28 de agosto de 2019

Por que oramos?

Por que oramos? Oramos por várias razões. Acima de tudo, nestes tempos complicados, conturbados e maus, onde é fácil confundir as coisas e perder o rumo certo da verdade e da justiça, oramos pedindo talentos, dons, força, coragem, perseverança e discernimento espiritual para, no meio do caos assustador do mundo, vivermos nossa vida de modo simples, imperturbável, digno e agradável a Deus.

Oramos porque as necessidades da vida não se restringem à satisfação de necessidades materiais. A vida não se resume ao que o dinheiro pode comprar. Temos tantas necessidades que o dinheiro não pode comprar - comunhão, amor, paz, serenidade -, tanta fome que pão algum deste mundo consegue saciar, de modo que, mesmo ocasionalmente cheios de todos os prazeres que o mundo oferece e o dinheiro pode comprar, ainda assim nos sentimos completamente vazios de uma vida plena de verdade, significado e sentido verdadeiro, por isso também oramos, isto é, para que o Espírito de Deus nos visite, nos liberte e nos sacie espiritualmente, dando-nos uma razão maior para viver e lutar. 

Oramos para que a vontade de Deus seja feita em toda a terra. Oramos pelo pão nosso de cada dia. Oramos para que Deus não nos deixe cair em tentação e nos livre do mal. Oramos pelo perdão dos nossos inimigos. Oramos para encontrar e trilhar persistentemente o caminho de Deus, no meio dos labirintos sombrios do mundo. 

Oramos para acender uma luz no meio da escuridão - a luz de Deus. Oramos por avivamento pessoal. Oramos para que Deus nos use para alguma coisa digna e boa, apesar de nós. Oramos porque, no mundo espiritual, sem o auxílio de Deus, nada podemos fazer de bom, justo e verdadeiro. 

Oramos e nos achegamos a Deus em busca de discernimento, sabedoria, profundidade espiritual, graça, paz, vida e transformação interior, porque soltos por nossa própria conta, perdidos e desamparados no mundo, sem o Espírito Santo, nem bem compreendemos o nosso próprio modo de ser, falar e agir. 

Sim, oramos para pedir perdão e misericórdia, porque somos absurda e perturbadamente pecadores e carentes da graça de Deus. Oramos para dizer muito obrigado, porque tudo que recebemos de Deus, nossa vida, nossos sonhos, nossos talentos, nossa fé, nossa esperança, nossa respiração e tudo o mais, é favor imerecido. 
_VBMello

27 de agosto de 2019

O poder transformador da oração pessoal

Note bem. A oração, feita com persistência e fé, supre as nossas necessidades e transforma a nossa vida inteira. Ela muda a nossa sorte, transforma as nossas circunstâncias, modifica a nossa conduta e direciona a nossa existência inteira para a presença soberana e amorosa da face de Deus. Por dentro e por fora, no coração e nos gestos, no modo de ser e no jeito de viver, ela modifica nossa vida inteira. Ela nos transforma em pessoas melhores, mais sóbrias, humildes, justas, misericordiosas e verdadeiras. O tempo que passamos ajoelhados na presença de Deus, em espírito de oração, mexe com as nossas entranhas. 

É bom que as pessoas orem umas pelas outras, mas a verdade é que, sem gastar tempo lutando em oração pessoal (lutando suas próprias lutas, em secreto), você pode passar mil anos escutando sermões, tranquilamente sentado no banco de uma igreja, sem jamais experimentar nenhum tipo de mudança verdadeira, na alma, no coração e nos pensamentos. A vida sem oração pessoal é sempre mais do mesmo. Numa palavra: Sem oração pessoal, sem mudança verdadeira de vida. 

Com efeito, a oração persistente transforma a nossa vida. Não falo aqui de uma transformação qualquer, superficial e vulgar, que hoje existe e amanhã não existe mais, mas de uma transformação profunda, eficaz e permanente, singular e visível, que opera na raiz dos sentimentos e dos pensamentos. Uma transformação no tutano da alma, que brilha como luz na escuridão. Uma transformação diante da qual, querendo ou não, ninguém fica indiferente. Uma transformação visível. Uma transformação que afasta algumas pessoas e atrai outras. As pessoas amigas, por exemplo, que tem olhos para ver e ouvidos para ouvir, notam o Espírito de Deus trabalhando em você, e agradecem a Deus pela sua transformação espiritual. As pessoas inimigas, te chamam de hipócrita. 

Sim, vida espiritual é mudança interior que se vê estampada do lado de fora da alma, no brilho dos olhos e na leveza dos gestos. Podemos dizer assim, sem medo de errar: nossa cara, nossa alma, nossos sonhos, nosso coração, nossa história de vida, enfim, tudo que somos, tem a cara e a qualidade do tempo que passamos sozinhos em oração.

Vida de oração pessoal é sinônimo de mudança e maturidade espiritual. A oração é a diferença espiritual que faz a nossa vida ser completamente diferente da vida que tínhamos antes de nascermos de novo. Por meio dela, desenvolvemos novos gostos e novas alegrias, novos costumes e novas palavras, novo olhar, nova visão de mundo, e um novo propósito de vida. O pecado que nos alegrava antes, não nos alegra mais. O que antes nos encantava, não encanta mais. O que nos aprisionava, não aprisiona mais. O que nos derrubava, não derruba mais. O que nos impedia, não impede mais. Eis que tudo se fez novo. 

Efetivamente, em grande medida, o que somos e o que pretendemos da vida, o que aprendemos e o que ensinamos, o que retemos e o que largamos de lado, o que nos alegra e o que nos entristece, enfim, o que deixamos como herança, o bem que fazemos, a paz que comunicamos, a esperança que passamos para frente, as saudades que levamos conosco, quando a nossa hora de partir, finalmente chegar, é o resultado direto das orações que fazemos na vida. 

A oração pessoal e privada, é a condição e a prova da vida espiritual. Onde há vida espiritual, há oração. Onde não há oração, não existe espiritualidade cristã verdadeira. Sem oração não temos nenhuma história de vitória espiritual saudável para contar a quem quer que seja, posto que é através de uma vida de constante oração, que travamos batalhas e obtemos vitórias impossíveis de se conseguir de outra maneira. Sem oração as paixões da carne dominam a nossa vida inteira, e as nossas histórias acabam todas marcadas pela queimadura do pecado da vaidade, da vanglória, do orgulho e do egoísmo. As boas histórias da vida cristã, sem exceção, são todas histórias de fé e oração. 

Crentes que não oram (sim, essa raça existe), não possuem boas histórias espirituais para contar. Espiritualmente falando, são uns derrotados, continuamente vencidos pela carne, pelo mundo e pelo diabo. Tais crentes estão sempre perturbados, angustiados, cheios de incertezas, dúvidas, perguntas e contradições. Velhos no tempo decorrido de igreja, todavia, ainda assim, coisa feia, necessitados de alguém que lhes ensine novamente os fundamentos da fé verdadeira. Estão sempre buscando conhecimento, mas nunca aprendem nada. Já lidei com eles (o teísmo aberto está cheio deles), suas palavras são incertas, sem convicção e sem vida. Não creem na soberania de Deus, por isso, não oram. Não vale a penas perder tempo ouvindo o que eles têm para dizer. Suas palavras são sempre cheias de sofismas, amarguras e desilusões. 

Li em algum lugar que as orações de Martyn Lloyd-Jones aos domingos, antes do sermão, durava até quinze minutos. Mas tem crente que pensa que orar é dizer olá para Deus, coisa de um minutinho. Seria cômico, não fosse trágico. Os crentes que pensam que oração não exige compromisso, tempo, lugar e qualidade, são aqueles que, no meio de uma crise qualquer, até um espirro derruba e faz desistir. “Estar sem oração é estar sem Deus, sem Cristo, sem graça, sem esperança, e sem céu. É estar na estrada para o inferno.” (J. C. Ryle)

Não há vida espiritual que não venha da prática constante de oração pessoal e privada. Se queremos viver uma vida espiritual madura e produtiva, precisamos entrar em nosso quarto e orar sem cessar. Se a nossa intenção é consolar, perdoar e gerar vida, em vez de desânimo e morte, passar tempo em oração é essencial.

 A oração é, digamos assim, o combustível da fé, do amor e da esperança. Sem ela o frágil barquinho da vida, não tem força suficiente para atravessar mares tempestuosos. Com efeito, sem oração, a vida de fé não anda, desanda, não se constrói, destrói-se, não se resolve, acovarda-se, não se lança ao mar alto, atravanca e naufraga em pequenas tempestades de copo d’água. 
_VBMello