2 de março de 2020

Não são as palavras que curam e consolam... É quem fala.

Se não estou verdadeiramente disposto
Num exercício de sincera humildade
A reconhecer e confessar
As minhas próprias faltas e feridas pessoais
É simplesmente em vão
Que aponto e tento curar
As dores e as feridas dos outros.

A primeira tarefa do curador
E que tarefa difícil
É, mediante o Evangelho da graça
Ser sincero consigo mesmo
Sem filtros, examinar a si mesmo
Olhar demoradamente
Para o próprio coração
E reconhecer seus próprios pecados
Faltas, feridas e limitações.

O pior curador - o mais hipócrita
É o curador que - cheio de evasivas
E palavras vazias de alma
Não reconhece as suas próprias feridas
Mas, em toda ocasião
Finge-se de forte e íntegro
Quando está quebrado por dentro.

O pior curador é o que não reconhece
Que precisa da cura de Deus
Antes de se aventurar a curar outros.

Um curador inconsciente
De suas próprias feridas
Não desenvolve compaixão
Não estabelece empatia
E não chega ao coração do outro.

Por conseguinte, pela insensibilidade
Que lhe é característica
Em suas tentativas de trazer
Alguma cura e paz aos feridos de alma
Ele corre o risco, não de curar
Mas de aumentar o sofrimento alheio.

Porque, verdade seja dita
Grosso modo, não são as palavras
Que curam é consolam. É quem fala.
É quem foi curado pela graça de Deus.
_VBMello

Imagem - cena do filme Silêncio (1917) - Martin Scorsese.

19 de fevereiro de 2020

Quase lamento não ter sido um assassino cruel - EXERCITANDO MINHA IRONIA.

Mma, Rede, Gaiola, Tatuagens, Barba, Pessoas, Pessoa
No meio dessa indústria de testemunho
Que invadiu a igreja
Sozinho no meu canto
Quase lamento não ter sido um assassino cruel
Um ex presidiário de um comando qualquer
Só para ter um belo testemunho para contar

Sim, no meio dessa indústria fabulosa de testemunhos
Relegado a coisa nenhuma, quase lamento
Não ter matado meus pais a paulada
Como um Richthofen qualquer
Quase lamento não ter tido filhos
Para jogar todos pela janela
Como um Nardoni qualquer
Ou ter sido um vida louca 
Ou um goleiro Bruno
Mestre em fazer desaparecer corpos
Ou um Bola, um Macarrão
Ou ter sido um ator pornô qualquer
E, talvez, assim, com tal fama de ex homem mau
No meio de tanto testemunho sobrenatural
Ter alguma relevância no meu falar

No meio desse comércio de coisas da fé
Eu, mero homem comum, sem grandes pecados para contar
Sem grandes dons, ainda que artificiais, para exibir
Quase lamento não ter sido um viciado qualquer
Desses que mata os pais e rouba os avós
Só para curtir mais uma noitada
E depois de tudo, arrependido e batizado
Ter um belo testemunho para contar

Miserável homem que sou
Olho para mim e tenho pena
Meu corpo magro, coberto por roupas velhas
Não dizem coisas boas sobre mim
Estou tão fora de moda, nessa indústria da fé
Estou tão fora de lugar
Até como pecador, acreditem, fracassei
Sou um mero pecador covarde
Nunca persegui a igreja
Nunca zombei dos irmão de fé
Nunca vi anjos, não sou profeta
Não tenho visões, e os meus sonhos
Não valem coisa alguma
Não sei escrever livros
Não falo bem em público
Nunca, que eu saiba, nem uma mera alma
Se converteu ouvido minhas palavras
Como poderia?
Não falo gritando
Não prego pulando
Não ameaço ninguém com o fogo inferno
Não faço apelos desesperados
Não sei cantar... Pior, não sei mentir

Meu testemunho não impressiona ninguém
Como poderia? Não sou ex ator pornô
Ex bêbado, ex assassino
Não sou vigarista
Não acumulei riqueza 
Não ostento relógio de ouro
Não ostento luxo no instagram
Não sei usar fotoshop
Não cometi adultérios
Não sou ex ateu, ex satanista, ex maçom
Não matei ninguém, nunca roubei
Nunca trai quem confiou em mim
Nunca cheirei pó
Nunca fumei maconha
Nem tatuagem eu tenho
Nem cerveja eu bebo
Na arte de pecar, matar, roubar e destruir
Sou um completo fracassado 
Minha história é um tédio só

Nesses dias em que as pessoas 
Andam com coceira nos ouvidos
Ser o que sou
Um crente com a Palavra gravada no coração
Homem de um assunto só, Cristo Jesus
Não impressiona ninguém
Oh, meu Deus! É urgente
Preciso de um testemunho impressionante para contar…
_VBMello