18 de fevereiro de 2014

Confesso que vivi...

Quem me conhece
- umas três almas boas, e mais ninguém
Gente para quem um pingo é letra -
Sabe o preço que eu paguei
Por ousar viver cada dia dessa incerteza
Que descuidadamente
Chamo de minha vida
Com o coração exposto fora do peito
E a face limpa e sem máscaras
*
Deus sabe quanto tem me custado
Ser eu mesmo
E eu não me arrependo de nada
Porque, ao contrário do que muitos pensam
Esses que me olham de longe e muito rapidamente
Todas as minhas perdas
E não foram poucas
Foram na verdade
Ganhos
Pois eu
No corpo
Na alma
E no Espírito
Vi e vivi tudo
Que me foi dado para viver
Eu me embriaguei de vida
Até as fronteiras da morte
Eu fui até as fronteiras de todos os meus limites humanos
Eu confesso que morri...
De tanto viver
E não me arrependo de nada

VBMello

17 de fevereiro de 2014

Anjo Caído...

Em noite fria e sombria
Na solidão da hora da alma inebriada
Quando anjos muitos
Nos abismos que as suas fortes
E orgulhosas
Asas criaram...
No reflexo do espelho dos seus desejos inconfessos
Mergulharam na perda da identidade da santidade
Eu... No avesso de mim
Irreconhecível a quem outrora me conhecia
Envolto no silêncio da solidão de uma vida
Que desabava...
Desenganado de mim mesmo
Num golpe incerto
Numa afronta premeditada contra o destino
Que o nada me destinava
Sem arrependimentos
Rompi com todos os umbilicais da existência
Morto o natimorto
Pois agora é que eu vivia
No lago das águas escuras e profundas
No turvado cristalino da m’alma
Incapaz de ver o reflexo do meu destino
Brilhando no brilho das estrelas
Que em multidão angelical
Caiam
Eu...
Das alturas do céu...
Acima das margens do oceano profundo
Caminhei até a borda mais íngreme do abismo...
Quando a noite caiu
Caí em mim mesmo
Num instante...
Dentro e fora da alma
A fonte dos desejos se quebrou...
No instante mesmo em que a chama do amor
No meu peito
Apagou
Enquanto eu...
Outrora cidadão celestial
Bestial
Entre anjos caídos que rastejavam pelo limbo da terra
A noite de aparência fria estremeceu
Peregrino nos descaminhos da desdita vida
Sob a tormenta
Que ardia nos ossos
O vermelho insone dos olhos desenganados
A carne trêmula
Ferida
A face pálida
Descarnada
Ao som de passos trôpegos e ocultos
Na densa escuridão da existência
De um corpo hesitante
Hesitando ao sabor insosso desse desatino chamado destino
A luz dos meus olhos escureceu no escuro da noite
E eu caí...
Oh, eu caí...
E quando o dia
Ardia
Depois de muitos dias...
O passado esquecido sob as brumas de tantas ausências
A vida marcada por infinitas reticências...
O caos já instalado nos abismos do coração
Morta a poesia que ainda havia...
Alma vazia de anjo caído...
Que mais me restou?
Oh, horror!
Que mais me restou?
No instante em que a escuridão levantou-se da sua solidão
Nas asas partidas pelo orgulho
Faltaram-me as forças do ar
Para me deixar levantar
E deixar-me
A alma
Calma
Pelos caminhos do vento incerto
Levar-me para longe do tormento que ora sou
Quando, então...
Tarde demais
Dei-me conta da tragédia...
Um anjo havia caído como se nada tivesse acontecido
Tarde demais! - Eu gritei
Tarde demais!
O dia já clareou
E eu já me acostumei com a escuridão da noite
E fiz dela
E ela de mim
Dentro e fora da m’alma
O meu dia
E eu o dela
A minha prisão
Sob a luz das estrelas
A minha solidão
Ausente eterno da eternidade
Ainda em pouca idade
De toda forma de redenção...
Ausente
E paixão
E amor
Eternamente
Por amor de mim mesmo
Sobrecarregado de dor
E pavor

VBMello