alguma coisa em mim, chorava alto. Cada crise matava um pedaço de mim. Depois de muitas crises, fiquei, dentro e fora da alma, completamente despedaçado. Sem forças para sonhar e sem energia para viver, eu, que antes era tão ativo, tornei-me uma estranha espécie de morto-vivo. Nada me envergonhava mais do que ser um morto-vivo. Minha alma tornou-se um abismo de escuridão e culpa. Dessa culpa nasceu uma quase irresistível vontade de dormir e nunca mais acordar. Felizmente, graças a Deus, sou ruim de pegar no sono.
Passei meses e anos de uma solidão absoluta. Lutando sozinho uma luta aparentemente invencível. Minha mãe e meus irmãos, jamais conseguiram penetrar a profundidade do meu desespero. Não fosse a graça de Deus, eu teria me matado e eles nem teriam ouvido o som do corpo caindo. Não os culpo. É difícil mesmo lidar com essa droga de doença, que, para começar, nem sequer parece uma doença. Parece frescura e coisa de gente mole. Todavia, é uma doença grave. Dizer que é frescura não ajuda. Só para constar, eu não sou mole. Nunca fui. Se fosse, já estaria morto, porque mais de uma vez, fui ao inferno e voltei. Sou um sobrevivente e sei disso.
Na minha solidão absoluta, agarrei-me a Deus. Não havia mais ninguém mesmo em quem me agarrar. Agarrar em Deus é modo de dizer. Nesses momentos, Deus parecia ser o ser mais improvável do universo. Tive algumas crises de fé. Lembro-me de que uma noite, lutando e perdendo, clamado por Deus e o sentido cada vez mais distante e indiferente, subitamente, desisti de tudo. Resolvi que se fosse para continuar assim, falando sozinho, melhor seria não crer em mais nada. Ato contínuo, joguei a minha Bíblia fora e pedi desligamento do rol de membros da igreja. Era a Igreja de Nova Vida. Seja como for, é tolice pensar que podemos nos afastar de Deus. Não podemos. Tentei fugir de Deus, mas Deus não me deixou em paz. No dia seguinte recuperei a minha Bíblia e a luta recomeçou. Minhas derrotas se acumulavam. Mesmo assim, quando conseguia, lia e orava, orava e lia. O diabo deitava e rolava. Todo tipo de negatividade invadia a minha mente. Agora, depois de ter jogado fora a minha Bíblia, eu me sentia como um Pedro que tinha negado a Cristo. Todavia, milagre! Pedi perdão e experimentei o poder restaurador do perdão.
Depois de um tempo, embora a depressão continuasse, as ideações suicidas sumiram. Não sumiram de uma vez, mas foram sumindo, amainando até desaparecerem. Hoje é raro que um pensamento suicida penetre a minha mente e perturbe o meu coração. Devo essa vitória ao Espírito de Deus. Talvez amanhã ou depois, eu tenha que enfrentar novas tempestades, mas por agora, pela misericórdia de Deus, vivo um tempo de calmaria.
Nesse processo dolorido, mas de vitórias gratificantes, aprendi muito sobre a eficácia da Palavra de Deus, aprendi muito sobre a minha mente e aprendi muito sobre a depressão. Hoje, acredito, mas não me iludo, estou melhor preparado para lidar com tempestades e noites escuras. Depois de um tempo de luta a alma da gente caleja e já não sente tanto. A luta nos endurece. Não tenho mais medo de olhar nos olhos da escuridão.
Meu hábito de ler e orar, pouco a pouco efetuaram uma (tremenda) transformação na minha mente. Hoje me sinto mais preparado para enfrentar minhas crises de depressão. Tenho mais consciência e controle dos meus estados emocionais. Meus pensamentos não estão desgarrados. Minha mente tem um centro em torno do qual tudo gira: Jesus Cristo. Sim, estou melhor preparado para o que vier, homem ou demônio. Não que eu confie na minha própria força, toda vez que confiei em mim, e foram muitas vezes, dei com os burros na água. Acredito que estou melhor preparado porque não estou sozinho. Tenho plena consciência de que Deus está comigo – e isso não é um modo de dizer, não é força de expressão. É a mais pura verdade. Ao logo dos anos, pouco a pouco, criei um precioso tempo de comunhão com Deus, uma comunhão como jamais tive com quem quer que seja. Uma comunhão só minha, que se aprofunda com o passar dos dias.
Penso que tenho certa intimidade com as coisas do alto, e é na força dessas coisas do alto – coisas de Deus – que eu me garanto contra as ameaças de novas crises de depressão, que certamente virão. Dia após dia, tenho aprendido a viver sob a sombra da eternidade. Dia após dia, tenho fortalecido a minha fé em Deus. Dia após dia, tenho alimentado a minha alma com o melhor pão do céu. Sinto-me forte - e até ansioso – para travar novas batalhas, afinal, como dizem, não existe vitória sem luta. É deveras reconfortante saber que Deus é um bom pai.
A graça de Deus me basta. É muito bom saber que eu não estou sozinho nesta batalha. É inspirado saber que maior é o que está comigo do que o que está no mundo. Sou fraco e o inimigo me despreza, mas a verdade que ele não sabe é que eu tudo posso naquele que me fortalece. Não fui chamado por Deus para ser saco de pancada da depressão. Se cair, não pretendo cair, cairei lutando. Enquanto o dia de novos enfrentamentos não chega, continuo lendo e orando, orando e lendo… É isso.
Penso que tenho certa intimidade com as coisas do alto, e é na força dessas coisas do alto – coisas de Deus – que eu me garanto contra as ameaças de novas crises de depressão, que certamente virão. Dia após dia, tenho aprendido a viver sob a sombra da eternidade. Dia após dia, tenho fortalecido a minha fé em Deus. Dia após dia, tenho alimentado a minha alma com o melhor pão do céu. Sinto-me forte - e até ansioso – para travar novas batalhas, afinal, como dizem, não existe vitória sem luta. É deveras reconfortante saber que Deus é um bom pai.
A graça de Deus me basta. É muito bom saber que eu não estou sozinho nesta batalha. É inspirado saber que maior é o que está comigo do que o que está no mundo. Sou fraco e o inimigo me despreza, mas a verdade que ele não sabe é que eu tudo posso naquele que me fortalece. Não fui chamado por Deus para ser saco de pancada da depressão. Se cair, não pretendo cair, cairei lutando. Enquanto o dia de novos enfrentamentos não chega, continuo lendo e orando, orando e lendo… É isso.
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