15 de fevereiro de 2019

Se os teus olhos forem bons…


A beleza está em toda parte

O olhar não produz a beleza

Apenas a acolhe – ou não


O olhar mais perfeito

Quer dizer, o mais puro

O mais maduro e iluminado

Que nos dá mais satisfação de viver

E que reflete melhor a nossa alma

É aquele que não se deixa embrutecer

Pelas circunstâncias negativas da vida

Mas que mesmo no meio da tempestade

Mesmo sozinho num caminho de sombra e morte

Tateando na escuridão, por assim dizer

É capaz de encontrar e acolher

Com alegria e gratidão

A beleza que existe dispersa

No mundo ao seu redor

Tornando-se, assim, ele mesmo

Ao refletir de volta para o mundo

A beleza encontrada e acolhida

Mais puro, mais profundo, mais humilde

Mais simples e mais belo

Pois a beleza acolhida com gratidão

Embeleza e enobrece o olhar que a acolhe 


Sem essa capacidade de ver, acolher e refletir a beleza

Independente da idade, todo olhar é velho

Toda pessoa é desconfiada

Estranha ao mundo ao seu redor

Cansada, armada, sem brilho próprio

Vazia de inspiração e criatividade

Insegura e incapaz de transmitir calor

Fé, esperança e bom ânimo

Despreparada para a eternidade

E condenada a ver no mundo e nas pessoas

Apenas a mesma projeção da escuridão

Que habita, rosna, sofre e rumina ameaças

Nas profundezas do próprio coração endurecido

Pois a vida, sim, não pode ser verdadeiramente bela

Se não for capaz de ser tocada, iluminada e transformada

Pela atividade da beleza que se move

Nos lugares, nas coisas e nas pessoas

Que se encontra no caminho da vida 

E se insinua ao nosso coração

Como puro movimento restaurador 

Da graça e do amor de Deus

No calor e nas lutas do dia a dia.

_VBMello

29 de janeiro de 2019

Vale do rio amargo

Para a Vale - Quanto vale uma vida?
Quanto vale não evitar uma tragédia?
Qual o custo de ganhar 
como num jogo perigoso
Com a possibilidade da morte 
E da destruição de vidas inocentes?

Depois de transformar Brumadinho
Num cemitério a céu aberto
É assim que a Vale 
Busca a sua redenção
Para começar a negociação
Ela avalia – na ponta do lápis
Calcula por baixo
O valor da destruição
E faz promessa de doação
Em memória de cada pessoa morta
Barato – aproximadamente cem mil
Para quem lucra bilhões e bilhões

Que miséria moral – na Vale
É mais lucrativo cobrir
Os custos de uma tragédia
Do que evitar a tragédia
É mais barato matar
Do que evitar a morte

Que horror! Na vale
A morte é parte da diretoria

Estamos lidando aqui com a economia do demônio
Para a Vale, entre as coisas que o dinheiro compra
Conta-se o direito de destruir Mariana e Brumadinho
Conta-se também o direito (comprado)
De poluir o ar e destruir rios e florestas

Mas não é só isso
A economia do inferno vai além
Não há exceção
Na cadeira do inferno
Onde Mamon é rei
Tudo é negociado 

Na Vale – essa extensão do inferno entre nós
Por que não estou surpreso?
Até corpos e almas
De homens e mulheres
É negociado
Tudo é mercadoria
Tudo é coisa descartável
Que o dinheiro compra barato

Tudo normal no reino da Vale
Amanhã – ou depois de amanhã
Como foi em Mariana
Depois que a lama assentar no fundo rio
E as consciências políticas 
Por descaso ou corrupção
Se cauterizarem - de novo
Depois que a justiça fracassar – de novo
A Vale - de novo e de novo
Incapaz de aprender com o passado
Como se nada tivesse acontecido
Seguirá seu batido caminho de destruição
Aqui e ali, como um demônio destruidor
Negociando corpos e alma de homens e mulheres
Em troca de um lucro gordo e fácil…

_VBMello

Veja também: Entre Mariana e Brumadinho - e mais além