5 de outubro de 2013
A Noite Escura da Alma...
Passa da meia-noite...
Um sentimento de perigo perpassa pelo ar
E ronda de canto em canto
Até encontrar
Nas profundezas da floresta escura
Sozinha
Perdida
Uma criança que vaga procurando um destino
E na alma dela o medo faz sua morada...
Lobos uivam e espreitam na escuridão
Desamparada, a criança se encolhe e chora...
A matilha a cerca de perto
E a escuridão fica cheia de olhos e horrores
A criança desfalece
E no meio do nada
Quando tudo já está perdido
O improvável acontece
De repente, um urro medonho corta o ar
O tempo para
O mar se aquieta
A terra estremece
O céu prende a respiração
E o abismo se retira
E a criança, sozinha no meio do nada
Vê-se frente a frente com um imenso e terrível leão
Os lobos fogem em debandada
E a criança sorri e abre os braços num gesto de felicidade
Finalmente está em casa
Agora pode dormir em segurança...
V.B.Mello
E No Fim das Contas...
Pensativo, um anjo
de pedra contempla a imensidão dos túmulos...
Diante dele, filósofos,
teólogos, sociólogos, psicólogos, poetas...
Amantes, santos, prostitutas...
Ladrões e
trabalhadores...
Crianças e velhos...
Todos mortos...
Cadáveres devorados
por vermes e insetos...
Podridão sem fim...
*
*
Multiplicam-se sem
conta os sepulcros caiados
Da humanidade metamorfoseada
em lama
Sabedoria que ao
lado da tolice, descansa no pó da terra
*
Ah, o pó da terra...
O que seria de nós
sem o pó da terra?
Guerras, medos, paz,
cobiças, fomes...
No pó da terra tudo
finda...
Até amores se dissolvem
E ódios se resolvem
No pó da terra tudo
descansa
Dorme e esquece...
No pó da terra tudo
apodrece...
No pó da terra tudo
é o que é...
Nada, nada, nada...
*
No pó da terra todas as diferenças
No pó da terra todas as diferenças
Sociais, raciais,
religiosas, econômicas, sexuais, políticas, culturais...
Roídas por vermes vorazes
Resolvem-se em
podridão
*
Pobre anjo que tanta
derrota contempla...
Um riso triste estampa
seus lábios de pedra fria
*
Ele ergue a cabeça e
escuta com atenção...
Ao longe se ouve o
som de choro e lamentação
É mais um morto que
desce ao pó da terra...
Cai uma chuva
fina...
E a noite já vem
chegando
Sepultando sonhos
Sepultando vida não
vivida...
*
No céu, aves de
rapina
Na podridão da terra
Vermes e insetos
Todos aguardam
ansiosos o chamado para o banquete
Oh, horror...
Diante dos lábios tristes
desse anjo de pedra fria
Amanhã poderá não
ser outro dia...
V.B.Mello
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