Na superfície, o mar
encapela
O fogo se alastra e
tudo devora
As ondas tornam-se
violentas
O céu escurece
O sol se põe
A noite cai
O vento sopra forte
A tempestade furiosa...
Habitação de toda
sorte de sombras
Hipocrisias,
mentiras e vozes medonhas
Desaba sobre a
fraqueza da carne doente
Que relegada ao
relento, agoniza
A noite é profunda e
ameaçadora
O caos tem fome
A escuridão tem fome
Anjos caídos tem
fome
As trevas assediam e
seduzem
Solitário, o barco
ameaça soçobrar
Levado ao limite do
desespero
Curvo a cabeça e me
lanço na água revolta
Mergulho além da
superfície do caos
O silêncio invade
m’alma
De olhos fechados
vou além da aparência das coisas
Esvazio o meu
coração do peso dos seus vazios interiores
Duvido das minhas
dúvidas
Em completa solidão
Nem bens, nem
certezas
Nada possuindo
Vou além da superfície
Desço até as
profundezas da minha alma
Afundo-me no pântano
de mim mesmo
Armado com as palavras
da minha boca
Enfrento meus
demônios interiores
Adentro pelos
portões de um bosque calmo e verdejante
Onde reina a luz e a
bonança
E ali, bem-aventurado
À sombra da Árvore
da Vida
Onde as trevas não
se atrevem a chegar
Longe das
mendicâncias da vida superficial
Envolto pelo sopro
do Espírito
Deposito a minha
armadura
As portas de m’alma
guardadas e protegidas
Por espadas de fogo
consumidor
No cume da mais alta
montanha
Descanso...
V.B.Mello