5 de outubro de 2013

E No Fim das Contas...

Pensativo, um anjo de pedra contempla a imensidão dos túmulos...
Diante dele, filósofos, teólogos, sociólogos, psicólogos, poetas...
Amantes, santos, prostitutas...
Ladrões e trabalhadores...
Crianças e velhos...
Todos mortos...
Cadáveres devorados por vermes e insetos...
Podridão sem fim...
*
Multiplicam-se sem conta os sepulcros caiados
Da humanidade metamorfoseada em lama
Sabedoria que ao lado da tolice, descansa no pó da terra
*
Ah, o pó da terra...
O que seria de nós sem o pó da terra?
Guerras, medos, paz, cobiças, fomes...
No pó da terra tudo finda...
Até amores se dissolvem
E ódios se resolvem
No pó da terra tudo descansa
Dorme e esquece...
No pó da terra tudo apodrece...
No pó da terra tudo é o que é...
Nada, nada, nada...
*
No pó da terra todas as diferenças
Sociais, raciais, religiosas, econômicas, sexuais, políticas, culturais...
Roídas por vermes vorazes
Resolvem-se em podridão
*
Pobre anjo que tanta derrota contempla...
Um riso triste estampa seus lábios de pedra fria
*
Ele ergue a cabeça e escuta com atenção...
Ao longe se ouve o som de choro e lamentação
É mais um morto que desce ao pó da terra...
Cai uma chuva fina...
E a noite já vem chegando
Sepultando sonhos
Sepultando vida não vivida...
*
No céu, aves de rapina
Na podridão da terra
Vermes e insetos
Todos aguardam ansiosos o chamado para o banquete
Oh, horror...
Diante dos lábios tristes desse anjo de pedra fria
Amanhã poderá não ser outro dia...

V.B.Mello

29 de setembro de 2013

Castelo de Cartas...

Olhe ao redor
A tarde chegou
Nada aconteceu
O céu está pesado e nublado
Choveu a noite inteira
E você fazendo planos de insônia?
Não vê a ilusão?
Olhe melhor ao redor
Não sente a solidão do seu castelo de cartas?
A fragilidade da sua existência?
Como uma mulher que deu a luz
E perdeu a criança para os braços da morte
A natureza geme e grita
Não vê? Não ouve?
Tudo está por um triz...
O céu azul de ontem, hoje está negro como breu
As flores murcharam e feneceram
Os dias de glória hoje são lembranças de escória
Os poemas dormem na escuridão da gaveta
E os sonhos na escuridão do coração...
E as esperanças, nem bem nasceram...
Há uma serpente no paraíso... Já se esquece?
Ao pó da terra, descerás...
E isso não é nada demais...
Tudo muda e continua mudando
Tudo que é solido desmorona no ar
Ouve o riso das pessoas?
As gargalhadas?
As ruas escuras...
As praças sombrias...
Esses becos tenebrosos que dão acesso ao fundo da sua alma...
Você tem coragem de passar, à meia-noite?
E depois da noite tenebrosa, quem você vê no espelho?
Seus planos e seus sonhos para amanhã?
Que ilusão!
Que ilusão!
O quê?
Esses sorrisos?...
Ou esse “por um triz?”
?
?
?
?
Os dois...

V.B.Mello