5 de abril de 2016

Poema sem poesia...
















Sonhos, ilusões e desilusões
As dores e as tragédias da existência
A dor do viver... a agonia do morrer
Os dias que nasceram tarde
As manhãs que nunca amanheceram
Dias que se amontoam sem princípio, meio ou fim
Vida sem nexo nem sexo... existência virtual
Eu sou o minotauro do meu labirinto
A escuridão da noite do coração
O caminho do vale da morte
Tudo me cerca e me disseca
Sou alma nua... coração profundo
Não são os frutos que me interessam
São as raízes que me fascinam
Prefiro as flores aos frutos... Espinhos, flores e frutos
Você que me lê, entenda... eu não escrevo poesia
Poesia me dá azia... escrevo eu mesmo
Minha escrita é espinho, é flor e é fruto
Empurra abismo abaixo e mostra o caminho do céu
É de noite que Deus me fala
E ao amanhecer o diabo me persegue
Quem sou eu? Nem de corpo nem de alma
Obra de arte não quero ser
Grande é o desencanto que me habita
Nada em mim... é precoce
Nada em mim... é póstumo
Sou uma velha chama que some quando se apaga
Homem de sonhos decepados, eu sou
Homem de alegria irascível, eu sou
Homem/homem... tão somente homem, eu sou
Eu herdei as maldições dos meus antepassados
A covardia do meu pai e os nervos da minha mãe
Criado na solidão, forjado na depressão
O meu espírito é um milagre... que eu não sei explicar
As sombras que vem ao meu encontro... já me encontraram
A dor que eu temo... já me corrói as carnes
A minha fé é uma máscara que esconde uma grande incredulidade
Depois da morte... talvez a vida comece
O leão que eu temo... não me teme, bate à minha porta
O pão que eu como... não me alimenta
Cheio de tudo... tenho fome não sei de que pão
E o inferno, já é agora... e o céu está cada vez mais longe
_VBMello

19 de março de 2016















Depois de estar ferido de tanto lutar
Aprendi a descansar e a vencer
Depois de ter caído
Aprendi andar sozinho
E, andando, aprendi a voar
Por fim, perdi a fé
E a esperança se foi de mim
Largado sozinho, para morrer
No vale da morte, enfrentei
Homens, demônios e feras
Foi então, que eu comecei a crer
Hoje eu levo comigo, no corpo e na alma
As feridas abertas da minha fé...
VBMello

8 de novembro de 2015

Cenas de uma guerra da alma...











Então, você olha para o lado
E vê olhares pesados
Faces carrancudas
E dedos apontados
Vozes que cochicham ameaças
Enquanto na escuridão das almas
Maldades e planos são arquitetados
E sob os pés, o chão é instável
Todos riem... Todos zombam
Até o fraco e o covarde te esbofeteia
Miseravelmente, todas as forças minguam

Não há como continuar... A derrota se anuncia
O desânimo vem e penetra até o tutano dos ossos
Um rio de lama te engole
E você se encolhe num canto
Começa então, outra noite escura da alma
Sobre a sua cabeça, o céu é de ferro
E sob os seus pés, o chão é um deserto
Você eleva uma oração ao céu
Que previsivelmente, fica calado
Ao teu lado, não há anjos, nem irmãos
Você está só, nu, pelado e largado
O que você temia, aconteceu

A sindrome de Jó, te abateu
Leões e hienas te cercam
E o riso morre nos seus lábios
E a semente da alegria
Sem germinar, seca dentro do peito
Então, no meio da madrugada
Você ouve o tropel de cavalos em disparada
E o tinir de espadas que bramam sem cessar
No fundo da alma, uma guerra está em andamento
Contra o coração cansado, inimigos se reúnem
Abandonado e sozinho na frente de batalha
Com os nervos à flor da pele

Cergado por leãos que rugem
À beira de um colapso
A adversidade te rodeia e zomba

A névoa te envolve, a escuridão te engole
Você está só perante a eternidade
E os demônios, feras hereditarias

Antigamente expulsos para o deserto
Estão voltando em bandos..., e estão famintos

Anseia matar, roubar e destruir
Querem a fraqueza da carne e o tutano dos ossos
A alma estremece - o silêncio da noite escura
É rompido por uma gargalha 

E o ar se enche de rugidos
Há um leão ao derredor 

E demônios batem à sua porta
Todos te abandonaram

Levando os despojos da sua derrota
Aqueles que em dias de paz, te juraram fidelidade, te traem
Aqueles que em dias de fartura, te juraram amor, batem em retirada
Até o seu pai, a sua mãe e os seus irmão

Te amaldiçoam, te renegam e te abandonam
Sim, agora você está só perante o seu Deus

Agora você é Jó sentando num monte de cinza quente
E as suas feridas ardem e o seu hálito fede
Você chora, você grita, você implora, mas ninguém estende a mão
E lá fora, legiões de demônios fazem festa

Vozes ecoam na escuridão e gritam:
Onde está agora, a sua fé? 
E a sua poesia, pateta, onde está?
Onde estão, as suas obras de amor? 

Onde estão, os seus amigos?
E o seu dinheiro, para que serve agora?
E o sorriso, onde está? 

E os seus sonhos, onde estão?
E o orgulho? E a arrogância? 

E a força do seu braço, onde está?
Você se levanta e caminha sozinho na escuridão

Grita, chora e ora... 
De onde te virá o socorro? 
De onde te virá a salvação?
Finalmente - oh, horror! Você sabe

Chegou para você também
A hora de saber do que você é feito... 
No coração, na alma e na mente
Vozes ecoam e gritam: 
Pedra, lama, barro, carne ou espírito... 
Do que, você é feito? Qual é a sua natureza?
Chegou - como chega para todos - a hora de provar a verdade da sua fé
Há um caminho de fuga
E há um caminho de luta - escolha!
Há um caminho de derrota 

E há um caminho de vitória - escolha!
Rápido, porque a vida não espera

Onde está, meu amigo, meu igual, a sua fé?
Você era tão feliz, tão sábio... tão especial
Ah... Ri agora, dança agora, pula agora... Não?
Ah, não chore... Não se desespere
Eis que chegou a hora... 

Do menino... Virar homem
_VBMello

22 de outubro de 2015

Poeta dos gestos…









As dificuldades da linguagem

Nunca serão obstáculo à força criativa da poesia
O espírito poético é maior do que a linguagem
E ele tem muitos outros meios de expressão
Que ultrapassam de muito
A própria magia da linguagem
Nas questões mais profundas da alma
Aquilo que a linguagem não pode dizer
Não constitui obstáculo à poesia
Aquilo que o poeta não consegue dizer, ele pode viver
E deste modo, fazer da própria vida - um ato poético
Diante da falta das palavras
Ou diante da impossibilidade
Que elas invariavelmente encontram
Quando tentam dizer os mistérios
E os segredos do coração
A pessoa pode tornar-se
Como dizia Rubem Alves
Um poeta dos gestos…
Até porque, estritamente falando
Escrever poesia..., é fácil
Mas ser – interiormente – poeta
É um pouco mais difícil
Eu conheço muitas pessoas
Que nunca escreveram um verso
Mas que são poetas dos gestos
Dos olhares, dos sorrisos e das palavras faladas
E também conheço outras tantas
Que passam a vida a escrever versos
Mas que ainda não chegaram nem perto
Daquilo que realmente significa - ser poeta…
VBMello

Um lugar além...

Antes do amanhecer, enquanto a cidade dormia, eu chorei
O horizonte infinito, grita por mim
Quero ir, quero partir para nunca mais voltar
Mas as minhas pernas estão quebradas
Enquanto eu dormia sozinho
O corpo e a alma, ambos mergulhados
Na névoa fria da noite escura
As minhas asas foram arrancadas
Sobram-me céus azuis 
Faltam-me, porém, asas para voar
Tenho vontade, mas não tenho força
Agora, a minha casa não é um lugar agradável
Entre feras, eu habito
Inimigos me cercam
É com dificuldade e lágrimas
Que nesse chão escorregadio – e frio
Eu me sustendo de pé
A minha herança – é o nada
A minha incompatibilidade – é sanguínea
O ar que me envolve - é a solidão
A voz que me fala – é o silêncio
Mas nas entranhas do meu ser
Em lugares que ninguém chega ou vê
Um fogo arde e uma luz ilumina…
Sim, na minha alma existe um lugar
Que eu ainda guardo na memória
Um lugar que não existiu na minha infância
Mas que eu criei para o meu descanso e inspiração
Um lugar onde a escuridão dos meus ancestrais – não venceu
Um lugar onde o sangue do meu sangue – não coagulou
Um lugar só meu, onde a chuva das manhãs de primavera ainda cai
Onde os jardins ainda florescem e os rios ainda correm cristalinos
Um lugar onde a esperança ainda aquece e o amor ainda promete
Um lugar onde a alma das pessoas é mais limpa do que as suas casas
E os olhos brilham mais do que os espelhos
Para este lugar distante e profundo (essa prisão de luz)
Quando o deserto me envolve e o frio me abraça
Eu sempre volto – sem revolta – nos dias de revolta…
VBMello

Eli, eli, lamá sabactâni

Todos os dias, como alguém que repete a mesma ladainha 
A minha oração, é uma só: Senhor, livra-me, de mim mesmo
Porque as batalhas da minha alma, são ferozes e dilacerantes
Graça jamais recebida... O Senhor, deixou-me entregue a mim mesmo
Estou só comigo, e a minha alma é uma arena de gladiadores
Um abismo de bestas selvagens... Um lagar de guerras sangrentas
Todo dia, querendo ir mais fundo, em mim mesmo
Travo batalhas sem trégua e sem perdão...
Todavia, não peço, nem imploro paz ou misericórdia
Sou assim... É a minha sina... Já não sinto dor
Acostumei-me com as minhas tenebrosas guerras interiores
Fiz da solidão, a minha mãe
E do silêncio, fiz o meu pai
Sou um cidadão das tormentas da alma
A minha alma é uma casa em chamas
Um errante da fé, da esperança e do amor
Navegar mares tempestuosos
E cruzar desertos, é a minha sina – e a minha loucura
Acostumado à noite escura e sem estrelas
Embora saiba que elas sempre surgem no horizonte
Não anseio mais por manhãs ensolaradas
Sim, a alma, essa vastidão sombria
Que cresceu nutrindo-se de tormentas e desertos
Em manhãs ensolaradas, desespera-se
Ah, tornei-me interiormente, excessivamente belicoso – e resistente ao frio  
Andar na corda bamba da existência, é a minha especialidade
Não me julgue pelos sorrisos 
Não me tome por um homem manso e sereno
Não me julgue pela aparência
Do avesso, eu sou muito pior do que pareço
Se quiser, se puder… Aproxime-se com cuidado
Em silêncio, sente-se ao meu lado
Torne-se um comigo… Encoste a sua cabeça no meu peito
Ouça os sons das minhas batalhas
Não, não se deixe confundir pelos sons que escuta
Pois estes não são os sons das batidas do meu coração
São os terríveis ruídos de batalhas ancestrais
O grito de guerra, o bramir da espada e o tropel dos cavalos
A herança belicosas que os meus ancestrais me legaram
Ah, meu irmão, meu igual... Dentro do meu peito
O juízo final, começou quando eu nasci…
VBMello



26 de abril de 2015

O amor...

Faz muito tempo, durante um sonho, uma pergunta
Como um espinho na carne, me surgiu durante um sonho:
O que é isso, o amor? Perguntou-me, um demônio
Ao amanhecer, o meu coração acordou calado
E assim ficou até a noite seguinte... 
Como quem anda por caminhos sombrios, tive medo
Mas pode um homem, sem cauterizar a própria consciência
Fugir das vozes do seu coração e escapar da sina da sua alma?
*
Desconfiei. Não era sobre o amor, a velha pergunta... Era sobre outra coisa
Algo estava sendo gerado nas profundezas da minha alma
*
Noite após noite... A mesma voz gritava e perguntava: O que é o amor?
Manhã após manhã, o coração continuava mudo
Zombava de mim, aquela voz medonha? Anjo ou demônio
De quem era aquela voz obscura, que me falava na escuridão da noite?
*
Confesso... Eu não sei o que é o amor... Como poderia saber?
Houve um tempo, faz muito tempo, eu pensava que sabia
*
Eu olhava direto nos olhos dela, ela sorria
Então eu sabia, nos olhos dela, o que era o amor
Quando ela me olhava
Eu via, eu sabia, o tinha todas as respostas
O amor não era um mistério
Ela existia, e isso era tudo
Mas ela já não existe mais
Partiu para nunca mais voltar
*
Agora é inútil pensar sobre o amor... O que é o amor? 
Que me interessa saber isso, agora? Que diferença faz?
Há alguma coisa de zombaria, nessa pergunta?
É tu, Senhor, que mais uma vez me prova?
Não é. Claro que não... Deus não tem nada a ver com isso
Certamente que estou só - outra vez - nessa questão
*
Todo dia eu o invoco, mas ele nunca aparece
Nem mesmo nos meus sonhos
Por que, eu ainda o busco?
Por que, eu ainda chamo por ele?
Não me responde 
Não faz caso das minhas orações
Zomba e ri de mim... Ah, Senhor...
*
O que é o amor? 
Certamente 
Que não é uma palavra
Ou um conjunto 
Organizado de sinais e letras 
Com um som específico
Que desperta em nós
Um conjunto específico
De sentimentos agradáveis
*
Não é uma palavra decorada
Que nos diz o que a gente
Pensa que sabe o que é
*
De fato, o que o amor é
As palavras não conseguem dizer
Eu - pelo menos, não consigo dizer
Quando eu sou amado e amo
Sei o que é... (pois, amo e sou amado)
Mas quando o amor acaba
Acabam também 
As minhas certezas
E verdades sobre o amor
Então, se me perguntam o que é
Não sei dizer o que é
Não é algo que eu possa dizer
A menos que esteja amando e sendo amado...
*
Quando o amor me visita e me surpreende
Acho que ele é algo vivo e brilhante
Que pode ser visto nos meus olhos... 
O estranho é que quando eu sei a resposta
Ninguém me pergunta coisa alguma
Claro, é algo que pode ser visto e comprovado
*
Eu mesmo não tenho qualquer dúvida
Sei dizer o que é... O meu corpo sabe
Não é apenas a minha pele, que muda
As minhas palavras 
Também mudam, ficam leves
Para a minha surpresa, eu viro poeta
*
Mas não poeta das palavras... 
Nunca fui bom com as palavras
Viro poeta dos gestos
O meu olhar ganha um novo alento de vida
E aquela velha sensação de angústia
Que sufoca a alma e mata o coração
Já não existe mais. Sinto-me livre
*
O amor não é uma resposta que se dá com palavras
É uma transformação do corpo e da alma
É como morrer e renascer
É como ser homem e criança, ao mesmo tempo
*
Todavia, miserável de mim! Não fui feito para o amor
Amor, eu acho, é uma questão de fé
Não sei se sou um homem de fé... como poderia? 
Fé é como o amor, a gente só sabe que tem
Quando alguém tem fé na gente... Não sei
*
Enquanto alguém não se dispõe a me amar
Enquanto eu realmente
Não me sinto acolhido e amado
Por mais que diga que me amo
Continuo sem saber o que é o amor
Sim, é preciso ser amado
Para saber o que é o amor
A mesma coisa, com certeza, vale para a fé
Se ninguém crê na gente
É difícil crer e amar
Precisamos crer mais nas pessoas...
Mesmo que elas não acreditem na nossa fé
*
Talvez isso seja parte do mistério
Não é quando a gente se ama
Mas quando a gente é amado 
Que a gente sabe dizer 
O que é o amor
E o que é fé
*
Sim, eu não sei dizer
Nem descrever 
O que é o amor
*
É quem me olha
Quem me ama
Quem crê em mim
Quem me quer perto
Quem me trata com respeito
Carinho e com atenção
Que diz ao meu coração
E me descreve, sem palavras
Mas com o brilho dos olhos 
O o amor é esse fogo 
Que arde e queima 
Dentro de mim...
*
Oh, querida minha, vem... 
Chegue mais perto
Vem... Desfrute comigo 
Esse instante de eternidade
Deus está entre nós...
Vê... Olhe... Lá longe...
Até as maiores distâncias 
Que os nossos olhos conseguem ver
Tudo queima e arde O mundo é uma sarça ardente...
Tudo está incendiado pela glória do Senhor
*
Tire as sandálias dos pés...Desnude a alma, e vem...
Olhe nos meus olhos – toque a minha face... E me diga:
O que isso, esse rio que corre, que você vê em mim?
Esse fogo, essa chama, essa luz que me queima
E me incendeia e me ilumina...E me faz perder o sono...
O que é isso que você vê em mim, querida minha?
Vem, mostre-me o que é o amor
Agracie-me com essa dor... Vem!
*
Acaso é isso... Essa inquietação... Essa satisfação...
Essa alegria... Esse gosto de eternidade... Esse medo...
Essa coragem, que é o amor?
*
Ah, então – Deus meu! – dentro e fora da alma... 
Já tenho a resposta... Em cada célula, em cada nervo e tendão
Nas carnes e nos ossos...eu sou, quando sou amado, puro amor...
Quando o amor está em mim... Tudo em mim é puro amor
Sim, tudo em mim está impregnado dessa chama que arde
Que nunca se apaga... Que nunca se aquieta...
Que sempre se propaga... Vem! Amada da minha alma... 
Não espere mais... Sente-se aqui comigo...E desfrute junto a mim
Este instante de paz e calmaria, que Deus nos dá...
*
Porque eu sei que logo mais, a tempestade vai recomeçar
Dá-me, pois, amada minha, este momento de alegria
Para que depois, quando a tormenta rebentar
A minha alma cheia de recordações tuas, sem naufragar...
Possa suportar ainda mais um dia...
*
Diga-me, querida minha – amada da minha alma...
O que isso que você vê em mim? Acaso isso é o amor?
Ou apenas uma angústia, uma dor disfarçada de amor
Deus meu... Quando eu acordarei desse sonho ruim, a vida?
VBMello

20 de março de 2015

A minha alma...

A minha alma é um lugar distante
Um lugar verdejante
Um deserto e um mar revolto
Uma noite escura e um céu claro
A minha alma é um ferida aberta
Um leão que ruge
E um rato que foge...
É um grito de vingança
A minha alma é um vulcão em erupção
Um incêndio que ninguém consegue apagar
*
Sim, a minha alma
É o lugar mais perto do céu
O lugar mais longe de mim
Que eu, nas noite insones
Sonhando acordado, vou e visito
*
Nela, segundo o meu estado de espírito
Há céus profundos e abismos insondáveis
Há recantos de luz, encruzilhadas de trevas 
Vazios e bifurcações de escuridão
*
Nela, dependendo do dia
Há paraísos, campos verdejantes
E casas abandonadas
Onde ecoa - ainda
O choro triste e fraco
Da criança morta de fome
Que um dia, sob o olhar de Deus
Eu fui e sofri e quase morri
*
Nela há montanhas 
De orações sem resposta
E promessa nunca cumpridas
Esperanças naufragadas
Sepulturas de palavras mortas
E arrependimentos sem fim
A minha alma é uma arma engatilhada
A minha alma geme de fome e sede de justiça
*
Nas noites de pesadelo
Eu vejo o fantasma do velho
Que, talvez, eu serei
Chorando e envergonhado
Da vida triste que eu vivi
*
Desde a eternidade
Tarde demais
Eu entendi isso
Antes mesmo 
Dessa dor me encontrar
A minha sina já estava escrita
*
O amor é uma ilusão
Que eu busco em vão
Uma vaidade
Que não combina mais
Com a minha idade
*
Amanhã ou depois de amanhã
Se o amor me encontrar
Chão para as suas raízes
Não encontrará
*
A minha alma é um torrão velho
De terra ruim para o amor
Aqui nessa escuridão
A graça não brota
E a esperança
Não frutifica
*
A minha alma é um túnel sem luz no fim
Onde sozinho, nas noites escuras e tristes
Como uma criança em busca do pai
Que a abandonou numa lata de lixo, eu entro 
E me perco gritando e buscando - em vão
Pela presença de Deus...
VBMello.

18 de março de 2015

Destino...

Abro o coração e deixo a minha alma cansada
Explodir num grito de revolta contra tudo e contra todos
Cansado de cabrestos, exorcizo tudo que me exorciza...
Entre orações e invocações... A m'alma entra em erupção
Os meu nervos e os meus ossos, estão à flor da pele
Solto o laço que segura o ser bestial, que habita em mim
Abro as portas do inferno... 
Há um incêndio incontrolável em andamento
Mil demônios acordaram, e estão famintos
A luz e as trevas travam uma luta 
De vida, cansaço, doença e morte
Você consegue ouvir o tropel dos cavalos 
Correndo para a frente de batalha?
Ouve o som de aço das espadas?
Escuta os gemidos das putas 
E os gritos das prostitutas?
São os gritos e os gemidos dos meus ancestrais
Que lutam e vivem, fantasmas, dentro de mim
Sozinho no meio das chamas das florestas incendiadas da alma
O meu coração se desintegra em mil pedaços
E o atavismo inevitável começa no fundo da alma
Num instante de descuido... 
A fera que vive oculta dentro de mim
Sob à superfície da minha pele
E sobrepuja o homem que eu sou
Quem me vê agora
Não me reconhece mais
Rosno... Faminto... Grito... Imploro
Tarde demais! Grita o destino... Tarde demais!
Acuado... Forço os olhos contra a escuridão... Nada!
Até as maiores distâncias que os olhos enxergam
Tudo é nada... Tudo é indiferença... Tudo é ingratidão
O ar se enche de ameaças. Um pastorzinho de nada, vem
Mas engole as palavras... Pobre homem fraco
Ele não suporta o meu olhar... Não sabe mergulhar
Tem medo de abismos profundos... 
É uma criança com medo do silêncio
Mas o silêncio é tudo que tenho para ele
E o silêncio é uma navalha que corta a alma
Ele parte, caminha rápido como quem foge do diabo
Ferida, a alma se acalma... Mas nos interstícios da dor...
Sombras penetram e se movem na escuridão do coração
Grito... Corro... Mas não há onde se esconder
Guardo a vingança para um momento apropriado
Num ritual de desespero... Invoco a luz
Mas ainda falta muito até o dia amanhecer
Paro... Encolho-me num canto da floresta
Perco-me entre as sombras da noite
Canto para espantar a dor
Olho pelo buraco da fechadura
Cães rondam a casa
Está frio... Sinto fome...
A solidão devora e apavora
Talvez, agora, prese nesse quarto escuro
Eu seja o homem mais solitário do mundo
E estou tão rodeado de gente...
Falo sozinho
Faço o sinal da cruz
Deus meu! Deus meu!
Oh! Miserável de mim...
Que pobre diabo! Que pobre diabo!
Faltam-me as forças necessárias
Para enfrentar tão grande danação
O meu destino me desatina...
Essa depressão desgraçada
Sob os meus pés a areia é movediça
Em sonho... Ouço a voz da minha mãe
Escuto o riso dos meus irmãos
Um velho profeta grita ameaças:
Todos mortos! Todos mortos!
Acordo de repente... Estou sozinho na voragem do mar
Afundo no nada... As ondas da tempestade 
Me roubam o ar... A minha alma afoga
Mais uma vez estou a afundar
Você consegue ouvir o riso dos tubarões?
Ainda sonho?  
Talvez eu nunca tenha dormido...
Deus, onde estás?
Não quer ser a minha Mãe?
Não quer ser o meu Pai?
O céu me parece ser um lugar tão silencioso... Frio, às vezes
O silêncio e a escuridão, persistem...
Deus é um ser tão calado... Eu já esperava
Hoje eu não estou para conversas telepáticas
Calo-me, também... Mais uma vez
Que o silêncio seja a minha oração
No fundo da minha alma, num esforço derradeiro
Ergo-me contra o peso do meu destino
Que venha o céu... Que venha o inferno
Não me vergo mais sob o penso 
De uma carga que posso evitar
Tenho ainda alguns versos na alma
Quando a depressão passar... 
Quando a solidão amainar
Posso iniciar um jardim 
Nas profundezas do meu coração
Posso acender uma fogueira 
Do tamanho da minha poesia
Uma sentença paira sobre mim... 
O deserto não me vencerá
Eu levo comigo as sementes de um jardim florido
Não importa o desatino... Para o inferno com o destino!
Tudo depende de um bom destino
Preciso, então, construir um bom destino
Uma sina ruim, herança dos meus antepassados
Subscreve a morte dos meus sonhos
Sonho, então, sonhos eternos
Mas eles some, quando o dia amanhece
Um dia desses esbarrarei
Numa árvore de luz
então, construirei uma casa
Onde colherei frutos e sementes
E plantarei na minha alma um jardim
Para iluminar a escuridão do meu mundo
De repente, uma mão pousa no meu ombro
Talvez um anjo...Talvez um demônio, que finge ser anjo
Oh, meu Deus! Como é fácil se enganar sobre si mesmo
Como é fácil ser traído pelo próprio coração
Tolo! Guarda as suas esperanças
O amanhã será só o hoje que se repete...
Aceita o seu destino... Sê homem!
VBMello

17 de outubro de 2014

Tempo morto


Das coisas que eu queria antes
Não quero mais nada
Dos sonhos que sonhei
Não sonho mais
O que me encantava
Não me encanta mais

Velhas recordações 
Tempestades
Ondas que reviram
Saudades e dores
De um tempo morto
Perambulam - ainda vivas
Pela superfície tempestuosa
Dessa minha velha alma triste


Tempestades de sentimentos
Que ressuscitam e desenterram
Outros sentimentos esquecidos
E avivam lembranças mortas 
Marcadas e sublimadas
De antigas feridas 
No corpo e na alma
E trazem à memória a sombra
De antigas noites de angústias sem fim


A revolta, a fúria, a tristeza
As perdas, as humilhações
A indiferença e a zombaria
Nada me humilha mais
O corpo e a alma agonizam
Sob o fardo dessas recordações
A realidade nua e crua
É exaustiva demais
Para o meu fraco coração


Mesmo depois de tanto tempo
Tempo suficiente 
Para um menino descalço 
Virar homem feito
As ferida ainda estão abertas
E as recordações ainda
São tão insuportáveis
Que eu prefiro pensar 
Que tudo foi um sonho


Fecho os olhos e finjo 
Que aquelas são dores
Que nunca aconteceram


Mas não é coisa fácil
Enganar a si mesmo
Nada mais dolorido
do que enganar a si mesmo
E mesmo assim, apesar de tudo
Nada mais necessário


A minha mente se engana
Mas o meu corpo - velho sofredor
Não se deixa mais convencer
Pelas mentiras repetidas
Que a minha consciência
Conta para a minha alma


Mesmo quando é dia claro
Levo comigo, a escuridão da noite
O passado dolorido, ainda está comigo
Não há como mentir sobre isso


Lá fora... Vejo pela fresta da janela
O sol brilha num céu azul aguado


O dia está amanhecendo
É a pior hora do dia
Escuto alguém rindo
Encolho-me num canto
Cubro a cabeça
Tapo os ouvidos
Faço cara de desprezo
Tudo me incomoda
Tudo me aborrece


Nas profundezas do meu coração
Um vulcão ameaça-me 
Com a fúria das suas erupções
Dou de ombros... Que se dane
A minha alma já entrou em erupção
Outras tantas vezes, e nada mudou
Mostro-lhe o dedo médio em riste
Filho da puta! Quase grito, mas me contenho...


Não sou homem de xingamentos
Sou homem de tormentos calados
Perdoem-me o desabafo
Ora, vá para o inferno!
Ao entrar, deixa lá fora
A piedade e a compaixão
Estou além desses mesmices


Metade sonho
Metade pesadelo.
Um ser triste
Metade vida
Metade morte 
Habita dentro de mim
Narciso que se enamora
E se devora...


Lá fora, bandos de pardais se amontoam 
Nos galhos tortos de uma árvore velha
Que sem nunca ter produzido uma flor 
Ou sequer um fruto mirrado
Sofre e morre - bem na frente da minha janela
Tenho uma grande compaixão 
Por essa miserável árvore estéril
Somos tão iguais... Somos filhos do mesmo nada
Metáforas um do outro... Eu a plantei
Como eu, ela foi uma criança viva e feliz
Mas então, algo aconteceu... Agora secamos e morremos
Abraçados um na sombra do outro... Espinheiros recíprocos


Oh, meu Deus! Como um rato trancado 
Dentro de uma caixa escura... Apreensivo
O coração salta pesado de ansiedades
Ouço janelas que batem e portas que rangem
Ouço vozes e passos... É a pior hora
A tristeza vem e me abraça... E me consola


Meu espirito agoniza e chora
Indiferente... Sem me levar com ela
A vida segue cega e surda
Mostro-lhe o dedo médio ereto
Grito-lhe um palavrão
E viro-lhe as costas
Que vá para o inferno!
sim, que vá para o inferno


Indiferente, a natureza não para
Diante das ondas de um mar cristalino


Flores desabrocham no jardim
Belezas e ritmos que sobrecarregam 
A minha alma de melancolia
O mar tão belo e verde
Quebram mansamente na areia da praia
Não me importo... Hoje não é dia de praia
Não me importa o chamado do mar
Hoje o meu destino é a solidão do deserto


Carros passam melancólicos... A vida segue
A depressão, mais uma vez, me esgota
Deus meu, onde está? Não chegou aí no céu
Nem uma só das minhas orações?
O som de uma TV invade 
As profundezas da minha alma
Instintivamente fecho na cara do mundo
As portas dos meus abismos
Estou só... Hoje não quero ver TV
Sim, estou só, completamente só
Embora haja gente do meu lado
Eu já era para estar acostumado
Mas não estou...


Fui gestado há dez mil anos atrás
Num útero cheio de cacos de vidro
Vergonha... Raiva... Decepção
O coração clama por vingança
A minha casa é o lugar mais longe do mundo
Um lugar onde tudo morre, animais, plantas e sonhos
Agora, nesse momento esperança que eu ainda tinha
Se transformou em forte ânsia de vômito
Preciso vomitar essa raiva...


Imaturidade! Imaturidade! Imaturidade!
Grita uma voz sofrida dentro de mim...
Imaturidade! Imaturidade! Imaturidade!


Recolho-me num canto escuro
A escuridão me faz bem
Dentro e fora da alma 
O silêncio é tudo que há


Hoje não quero conversa
Já que não tenho direito
De dizer coisa alguma
O dedo médio, sempre em riste
É a minha defesa contra as dores da vida
Uma porta se abre... 
Se dentro ou fora da minha alma, não sei dizer
Deito-me e viro a cara para a parede... Fecho os olhos


Acordado, quase durmo... Rolo na cama de um lado para outro
A noite chegou e eu nem vi... Pesadelos me sufocam 
Meus olhos ardem de insônia... Diante de mim... Oh, horror
Os fragmentos da minha vida, amontoam-se 
Como os restos de um naufrágio
Ah, esqueci de dizer... Estou de partida para uma longa viagem


Fecho os olhos e arrumo as minhas coisas
Vou por caminhos estreitos
Por onde se anda melhor sozinho
De olhos fechados e coração aberto
Não levo bagagem nem dinheiro
Levo apenas a minha alma... E mais nada
Deixo-me para trás... E sigo sozinho 
Livre até de mim mesmo
Vou pelo caminho das estrelas
Levo fomes que anseiam por instantes de saciedade
Não levo esperanças, só algumas ilusões


Não levo, nem deixo saudades
Recolho e amontou na areia 
Os restos do naufrágio da minha vida
Restos de sonhos e pedaços de desejos
Fragmentos de vontades abortadas
Refugos de vida... As vergonhas vividas
As mesmas humilhações, mil vezes sofridas
O passado, o futuro - e o agora... Tudo

Faço uma fogueira... Ateio fogo
A carne queima, o sangue congela
As chamas se elevam ao céu
Que me chama
Que me reclama
Tarde demais! Tarde demais! Grito
A minha vida queima e os meus sonhos
Se desfazem em cinzas... O meu coração agoniza
Sacrifico tudo em holocausto a Deus
Em torno dessa fogueira das vaidades 
Danço uma dança macabra... Danço grito, choro...
Rolo no chão... Morro... Renasço... Torno morrer
E assim vou morrendo, até desanimar de ressuscitar


Capturado pela parte sombria da vida
Tombo diante do nada de uma vida desistida
Minha mãe ri... Meus irmãos zombam
Meus filhos... miseráveis... morreram todos
E eu morri com eles... E nenhum deles renasceu


Agora sou alma que vaga sem destino
Sou sombra que segue pelo caminho estreito
Sou a vida que se perdeu no colo da mãe
Sou o suicida indeciso parado na beira do abismo
A espera de um milagre? Mas milagres não existem mais
Sou Adão seduzido pela Eva seduzida
E a serpente gargalha desse meu espetáculo medíocre
Sou abismo desejante de altura... Sou morte desejante de vida


Sou anjo caído – traído... Sim
Chamam-me anjo caído, os meus inimigos
Todavia, nada sabem de mim...  Nada sabem de anjos
Dizem que estou morto... Mas nada sabem da morte


Ah! Num momento de liberdade
O coração parou... aquietou
Agora eu durmo profundamente... , e sonho
Então é que eu vivo... Um anjo vem e me toma pela mão
Zomba de mim, certamente... E me leva pelos seus caminhos de luz
Finjo que vou com ele... Cruzamos estrelas... 
Cruzamos mundos... Cruzamos céus... Tropeçamos na eternidade
Desço com ele até os confins da minha imaginação
Busco a mim mesmo..., nele... que me busca


Ele me olha dentro dos olhos
Por breve momento, coisa estranha, vejo-me nele
Mas ele não se vê em mim... Como poderia?
Somos anjos de natureza diferente


O maldito som do relógio
Me desperta dessa minha ilusão
Ouço som de pássaros cantando
Escuto vozes... É a pior hora do dia
O dia está amanhecendo... Levanto-me... 
É dia... Mais um dia, mas não outro dia


A vida chama 
Preciso correr
Para não morrer
Estou atrasado - de novo
Ponho os pés na rua
O meu coração estremece
A multidão me envolve


Forço as vistas, firmo os olhos
E procuro sem encontrar
Até as maiores distâncias que posso ver
Não vejo anjos... Vejo apenas lobos de outros lobos
Serpentes que rastejam ao meu redor... E isso é tudo
E somente então, por breve instante
É que me dou conta de que me tornei
Um homem quase triste... Quase morto... Quase feliz
VBMello