5 de abril de 2016
19 de março de 2016
Fé
Depois de estar ferido de tanto lutar
Aprendi a descansar e a vencer
Depois de ter caído
Aprendi andar sozinho
E, andando, aprendi a voar
Por fim, perdi a fé
E a esperança se foi de mim
Largado sozinho, para morrer
No vale da morte, enfrentei
Homens, demônios e feras
Foi então, que eu comecei a crer
Hoje eu levo comigo, no corpo e na alma
As feridas abertas da minha fé...
VBMello
8 de novembro de 2015
Cenas de uma guerra da alma...
Então, você olha para o lado
E vê olhares pesados
Faces carrancudas
E dedos apontados
Vozes que cochicham ameaças
Enquanto na escuridão das almas
Maldades e planos são arquitetados
E sob os pés, o chão é instável
Todos riem... Todos zombam
Até o fraco e o covarde te esbofeteia
Miseravelmente, todas as forças minguam
Não há como continuar... A derrota se anuncia
O desânimo vem e penetra até o tutano dos ossos
Um rio de lama te engole
E você se encolhe num canto
Começa então, outra noite escura da alma
Sobre a sua cabeça, o céu é de ferro
E sob os seus pés, o chão é um deserto
Você eleva uma oração ao céu
Que previsivelmente, fica calado
Ao teu lado, não há anjos, nem irmãos
Você está só, nu, pelado e largado
O que você temia, aconteceu
A sindrome de Jó, te abateu
Leões e hienas te cercam
E o riso morre nos seus lábios
E a semente da alegria
Sem germinar, seca dentro do peito
Então, no meio da madrugada
Você ouve o tropel de cavalos em disparada
E o tinir de espadas que bramam sem cessar
No fundo da alma, uma guerra está em andamento
Contra o coração cansado, inimigos se reúnem
Abandonado e sozinho na frente de batalha
Com os nervos à flor da pele
Cergado por leãos que rugem
À beira de um colapso
A adversidade te rodeia e zomba
A névoa te envolve, a escuridão te engole
Você está só perante a eternidade
E os demônios, feras hereditarias
Antigamente expulsos para o deserto
Estão voltando em bandos..., e estão famintos
Anseia matar, roubar e destruir
Querem a fraqueza da carne e o tutano dos ossos
A alma estremece - o silêncio da noite escura
É rompido por uma gargalha
E o ar se enche de rugidos
Há um leão ao derredor
E demônios batem à sua porta
Todos te abandonaram
Levando os despojos da sua derrota
Aqueles que em dias de paz, te juraram fidelidade, te traem
Aqueles que em dias de fartura, te juraram amor, batem em retirada
Até o seu pai, a sua mãe e os seus irmão
Te amaldiçoam, te renegam e te abandonam
Sim, agora você está só perante o seu Deus
Agora você é Jó sentando num monte de cinza quente
E as suas feridas ardem e o seu hálito fede
Você chora, você grita, você implora, mas ninguém estende a mão
E lá fora, legiões de demônios fazem festa
Vozes ecoam na escuridão e gritam:
Onde está agora, a sua fé?
E a sua poesia, pateta, onde está?
Onde estão, as suas obras de amor?
Onde estão, os seus amigos?
E o seu dinheiro, para que serve agora?
E o sorriso, onde está?
E os seus sonhos, onde estão?
E o orgulho? E a arrogância?
E a força do seu braço, onde está?
Você se levanta e caminha sozinho na escuridão
Grita, chora e ora...
De onde te virá o socorro?
De onde te virá a salvação?
Finalmente - oh, horror! Você sabe
Chegou para você também
A hora de saber do que você é feito...
No coração, na alma e na mente
Vozes ecoam e gritam:
Pedra, lama, barro, carne ou espírito...
Do que, você é feito? Qual é a sua natureza?
Chegou - como chega para todos - a hora de provar a verdade da sua fé
Há um caminho de fuga
E há um caminho de luta - escolha!
Há um caminho de derrota
E há um caminho de vitória - escolha!
Rápido, porque a vida não espera
Onde está, meu amigo, meu igual, a sua fé?
Você era tão feliz, tão sábio... tão especial
Ah... Ri agora, dança agora, pula agora... Não?
Ah, não chore... Não se desespere
Eis que chegou a hora...
Do menino... Virar homem
_VBMello
22 de outubro de 2015
Poeta dos gestos…
As dificuldades da linguagem
Nunca serão obstáculo à força criativa da poesia
O espírito poético é maior do que a linguagem
E ele tem muitos outros meios de expressão
Que ultrapassam de muito
A própria magia da linguagem
Nas questões mais profundas da alma
Aquilo que a linguagem não pode dizer
Não constitui obstáculo à poesia
Aquilo que o poeta não consegue dizer, ele pode viver
E deste modo, fazer da própria vida - um ato poético
Diante da falta das palavras
Ou diante da impossibilidade
Que elas invariavelmente encontram
Quando tentam dizer os mistérios
E os segredos do coração
A pessoa pode tornar-se
Como dizia Rubem Alves
Um poeta dos gestos…
Até porque, estritamente falando
Escrever poesia..., é fácil
Mas ser – interiormente – poeta
É um pouco mais difícil
Eu conheço muitas pessoas
Que nunca escreveram um verso
Mas que são poetas dos gestos
Dos olhares, dos sorrisos e das palavras faladas
E também conheço outras tantas
Que passam a vida a escrever versos
Mas que ainda não chegaram nem perto
Daquilo que realmente significa - ser poeta…
VBMello
Um lugar além...
Antes do amanhecer, enquanto a cidade dormia, eu chorei
O horizonte infinito, grita por mim
Quero ir, quero partir para nunca mais voltar
Mas as minhas pernas estão quebradas
Enquanto eu dormia sozinho
O corpo e a alma, ambos mergulhados
Na névoa fria da noite escura
As minhas asas foram arrancadas
Sobram-me céus azuis
Faltam-me, porém, asas para voar
Tenho vontade, mas não tenho força
Agora, a minha casa não é um lugar agradável
Entre feras, eu habito
Inimigos me cercam
É com dificuldade e lágrimas
Que nesse chão escorregadio – e frio
Eu me sustendo de pé
A minha herança – é o nada
A minha incompatibilidade – é sanguínea
O ar que me envolve - é a solidão
A voz que me fala – é o silêncio
Mas nas entranhas do meu ser
Em lugares que ninguém chega ou vê
Um fogo arde e uma luz ilumina…
Sim, na minha alma existe um lugar
Que eu ainda guardo na memória
Um lugar que não existiu na minha infância
Mas que eu criei para o meu descanso e inspiração
Um lugar onde a escuridão dos meus ancestrais – não venceu
Um lugar onde o sangue do meu sangue – não coagulou
Um lugar só meu, onde a chuva das manhãs de primavera ainda cai
Onde os jardins ainda florescem e os rios ainda correm cristalinos
Um lugar onde a esperança ainda aquece e o amor ainda promete
Um lugar onde a alma das pessoas é mais limpa do que as suas casas
E os olhos brilham mais do que os espelhos
Para este lugar distante e profundo (essa prisão de luz)
Quando o deserto me envolve e o frio me abraça
Eu sempre volto – sem revolta – nos dias de revolta…
VBMello
O horizonte infinito, grita por mim
Quero ir, quero partir para nunca mais voltar
Mas as minhas pernas estão quebradas
Enquanto eu dormia sozinho
O corpo e a alma, ambos mergulhados
Na névoa fria da noite escura
As minhas asas foram arrancadas
Sobram-me céus azuis
Faltam-me, porém, asas para voar
Tenho vontade, mas não tenho força
Agora, a minha casa não é um lugar agradável
Entre feras, eu habito
Inimigos me cercam
É com dificuldade e lágrimas
Que nesse chão escorregadio – e frio
Eu me sustendo de pé
A minha herança – é o nada
A minha incompatibilidade – é sanguínea
O ar que me envolve - é a solidão
A voz que me fala – é o silêncio
Mas nas entranhas do meu ser
Em lugares que ninguém chega ou vê
Um fogo arde e uma luz ilumina…
Sim, na minha alma existe um lugar
Que eu ainda guardo na memória
Um lugar que não existiu na minha infância
Mas que eu criei para o meu descanso e inspiração
Um lugar onde a escuridão dos meus ancestrais – não venceu
Um lugar onde o sangue do meu sangue – não coagulou
Um lugar só meu, onde a chuva das manhãs de primavera ainda cai
Onde os jardins ainda florescem e os rios ainda correm cristalinos
Um lugar onde a esperança ainda aquece e o amor ainda promete
Um lugar onde a alma das pessoas é mais limpa do que as suas casas
E os olhos brilham mais do que os espelhos
Para este lugar distante e profundo (essa prisão de luz)
Quando o deserto me envolve e o frio me abraça
Eu sempre volto – sem revolta – nos dias de revolta…
VBMello
Eli, eli, lamá sabactâni
Todos os dias, como alguém que repete a mesma ladainha
A minha oração, é uma só: Senhor, livra-me, de mim mesmo
Porque as batalhas da minha alma, são ferozes e dilacerantes
Graça jamais recebida... O Senhor, deixou-me entregue a mim mesmo
Estou só comigo, e a minha alma é uma arena de gladiadores
Um abismo de bestas selvagens... Um lagar de guerras sangrentas
Todo dia, querendo ir mais fundo, em mim mesmo
Travo batalhas sem trégua e sem perdão...
Todavia, não peço, nem imploro paz ou misericórdia
Sou assim... É a minha sina... Já não sinto dor
Acostumei-me com as minhas tenebrosas guerras interiores
Fiz da solidão, a minha mãe
E do silêncio, fiz o meu pai
Sou um cidadão das tormentas da alma
A minha alma é uma casa em chamas
Um errante da fé, da esperança e do amor
Navegar mares tempestuosos
E cruzar desertos, é a minha sina – e a minha loucura
Acostumado à noite escura e sem estrelas
Embora saiba que elas sempre surgem no horizonte
Não anseio mais por manhãs ensolaradas
Sim, a alma, essa vastidão sombria
Que cresceu nutrindo-se de tormentas e desertos
Em manhãs ensolaradas, desespera-se
Ah, tornei-me interiormente, excessivamente belicoso – e resistente ao frio
Andar na corda bamba da existência, é a minha especialidade
Não me julgue pelos sorrisos
Não me tome por um homem manso e sereno
Não me julgue pela aparência
Do avesso, eu sou muito pior do que pareço
Se quiser, se puder… Aproxime-se com cuidado
Em silêncio, sente-se ao meu lado
Torne-se um comigo… Encoste a sua cabeça no meu peito
Pois estes não são os sons das batidas do meu coração
São os terríveis ruídos de batalhas ancestrais
O grito de guerra, o bramir da espada e o tropel dos cavalos
A herança belicosas que os meus ancestrais me legaram
Ah, meu irmão, meu igual... Dentro do meu peito
O juízo final, começou quando eu nasci…
VBMello
Porque as batalhas da minha alma, são ferozes e dilacerantes
Graça jamais recebida... O Senhor, deixou-me entregue a mim mesmo
Estou só comigo, e a minha alma é uma arena de gladiadores
Um abismo de bestas selvagens... Um lagar de guerras sangrentas
Todo dia, querendo ir mais fundo, em mim mesmo
Travo batalhas sem trégua e sem perdão...
Todavia, não peço, nem imploro paz ou misericórdia
Sou assim... É a minha sina... Já não sinto dor
Acostumei-me com as minhas tenebrosas guerras interiores
Fiz da solidão, a minha mãe
E do silêncio, fiz o meu pai
Sou um cidadão das tormentas da alma
A minha alma é uma casa em chamas
Um errante da fé, da esperança e do amor
Navegar mares tempestuosos
E cruzar desertos, é a minha sina – e a minha loucura
Acostumado à noite escura e sem estrelas
Embora saiba que elas sempre surgem no horizonte
Não anseio mais por manhãs ensolaradas
Sim, a alma, essa vastidão sombria
Que cresceu nutrindo-se de tormentas e desertos
Em manhãs ensolaradas, desespera-se
Ah, tornei-me interiormente, excessivamente belicoso – e resistente ao frio
Andar na corda bamba da existência, é a minha especialidade
Não me julgue pelos sorrisos
Não me tome por um homem manso e sereno
Não me julgue pela aparência
Do avesso, eu sou muito pior do que pareço
Se quiser, se puder… Aproxime-se com cuidado
Em silêncio, sente-se ao meu lado
Torne-se um comigo… Encoste a sua cabeça no meu peito
Ouça os sons das minhas batalhas
Não, não se deixe confundir pelos sons que escutaPois estes não são os sons das batidas do meu coração
São os terríveis ruídos de batalhas ancestrais
O grito de guerra, o bramir da espada e o tropel dos cavalos
A herança belicosas que os meus ancestrais me legaram
Ah, meu irmão, meu igual... Dentro do meu peito
O juízo final, começou quando eu nasci…
VBMello
26 de abril de 2015
O amor...
Faz muito tempo, durante um sonho, uma pergunta
Como um espinho na carne, me surgiu durante um sonho:
O que é isso, o amor? Perguntou-me, um demônio
Ao amanhecer, o meu coração acordou calado
De quem era aquela voz obscura, que me falava na escuridão da noite?
*
Confesso... Eu não sei o que é o amor... Como poderia saber?
Houve um tempo, faz muito tempo, eu pensava que sabia
*
Eu olhava direto nos olhos dela, ela sorria
Eu via, eu sabia, o tinha todas as respostas
O amor não era um mistério
Ela existia, e isso era tudo
Mas ela já não existe mais
Partiu para nunca mais voltar
*
Agora é inútil pensar sobre o amor... O que é o amor?
Que me interessa saber isso, agora? Que diferença faz?
Há alguma coisa de zombaria, nessa pergunta?
É tu, Senhor, que mais uma vez me prova?
Como um espinho na carne, me surgiu durante um sonho:
O que é isso, o amor? Perguntou-me, um demônio
Ao amanhecer, o meu coração acordou calado
E assim ficou até a noite seguinte...
Como quem anda por caminhos sombrios, tive medo
Mas pode um homem, sem cauterizar a própria consciência
Fugir das vozes do seu coração e escapar da sina da sua alma?
*
Desconfiei. Não era sobre o amor, a velha pergunta... Era sobre outra coisa
Algo estava sendo gerado nas profundezas da minha alma
*
Noite após noite... A mesma voz gritava e perguntava: O que é o amor?
Manhã após manhã, o coração continuava mudo
Zombava de mim, aquela voz medonha? Anjo ou demônioDe quem era aquela voz obscura, que me falava na escuridão da noite?
*
Confesso... Eu não sei o que é o amor... Como poderia saber?
Houve um tempo, faz muito tempo, eu pensava que sabia
*
Eu olhava direto nos olhos dela, ela sorria
Então eu sabia, nos olhos dela, o que era o amor
Quando ela me olhavaEu via, eu sabia, o tinha todas as respostas
O amor não era um mistério
Ela existia, e isso era tudo
Mas ela já não existe mais
Partiu para nunca mais voltar
*
Agora é inútil pensar sobre o amor... O que é o amor?
Que me interessa saber isso, agora? Que diferença faz?
Há alguma coisa de zombaria, nessa pergunta?
É tu, Senhor, que mais uma vez me prova?
Não é. Claro que não... Deus não tem nada a ver com isso
Certamente que estou só - outra vez - nessa questão
*
Todo dia eu o invoco, mas ele nunca aparece
Nem mesmo nos meus sonhos
Por que, eu ainda o busco?
Por que, eu ainda chamo por ele?
Não me responde
Não faz caso das minhas orações
Zomba e ri de mim... Ah, Senhor...
*
O que é o amor?
Certamente
Que não é uma palavra
Ou um conjunto
Organizado de sinais e letras
Com um som específico
Certamente que estou só - outra vez - nessa questão
*
Todo dia eu o invoco, mas ele nunca aparece
Nem mesmo nos meus sonhos
Por que, eu ainda o busco?
Por que, eu ainda chamo por ele?
Não me responde
Não faz caso das minhas orações
Zomba e ri de mim... Ah, Senhor...
*
O que é o amor?
Certamente
Que não é uma palavra
Ou um conjunto
Organizado de sinais e letras
Com um som específico
Que desperta em nós
Um conjunto específico
Um conjunto específico
De sentimentos
agradáveis
*
Não é uma
palavra decorada
Que nos diz o que a gente
Pensa que sabe o que é
Que nos diz o que a gente
Pensa que sabe o que é
*
De fato, o que o
amor é
As palavras não conseguem dizer
As palavras não conseguem dizer
Eu - pelo menos, não
consigo dizer
Quando eu sou amado e amo
Sei o que é... (pois, amo e sou amado)
Quando eu sou amado e amo
Sei o que é... (pois, amo e sou amado)
Mas quando o amor acaba
Acabam também
As minhas certezas
E verdades sobre o amor
Então, se me perguntam o que é
Não sei dizer o que é
Acabam também
As minhas certezas
E verdades sobre o amor
Então, se me perguntam o que é
Não sei dizer o que é
Não é algo que eu
possa dizer
A menos que esteja amando e sendo amado...
A menos que esteja amando e sendo amado...
*
Quando o amor me visita e me surpreende
Acho que ele é algo vivo e brilhante
Que pode ser visto nos meus olhos...
O estranho é que quando eu sei a resposta
Ninguém me pergunta coisa alguma
Claro, é algo que pode ser visto e comprovado
*
Eu mesmo não tenho qualquer dúvida
Acho que ele é algo vivo e brilhante
Que pode ser visto nos meus olhos...
O estranho é que quando eu sei a resposta
Ninguém me pergunta coisa alguma
Claro, é algo que pode ser visto e comprovado
*
Eu mesmo não tenho qualquer dúvida
Sei dizer o que é... O meu corpo sabe
Não é apenas a minha pele, que muda
As minhas palavras
Também mudam, ficam leves
Para a minha surpresa, eu viro poeta
*
Mas não poeta das palavras...
Nunca fui bom com as palavras
Viro poeta dos gestos
O meu olhar ganha um novo alento de vida
E aquela velha sensação de angústia
Que sufoca a alma e mata o coração
Já não existe mais. Sinto-me livre
*
O amor não é uma resposta que se dá com palavras
É uma transformação do corpo e da alma
É como morrer e renascer
É como ser homem e criança, ao mesmo tempo
*
Não é apenas a minha pele, que muda
As minhas palavras
Também mudam, ficam leves
Para a minha surpresa, eu viro poeta
*
Mas não poeta das palavras...
Nunca fui bom com as palavras
Viro poeta dos gestos
O meu olhar ganha um novo alento de vida
E aquela velha sensação de angústia
Que sufoca a alma e mata o coração
Já não existe mais. Sinto-me livre
*
O amor não é uma resposta que se dá com palavras
É uma transformação do corpo e da alma
É como morrer e renascer
É como ser homem e criança, ao mesmo tempo
*
Todavia, miserável de mim! Não fui feito para o amor
Amor, eu acho, é uma questão de fé
Não sei se sou um homem de fé... como poderia?
Fé é como o amor, a gente só sabe que tem
Quando alguém tem fé na gente... Não sei
*
Amor, eu acho, é uma questão de fé
Não sei se sou um homem de fé... como poderia?
Fé é como o amor, a gente só sabe que tem
Quando alguém tem fé na gente... Não sei
*
Enquanto alguém não se dispõe a me amar
Enquanto eu realmente
Não me sinto acolhido e amado
Por mais que diga que me amo
Continuo sem saber o que é o amor
Enquanto eu realmente
Não me sinto acolhido e amado
Por mais que diga que me amo
Continuo sem saber o que é o amor
Sim, é preciso ser
amado
Para saber o que é o amor
A mesma coisa, com certeza, vale para a fé
Se ninguém crê na gente
É difícil crer e amar
Precisamos crer mais nas pessoas...
Mesmo que elas não acreditem na nossa fé
Para saber o que é o amor
A mesma coisa, com certeza, vale para a fé
Se ninguém crê na gente
É difícil crer e amar
Precisamos crer mais nas pessoas...
Mesmo que elas não acreditem na nossa fé
*
Talvez isso seja
parte do mistério
Não é quando a gente se ama
Mas quando a gente é
amado
Que a gente sabe
dizer
O que é o amor
E o que é fé
O que é o amor
E o que é fé
*
Sim, eu não sei
dizer
Nem descrever
O que é o amor
*
Nem descrever
O que é o amor
*
É quem me olha
Quem me ama
Quem crê em mim
Quem me ama
Quem crê em mim
Quem me quer perto
Quem me trata com respeito
Carinho e com atenção
Quem me trata com respeito
Carinho e com atenção
Que diz ao meu coração
E me descreve, sem palavras
Mas com o brilho dos olhos
O o amor é esse fogo
Que arde e queima
Dentro de mim...
E me descreve, sem palavras
Mas com o brilho dos olhos
O o amor é esse fogo
Que arde e queima
Dentro de mim...
*
Oh, querida minha,
vem...
Chegue mais perto
Chegue mais perto
Vem... Desfrute
comigo
Esse instante de eternidade
Esse instante de eternidade
Deus está entre
nós...
Vê... Olhe... Lá longe...
Vê... Olhe... Lá longe...
Até as maiores
distâncias
Que os nossos olhos conseguem ver
Que os nossos olhos conseguem ver
Tudo queima e arde O mundo é uma sarça
ardente...
Tudo está incendiado
pela glória do Senhor
*
Tire as sandálias
dos pés...Desnude a alma, e vem...
Olhe nos meus olhos
– toque a minha face... E me diga:
O que isso, esse rio que corre, que você
vê em mim?
Esse fogo, essa
chama, essa luz que me queima
E me incendeia e me
ilumina...E me faz perder o sono...
O que é isso que
você vê em mim, querida minha?
Vem, mostre-me o que é o amor
Agracie-me com essa dor... Vem!
Vem, mostre-me o que é o amor
Agracie-me com essa dor... Vem!
*
Acaso é isso... Essa
inquietação... Essa satisfação...
Essa alegria... Esse
gosto de eternidade... Esse medo...
Essa coragem, que é
o amor?
*
Ah, então – Deus
meu! – dentro e fora da alma...
Já tenho a resposta... Em cada célula, em cada nervo e tendão
Nas carnes e nos ossos...eu sou, quando sou amado, puro amor...
Já tenho a resposta... Em cada célula, em cada nervo e tendão
Nas carnes e nos ossos...eu sou, quando sou amado, puro amor...
Quando o amor está em mim... Tudo em mim é puro amor
Sim, tudo em mim
está impregnado dessa chama que arde
Que nunca se
apaga... Que nunca se aquieta...
Que sempre se
propaga... Vem! Amada da minha
alma...
Não espere mais... Sente-se aqui comigo...E desfrute junto a mim
Não espere mais... Sente-se aqui comigo...E desfrute junto a mim
Este instante de paz
e calmaria, que Deus nos dá...
*
Porque eu sei que
logo mais, a tempestade vai recomeçar
Dá-me, pois, amada
minha, este momento de alegria
Para que depois,
quando a tormenta rebentar
A minha alma cheia
de recordações tuas, sem naufragar...
Possa suportar ainda
mais um dia...
*
Diga-me, querida
minha – amada da minha alma...
O que isso que você
vê em mim? Acaso isso é o amor?
Ou apenas uma angústia, uma dor disfarçada de amor
Deus meu... Quando eu acordarei desse sonho ruim, a vida?
VBMello
Ou apenas uma angústia, uma dor disfarçada de amor
Deus meu... Quando eu acordarei desse sonho ruim, a vida?
VBMello
20 de março de 2015
A minha alma...
Um lugar verdejante
Um deserto e um mar revolto
Uma noite escura e um céu claro
A minha alma é um ferida aberta
Um leão que ruge
E um rato que foge...
É um grito de vingança
A minha alma é um vulcão em erupção
Um incêndio que ninguém consegue apagar
*
Sim, a minha alma
É o lugar mais perto do céu
É o lugar mais perto do céu
O lugar mais longe
de mim
Que eu, nas noite insones
Sonhando acordado, vou e visito
Sonhando acordado, vou e visito
*
Nela, segundo o meu estado de espírito
Há céus profundos e abismos insondáveis
Há céus profundos e abismos insondáveis
Há recantos de luz, encruzilhadas de trevas
Vazios e bifurcações de escuridão
*
Vazios e bifurcações de escuridão
*
Nela, dependendo do dia
Há paraísos, campos verdejantes
E casas abandonadas
Onde ecoa - ainda
O choro triste e fraco
Da criança morta de fome
Que um dia, sob o olhar de Deus
Eu fui e sofri e quase morri
*
Nela há montanhas
De orações sem resposta
E promessa nunca cumpridas
Esperanças naufragadas
Sepulturas de palavras mortas
E arrependimentos sem fim
A minha alma é uma arma engatilhada
A minha alma geme de fome e sede de justiça
*
Nas noites de pesadelo
Há paraísos, campos verdejantes
E casas abandonadas
Onde ecoa - ainda
O choro triste e fraco
Da criança morta de fome
Que um dia, sob o olhar de Deus
Eu fui e sofri e quase morri
*
Nela há montanhas
De orações sem resposta
E promessa nunca cumpridas
Esperanças naufragadas
Sepulturas de palavras mortas
E arrependimentos sem fim
A minha alma é uma arma engatilhada
A minha alma geme de fome e sede de justiça
*
Nas noites de pesadelo
Eu vejo o fantasma do velho
Que, talvez, eu serei
Chorando e envergonhado
Da vida triste que eu vivi
*
Desde a eternidade
Tarde demais
Eu entendi isso
Que, talvez, eu serei
Chorando e envergonhado
Da vida triste que eu vivi
*
Desde a eternidade
Tarde demais
Eu entendi isso
Antes mesmo
Dessa dor me encontrar
A minha sina já estava escrita
*
O amor é uma ilusão
Que eu busco em vão
Uma vaidade
Que não combina mais
Com a minha idade
*
Amanhã ou depois de amanhã
Se o amor me encontrar
Chão para as suas raízes
Não encontrará
*
A minha alma é um torrão velho
De terra ruim para o amor
Aqui nessa escuridão
A graça não brota
E a esperança
Não frutifica
*
A minha alma é um túnel sem luz no fim
Onde sozinho, nas noites escuras e tristes
Como uma criança em busca do pai
Que a abandonou numa lata de lixo, eu entro
E me perco gritando e buscando - em vão
Pela presença de Deus...
VBMello.
Dessa dor me encontrar
A minha sina já estava escrita
*
O amor é uma ilusão
Que eu busco em vão
Uma vaidade
Que não combina mais
Com a minha idade
*
Amanhã ou depois de amanhã
Se o amor me encontrar
Chão para as suas raízes
Não encontrará
*
A minha alma é um torrão velho
De terra ruim para o amor
Aqui nessa escuridão
A graça não brota
E a esperança
Não frutifica
*
A minha alma é um túnel sem luz no fim
Onde sozinho, nas noites escuras e tristes
Como uma criança em busca do pai
Que a abandonou numa lata de lixo, eu entro
E me perco gritando e buscando - em vão
Pela presença de Deus...
VBMello.
18 de março de 2015
Destino...
Explodir num grito de revolta contra tudo e contra todos
Cansado de cabrestos, exorcizo tudo que me exorciza...
Entre orações e
invocações... A m'alma entra em erupção
Os meu nervos e os meus ossos, estão
à flor da pele
Solto o laço que segura
o ser bestial, que habita em mim
Abro as portas do
inferno...
Há um incêndio incontrolável
em andamento
Mil demônios acordaram,
e estão famintos
A luz e as trevas travam
uma luta
De vida, cansaço, doença e morte
De vida, cansaço, doença e morte
Você consegue ouvir
o tropel dos cavalos
Correndo para a frente de batalha?
Correndo para a frente de batalha?
Ouve o som de aço
das espadas?
Escuta os gemidos das
putas
E os gritos das prostitutas?
E os gritos das prostitutas?
São os gritos e os gemidos dos meus ancestrais
Que lutam e vivem, fantasmas, dentro de mim
Que lutam e vivem, fantasmas, dentro de mim
Sozinho no meio das
chamas das florestas incendiadas da alma
O meu coração se
desintegra em mil pedaços
E o atavismo inevitável
começa no fundo da alma
Num instante de descuido...
A fera que vive oculta dentro de mim
Sob à superfície da minha pele
E sobrepuja o homem que eu sou
A fera que vive oculta dentro de mim
Sob à superfície da minha pele
E sobrepuja o homem que eu sou
Quem me vê agora
Não me reconhece mais
Não me reconhece mais
Rosno... Faminto... Grito...
Imploro
Tarde demais! Grita o
destino... Tarde demais!
Acuado... Forço os
olhos contra a escuridão... Nada!
Até as maiores distâncias
que os olhos enxergam
Tudo é nada... Tudo
é indiferença... Tudo é ingratidão
O ar se enche de ameaças. Um pastorzinho de nada, vem
Mas engole as palavras... Pobre homem fraco
Ele não suporta o meu olhar... Não sabe mergulhar
Tem medo de abismos profundos...
É uma criança com medo do silêncio
O ar se enche de ameaças. Um pastorzinho de nada, vem
Mas engole as palavras... Pobre homem fraco
Ele não suporta o meu olhar... Não sabe mergulhar
Tem medo de abismos profundos...
É uma criança com medo do silêncio
Mas o silêncio é tudo que tenho para ele
E o silêncio é uma navalha que corta a alma
Ele parte, caminha rápido como quem foge do diabo
E o silêncio é uma navalha que corta a alma
Ele parte, caminha rápido como quem foge do diabo
Ferida, a alma se
acalma... Mas nos interstícios
da dor...
Sombras penetram e
se movem na escuridão do coração
Grito... Corro... Mas
não há onde se esconder
Guardo a vingança para um momento apropriado
Guardo a vingança para um momento apropriado
Num ritual de
desespero... Invoco a luz
Mas ainda falta
muito até o dia amanhecer
Paro... Encolho-me
num canto da floresta
Perco-me entre as sombras da noite
Perco-me entre as sombras da noite
Canto para espantar
a dor
Olho pelo buraco da
fechadura
Cães rondam a casa
Está frio... Sinto
fome...
A solidão devora e
apavora
Talvez, agora, prese nesse quarto escuro
Eu seja o homem mais solitário do mundo
Eu seja o homem mais solitário do mundo
E estou tão rodeado
de gente...
Falo sozinho
Faço o sinal da
cruz
Deus meu! Deus meu!
Oh! Miserável de
mim...
Que pobre diabo! Que
pobre diabo!
Faltam-me as forças necessárias
Para enfrentar tão grande danação
Para enfrentar tão grande danação
O meu destino me
desatina...
Essa depressão desgraçada
Sob os meus pés a
areia é movediça
Em sonho... Ouço a
voz da minha mãe
Escuto o riso dos
meus irmãos
Um velho profeta
grita ameaças:
Todos mortos! Todos mortos!
Acordo de repente... Estou sozinho na
voragem do mar
Afundo no nada... As ondas da
tempestade
Me roubam o ar... A minha alma afoga
Me roubam o ar... A minha alma afoga
Mais uma vez estou a
afundar
Você consegue ouvir
o riso dos tubarões?
Ainda sonho?
Talvez eu nunca tenha dormido...
Talvez eu nunca tenha dormido...
Deus, onde estás?
Não quer ser a minha
Mãe?
Não quer ser o meu
Pai?
O céu me parece ser
um lugar tão silencioso... Frio, às vezes
O silêncio e a
escuridão, persistem...
Deus é um ser tão calado...
Eu já esperava
Hoje eu não estou para
conversas telepáticas
Calo-me, também... Mais uma vez
Que o silêncio seja a minha oração
Que o silêncio seja a minha oração
No fundo da minha
alma, num esforço derradeiro
Ergo-me contra o
peso do meu destino
Que venha o céu... Que
venha o inferno
Não me vergo mais
sob o penso
De uma carga que posso evitar
De uma carga que posso evitar
Tenho ainda alguns
versos na alma
Quando a depressão
passar...
Quando a solidão amainar
Quando a solidão amainar
Posso iniciar um
jardim
Nas profundezas do meu coração
Nas profundezas do meu coração
Posso acender uma
fogueira
Do tamanho da minha poesia
Do tamanho da minha poesia
Uma sentença paira
sobre mim...
O deserto não me vencerá
O deserto não me vencerá
Eu levo comigo as
sementes de um jardim florido
Não importa o
desatino... Para o inferno com o destino!
Tudo depende de um
bom destino
Preciso, então, construir
um bom destino
Uma sina ruim, herança dos meus antepassados
Subscreve a morte dos meus sonhos
Subscreve a morte dos meus sonhos
Sonho, então, sonhos
eternos
Mas eles some, quando o dia amanhece
Mas eles some, quando o dia amanhece
Um dia desses
esbarrarei
Numa árvore de luz
então, construirei uma casa
Numa árvore de luz
então, construirei uma casa
Onde colherei frutos
e sementes
E plantarei na minha
alma um jardim
Para iluminar a escuridão
do meu mundo
De repente, uma mão
pousa no meu ombro
Talvez um anjo...Talvez um demônio, que
finge ser anjo
Oh, meu Deus! Como é fácil se
enganar sobre si mesmo
Como é fácil ser traído
pelo próprio coração
Tolo! Guarda as suas
esperanças
O amanhã será só o
hoje que se repete...
Aceita o seu
destino... Sê homem!
VBMello17 de outubro de 2014
Tempo morto
Das coisas que eu queria antes
Não quero mais nada
Dos sonhos que sonhei
Não sonho mais
O que me encantava
Não me encanta mais
Velhas recordações
Tempestades
Tempestades de sentimentos
A revolta, a fúria, a tristeza
Mesmo depois de tanto tempo
Fecho os olhos e finjo
Mas não é coisa fácil
A minha mente se engana
Mesmo quando é dia claro
Lá fora... Vejo pela fresta da janela
Faço uma fogueira... Ateio fogo
Não quero mais nada
Dos sonhos que sonhei
Não sonho mais
O que me encantava
Não me encanta mais
Velhas recordações
Tempestades
Ondas que reviram
Saudades e dores
De um tempo morto
Perambulam - ainda vivas
Pela superfície tempestuosa
Dessa minha velha alma triste
Tempestades de sentimentos
Que ressuscitam e desenterram
Outros sentimentos esquecidos
E avivam lembranças mortas
Marcadas e sublimadas
De antigas feridas
No corpo e na alma
E trazem à memória a sombra
De antigas noites de angústias sem fim
A revolta, a fúria, a tristeza
As perdas, as humilhações
A indiferença e a zombaria
Nada me humilha mais
O corpo e a alma agonizam
Sob o fardo dessas recordações
A realidade nua e crua
É exaustiva demais
Para o meu fraco coração
Mesmo depois de tanto tempo
Tempo suficiente
Para um menino descalço
Virar homem feito
As ferida ainda estão abertas
E as recordações ainda
São tão insuportáveis
Que eu prefiro pensar
Que tudo foi um sonho
Fecho os olhos e finjo
Que aquelas são dores
Que nunca aconteceram
Mas não é coisa fácil
Enganar a si mesmo
Nada mais dolorido
do que enganar a si mesmo
E mesmo assim, apesar de tudo
Nada mais necessário
A minha mente se engana
Mas o meu corpo - velho sofredor
Não se deixa mais convencer
Pelas mentiras repetidas
Que a minha consciência
Conta para a minha alma
Mesmo quando é dia claro
Levo comigo, a escuridão da noite
O passado dolorido, ainda está comigo
Não há como mentir sobre isso
Lá fora... Vejo pela fresta da janela
O sol brilha num céu azul aguado
O dia está amanhecendo
É a pior hora do dia
Escuto alguém rindo
Encolho-me num canto
Cubro a cabeça
Tapo os ouvidos
Faço cara de desprezo
Tudo me incomoda
Tudo me aborrece
Nas profundezas do meu coração
Um vulcão ameaça-me
Com a fúria das suas erupções
Dou de ombros... Que se dane
A minha alma já entrou em erupção
Outras tantas vezes, e nada mudou
Mostro-lhe o dedo médio em riste
Filho da puta! Quase grito, mas me contenho...
Não sou homem de xingamentos
Sou homem de tormentos calados
Perdoem-me o desabafo
Ora, vá para o inferno!
Ao entrar, deixa lá fora
A piedade e a compaixão
Estou além desses mesmices
Metade sonho
Metade pesadelo.
Um ser triste
Metade vida
Metade morte
Habita dentro de mim
Narciso que se enamora
E se devora...
Lá fora, bandos de pardais se amontoam
Nos galhos tortos de uma árvore velha
Que sem nunca ter produzido uma flor
Ou sequer um fruto mirrado
Sofre e morre - bem na frente da minha janela
Tenho uma grande compaixão
Por essa miserável árvore estéril
Somos tão iguais... Somos filhos do mesmo nada
Metáforas um do outro... Eu a plantei
Como eu, ela foi uma criança viva e feliz
Mas então, algo aconteceu... Agora secamos e morremos
Abraçados um na sombra do outro... Espinheiros recíprocos
Oh, meu Deus! Como um rato trancado
Dentro de uma caixa escura... Apreensivo
O coração salta pesado de ansiedades
Ouço janelas que batem e portas que rangem
Ouço vozes e passos... É a pior hora
A tristeza vem e me abraça... E me consola
Meu espirito agoniza e chora
Indiferente... Sem me levar com ela
A vida segue cega e surda
Mostro-lhe o dedo médio ereto
Grito-lhe um palavrão
E viro-lhe as costas
Que vá para o inferno!
sim, que vá para o inferno
Indiferente, a natureza não para
Diante das ondas de um mar cristalino
Flores desabrocham no jardim
Belezas e ritmos que sobrecarregam
A minha alma de melancolia
O mar tão belo e verde
Quebram mansamente na areia da praia
Não me importo... Hoje não é dia de praia
Não me importa o chamado do mar
Hoje o meu destino é a solidão do deserto
Carros passam melancólicos... A vida segue
A depressão, mais uma vez, me esgota
Deus meu, onde está? Não chegou aí no céu
Nem uma só das minhas orações?
O som de uma TV invade
As profundezas da minha alma
Instintivamente fecho na cara do mundo
As portas dos meus abismos
Estou só... Hoje não quero ver TV
Sim, estou só, completamente só
Embora haja gente do meu lado
Eu já era para estar acostumado
Mas não estou...
Fui gestado há dez mil anos atrás
Num útero cheio de cacos de vidro
Vergonha... Raiva... Decepção
O coração clama por vingança
A minha casa é o lugar mais longe do mundo
Um lugar onde tudo morre, animais, plantas e sonhos
Agora, nesse momento esperança que eu ainda tinha
Se transformou em forte ânsia de vômito
Preciso vomitar essa raiva...
Imaturidade! Imaturidade! Imaturidade!
Grita uma voz sofrida dentro de mim...
Imaturidade! Imaturidade! Imaturidade!
Recolho-me num canto escuro
A escuridão me faz bem
Dentro e fora da alma
O silêncio é tudo que há
Hoje não quero conversa
Já que não tenho direito
De dizer coisa alguma
O dedo médio, sempre em riste
É a minha defesa contra as dores da vida
Uma porta se abre...
Se dentro ou fora da minha alma, não sei dizer
Deito-me e viro a cara para a parede... Fecho os olhos
Acordado, quase durmo... Rolo na cama de um lado para outro
A noite chegou e eu nem vi... Pesadelos me sufocam
Meus olhos ardem de insônia... Diante de mim... Oh,
horror
Os fragmentos da minha vida, amontoam-se
Como os restos de um naufrágio
Ah, esqueci de dizer... Estou de partida para uma longa
viagem
Fecho os olhos e arrumo as minhas coisas
Vou por caminhos estreitos
Por onde se anda melhor sozinho
De olhos fechados e coração aberto
Não levo bagagem nem dinheiro
Levo apenas a minha alma... E mais nada
Deixo-me para trás... E sigo sozinho
Livre até de mim mesmo
Vou pelo caminho das estrelas
Levo fomes que anseiam por instantes de saciedade
Não levo esperanças, só algumas ilusões
Não levo, nem deixo saudades
Recolho e amontou na areia
Os restos do naufrágio da minha vida
Restos de sonhos e pedaços de desejos
Fragmentos de vontades abortadas
Refugos de vida... As vergonhas vividas
As mesmas humilhações, mil vezes sofridas
O passado, o futuro - e o agora... Tudo
Faço uma fogueira... Ateio fogo
A carne queima, o sangue congela
As chamas se elevam ao céu
Que me chama
Que me reclama
Tarde demais! Tarde demais! Grito
A minha vida queima e os meus sonhos
Se desfazem em cinzas... O meu coração agoniza
Sacrifico tudo em holocausto a Deus
Em torno dessa fogueira das vaidades
Danço uma dança macabra... Danço grito, choro...
Rolo no chão... Morro... Renasço... Torno morrer
E assim vou morrendo, até desanimar de ressuscitar
Capturado pela parte sombria da vida
Tombo diante do nada de uma vida desistida
Minha mãe ri... Meus irmãos zombam
Meus filhos... miseráveis... morreram todos
E eu morri com eles... E nenhum deles renasceu
Agora sou alma que vaga sem destino
Sou sombra que segue pelo caminho estreito
Sou a vida que se perdeu no colo da mãe
Sou o suicida indeciso parado na beira do abismo
A espera de um milagre? Mas milagres não existem mais
Sou Adão seduzido pela Eva seduzida
E a serpente gargalha desse meu espetáculo medíocre
Sou abismo desejante de altura... Sou morte desejante de
vida
Sou anjo caído – traído... Sim
Chamam-me anjo caído, os meus inimigos
Todavia, nada sabem de mim... Nada sabem de anjos
Dizem que estou morto... Mas nada sabem da morte
Ah! Num momento de liberdade
O coração parou... aquietou
Agora eu durmo profundamente... , e sonho
Então é que eu vivo... Um anjo vem e me toma pela mão
Zomba de mim, certamente... E me leva pelos seus caminhos
de luz
Finjo que vou com ele... Cruzamos estrelas...
Cruzamos mundos... Cruzamos céus... Tropeçamos na
eternidade
Desço com ele até os confins da minha imaginação
Busco a mim mesmo..., nele... que me busca
Ele me olha dentro dos olhos
Por breve momento, coisa estranha, vejo-me nele
Mas ele não se vê em mim... Como poderia?
Somos anjos de natureza diferente
O maldito som do relógio
Me desperta dessa minha ilusão
Ouço som de pássaros cantando
Escuto vozes... É a pior hora do dia
O dia está amanhecendo... Levanto-me...
É dia... Mais um dia, mas não outro dia
A vida chama
Preciso correr
Para não morrer
Estou atrasado - de novo
Ponho os pés na rua
O meu coração estremece
A multidão me envolve
Forço as vistas, firmo os olhos
E procuro sem encontrar
Até as maiores distâncias que posso ver
Não vejo anjos... Vejo apenas lobos de outros lobos
Serpentes que rastejam ao meu redor... E isso é tudo
E somente então, por breve instante
É que me dou conta de que me tornei
Um homem quase triste... Quase morto... Quase feliz
VBMello
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