23 de agosto de 2019

Menos performance, mais Evangelho.

A verdade bíblica é uma só, mas a sua aplicação, nos mais diversos contextos, para ser perfeitamente compreendida, sempre dentro dos limites dados pela iluminação do Espírito Santo, exige alguma criatividade do pregador, isso é um fato. Um pregador seco - já vi alguns - é uma tragédia total. Todavia, isso não justifica a loucura desesperada que vemos em nossos dias. Para manter a audiência, atrair e conservar pessoas fielmente sentadas em seus bancos de igreja, tem pregador que é capaz de tudo, até de transforma o culto todo num puro espetáculo de criatividade humana, digno de mil curtidas nas redes sociais, e nada mais.

No centro desses espetáculos "de fé", a forma quase sempre sufoca e engole a verdade da salvação. Essa preferência epidêmica pela criatividade ao invés do anúncio puro e simples da verdade sagrada, tem altos custos espirituais para a vida cristã. Por exemplo, tais “cultos de poder”, mesmo que a pessoa assista mil deles, não produzem fé verdadeira, produzem, isso sim, estados de espírito alterados e exaltados, que são confundidos, por falta de conhecimento bíblico, com fé verdadeira, ou, se eventualmente produzem alguma semente de fé legítima, por falta de base bíblica sólida, tal semente é logo pisada e morta pela ação do inimigo. 

E a razão desses cultos não estimularem a fé verdadeira é muito simples e óbvia. É que a verdadeira fé, aquela que transforma a vida, alimenta o espírito, ilumina os pensamentos e suporta todo tipo de adversidade, vem pelo ouvir da pura e simples pregação da Palavra de Deus, e não pelo entretenimento circense de pessoas desavisadas. Com efeito, a salvação não vem pela comédia, vem pelo drama da cruz. Parece que isso foi esquecido em nossos dias. 

Ao contrário do que muitos pensam e acreditam (sim, tem gente que acredita nisso), ser criativo no púlpito não é a principal função do pregador. Para ser bem sincero, salvo em alguma situação específica, sempre guiada pela iluminação do Espírito Santo, a criatividade não é nem mesmo necessária ao pregador. A principal característica do pregador é abrir a Bíblia e pregar o que está escrito. Simples assim. Você não precisa reinventar a roda, você não precisa inventar moda, só porque estamos no século XXI. O que tem demais o século XXI, que a pregação da Palavra de Deus precisa ser "reinventada", só para agradar as pessoas? Ponto final. A Igreja não é um picadeiro em desesperada competição com os picadeiros do mundo. A Igreja é o corpo de Cristo, e o Evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê em Cristo. 

Segundo Lutero, "a igreja é o lugar em que a Palavra de Deus e pregada e ouvida e em que os sacramentos são administrados segundo a instituição de Cristo." Enfim, a Igreja não é uma casa de espetáculos, é um lugar de  pregação da Palavra de Deus, para a salvação da alma.

Apesar do avanço da ciência e da tecnologia, o homem de hoje, nas suas necessidades de Deus, não difere em nada do homem de antigamente. O homem de hoje, como o homem de antigamente, é também um pecador e carente da graça de Deus. Preguemos, portanto, o Evangelho puro e simples, pois, o Evangelho não precisa se adaptar à cultura  ou imitar modismos do mundo, para se tornar eficaz para a salvação dessa geração de pecadores. Mais um vez: a função da pregação não é entreter e arrancar risadas das pessoas, é levá-las a um encontro legítimo com Jesus Cristo e guiá-las e animá-las no estreito caminho da santidade. Repito: não é fazer rir, é levar ao arrependimento de pecados. 

É uma vergonha - uma verdadeira tragédia espiritual - que a igreja, hoje em dia, esteja tão infestada de “pregadores” que só sabem fazer as pessoas darem risadas. A propósito, uma pessoa pode passar a vida inteira numa igreja dessas - dando risadas - e mesmo assim não aprender quase nada - ou nada - do verdadeiro e puro Evangelho. 

Com efeito, a ideia fixa de que a criatividade possa ser boa para a pregação, como tantas vezes vemos, é só mais uma forma de matar o poder do Evangelho e transformar a igreja num circo, que aniquila o poder da verdadeira pregação cristã, transformando o culto todo em mera encenação teatral da criatividade humana. Que decadência espiritual! Numa palavra: O Evangelho de Cristo não precisa de encenação, precisa apenas de homens comprometidos com Deus, e que ousem pragar o que está escrito. Simples assim.
_VBMello

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